Bloomberg — O fundador do SoftBank, Masayoshi Son, quebrou um silêncio de sete meses e declarou em uma reunião emocionante com acionistas que voltará à ofensiva no investimento em tecnologia em breve, buscando estabelecer suas credenciais no crescente campo da Inteligência Artificial (IA).
O bilionário disse que vai encerrar anos de “hibernação” depois que seu Vision Fund, o maior pool de capital para investimento em empresas de tecnologia do mundo, acumulou bilhões de dólares em perdas à medida que o boom da internet na era da Covid diminuiu e uma crise global minou os valuations.
“Desde outubro [passado], tenho me perguntado quantos anos me restam”, disse o executivo-chefe de 65 anos aos acionistas na reunião anual na quarta-feira (21). “Houve momentos em que me senti tão vazio. ‘Isso é o suficiente? É isso?’ Eu chorei e chorei e não consegui parar de chorar por dias.”
Son, que fez uma das apostas mais lucrativas na história do investimento em startups quando financiou Jack Ma e o Alibaba Group (BABA), busca deixar um legado comparável ao de Steve Jobs, da Apple (AAPL).
O Vision Fund, lançado em 2017, foi uma chance de fazê-lo, mas erros importantes como a aposta na WeWork (WE) mancharam a sua reputação. Aproveitar o potencial revolucionário da tecnologia de IA oferece uma chance de redenção.
“Eu queria me tornar um arquiteto para construir o futuro da humanidade. Posso não conseguir tudo - eu mesmo, como indivíduo, posso não ser suficiente - mas quero desempenhar um papel, até certo ponto, de alguma forma “, disse ele. “Chegou a hora de mudar para o modo ofensivo.”
O SoftBank freou os novos investimentos e passou a jogar na defesa no ano passado - quando Son passou as funções operacionais para o CFO Yoshimitsu Goto. O CEO então disse que cometeu erros ao se empolgar com novas tecnologias e empresas, ignorando bons conselhos do SoftBank.
Na quarta-feira, após cinco trimestres consecutivos de perdas do Vision Fund, o mesmo otimismo febril era aparente na maneira como Son falava da IA como o elemento fundamental da sociedade futura.
“Quando seus netos tiverem a nossa idade, acredito que eles viverão em uma realidade em que o computador é 10.000 vezes mais inteligente do que a soma de toda a sabedoria humana”, afirmou. Son disse que pretende continuar administrando o SoftBank e não encontrou um sucessor. “Estou me divertindo demais.”
O retorno do Vision Fund ao campo de jogo é uma boa notícia para um ecossistema de startups cujos maiores players, da Uber Technologies à Coupang - a Amazon da Coreia do Sul -, cresceram graças ao financiamento constante do grupo japonês.
A empresa destaque do portfólio do SoftBank agora é a britânica Arm, que atua com a atividade de design de chips que Son argumenta que é fundamental para a IA. A Arm está agora a caminho de uma das maiores ofertas públicas iniciais (IPOs) deste ano.
Graças à sua longa hibernação, o SoftBank agora tem dinheiro suficiente para investir novamente, disse Son. A Arm está no início de um período “explosivo” de crescimento, afirmou, acrescentando que passou os últimos anos dobrando o número de engenheiros da companhia.
As ações do SoftBank fecharam em alta de 3,7% na quarta após a reunião. As ações valorizaram mais de 30% no trimestre de junho, caminhando para seu melhor desempenho trimestral em três anos.
O SoftBank já é indiscutivelmente o maior investidor de Inteligência Artificial do mundo, e o uso de IA ajudaria seus negócios no Japão em negócios como buscas, mensagens e pagamentos, disse Richard Kaye, gestor de portfólio da Comgest Asset Management, investidora de longa data do SoftBank. “As pessoas estão apenas procurando por recompras... mas a história do SoftBank é muito mais do que isso.”
As perspectivas para o IPO da Arm se iluminaram recentemente, impulsionadas pelo hype em torno da IA generativa e conversas com potenciais investidores-âncora, incluindo a Intel (INTC). A Arm tenta levantar até US$ 10 bilhões, informou a Bloomberg News, e as corretoras estão revisando suas metas de preço das ações do SoftBank.
Os acionistas aprovaram a nomeação do CEO da Arm, Rene Haas, para o conselho do SoftBank para substituir Kentaro Kawabe, presidente do conselho da empresa de buscas japonesa Z Holdings.
Um dos maiores erros de Son pode ter sido sua decisão de vender a participação do SoftBank na fabricante de chips americana Nvidia (NVDA) por US$ 3,6 bilhões no início de 2019. Essa participação de cerca de 5% valeria mais de US$ 50 bilhões agora. Mas o CEO, que sobreviveu ao estouro das “pontocom” nos anos 2000, brinca que até mesmo as perdas do Vision Fund estão “dentro da margem de erro”.
Das cerca de 500 empresas em que o SoftBank investiu, várias têm o potencial de atingir avaliações de um bilhão de dólares ou mais, disse Son. “Se você tiver um ou dois sucessos esmagadores, eles compensarão todos os erros.”
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