Quanto vale a sua íris? Para a startup do fundador da OpenAI, R$ 740 no Brasil

A World, de Sam Altman, começou a escanear a íris em São Paulo: havia fila com dezenas de pessoas em um shopping na zona leste na quarta (13) à tarde, segundo testemunhou a Bloomberg Línea

Worldcoin
14 de Novembro, 2024 | 07:47 PM

Bloomberg Línea — A World, startup do bilionário Sam Altman, cofundador da OpenAI, começou nesta semana a escanear a íris de brasileiros oferecendo em troca uma quantia em tokens equivalente a cerca de R$ 740, como testemunhou a Bloomberg Línea em um shopping center na cidade de São Paulo.

Segundo a startup, o projeto tem como objetivo treinar a tecnologia para prevenir o uso de bots por meio de novas ferramentas de segurança, o que aumentará o acesso à economia digital.

O escaneamento de íris é uma tecnologia de reconhecimento biométrico.

O projeto é considerado controverso por especialistas em legislação de proteção de dados pessoais.

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A World, por sua vez, diz que as imagens ou os códigos da íris não são revelados ou vendidos a terceiros. O serviço, disponível apenas para maiores de 18 anos, envolve riscos para a privacidade, como o uso indevido de dados biométricos, e para a segurança, como a vulnerabilidade a ataques cibernéticos e acesso não autorizado de plataformas com informações pessoais.

Na quarta-feira (13), Bloomberg Línea visitou a unidade da World aberta no shopping Boulevard Tatuapé, na zona leste da capital paulista, onde estão os chamados Orbs, dispositivos capazes de escanear a íris para gerar um código único, o World ID, uma espécie de identidade global.

No início da tarde desse dia, havia uma fila de pessoas que aguardavam o momento de ficar diante das pequenas esferas de metal que registram imagens do rosto e da íris.

“As imagens originais da íris são criptografadas de ponta-a-ponta, enviadas para o telefone da pessoa e prontamente deletadas do Orb”, afirmou a World em uma nota à imprensa.

World App mostra o valor disponível após escanear íris

Funcionários da startup orientavam os usuários sobre os procedimentos para realizar a biometria da íris, como baixar o app da companhia, gerar um QR Code exigido para o registro e fazer a ativação do serviço, que funciona como uma wallet de tokens, chamados de Worldcoins.

Um folheto é entregue ao usuário com explicações sobre as ferramentas e a política de privacidade, como a opção de compartilhamento de dados.

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“O World ID, a prova digital de humanidade, é armazenado em seu celular, permitindo que você comprove anonimamente que é humano ao usar serviços online e aplicativos como Discord, Telegram, Shopify e Reddit e vários mini apps no World App”, explica a empresa no material.

O app serve ainda para localizar onde estão os Orbs e marcar o horário da leitura da íris.

Além do Shopping Boulevard Tatuapé, o app aponta outros nove pontos de verificação da íris na capital paulista: os shoppings Center Lapa e Vila Olímpia e endereços de rua nos bairros de Bela Vista, Bom Retiro, Pinheiros, Vila Mascote, Ipiranga, Penha e Jardim Brasília.

“Humano verificado, certificado pela Orb” é o selo exibido no início do app alguns segundos depois do escaneamento da íris.

A startup diz que seu objetivo é ajudar na distinção entre humanos e robôs criados por inteligência artificial, com a proposta de substituir o Captcha, uma prévia verificação visual com uso de uma imagem, presente em diversos sites para determinar se um usuário é realmente humano, e não um bot.

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O design do app lembra uma carteira digital e aponta que a criação de uma comunidade global unida pela identificação biométrica pode impulsionar o mercado do token Worldcoin (WLD).

Após a conclusão da leitura da íris pelo Orb, o app mostrou o saldo da carteira com 53,85 unidades de Worldcoin, o que totalizou R$ 739,51 na quarta-feira à tarde. O valor segue a cotação em dólar do Wordcoin. Nesse quinta-feira (14), o WLD caiu 3,80%.

Para sacar o valor exibido no World App é possível usar o Pix, por meio do número do CPF e de um endereço de e-mail.

O saldo total de Worldcoin, no entanto, não está disponível imediatamente após a leitura da íris. O app indica uma contagem de 29 dias para liberar parte desse valor, em um intervalo mensal. Também é possível ao usuário comprar tokens se assim desejar.

“Uma rede de humanos reais, propriedade da humanidade” é o mote usado no World App para apresentar a rede mundial que se propõe a construir com o apelo do registro da íris.

O app diz que atualmente mais de 16,3 milhões de “humanos” compõem essa comunidade.

Por outro lado, existem 3.828 Orbs em operação em 510 localizações ao redor do mundo, com 228 países visitados. Para realçar a ambição do projeto, o app diz que a cobertura de sua rede se estende por mais de 160 país, seis continentes e “um planeta”.

um dispositivo personalizado de última geração, similar a uma câmera de alta resolução, que verifica de forma privada e segura a humanidade e a singularidade de cada pessoa, usando um código obtido de uma fotografia de alta resolução do olho.

No app há ainda a opção “Cofre”, em que o usuário pode investir em Worldcoins, oferecendo um rendimento de 10%, mas os saques têm um período de três dias para serem efetivados.

“O Cofre Worldcoin permite que você aumente seus fundos ao obter rendimentos, fornecendo uma maneira segura e eficiente de economizar WLD. Os rendimentos só podem ser obtidos nos primeiros 500 WLD dentro do Cofre”, informa o app.

Fiscalização no Brasil

A ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados) informou, em nota enviada à Bloomberg Línea, que instaurou na segunda-feira (11) um processo de fiscalização “com o objetivo de obter mais informações da empresa World sobre o relançamento do projeto que visa escanear a íris humana para verificação de identidade a fim de avaliar a sua conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais - LGPD.”

Na tarde da última terça-feira (12), membros da equipe de fiscalização da ANPD reuniram-se virtualmente com representantes da empresa, que expuseram uma visão geral do projeto, responderam a algumas perguntas e receberam formalmente um ofício da ANPD com o pedido de informações.

Em seu site, a World diz que o usuário tem “controle incomparável sobre suas informações”, o que inclui a chamada “custódia pessoal”. Segundo a empresa, isso significa que todas as informações geradas no Orb quando o usuário verifica seu World ID (imagens, metadados e dados derivados, incluindo o código da íris) são mantidas no seu dispositivo.

“Nem a World Foundation nem a Tools for Humanity podem descriptografar os arquivos criptografados quando eles estão passando por seus servidores para chegar ao seu telefone. O sistema foi concebido para manter os dados seguros, mesmo no caso de o celular ficar comprometido”, diz a empresa.

A Tools for Humanity é uma empresa de tecnologia que desenvolve ferramentas para a World e que conta com mais de 200 desenvolvedores, cientistas, engenheiros, designers, economistas e outros operadores.

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A World, por sua vez, já esteve no alvo de órgãos reguladores de países como França, Alemanha, Espanha, Argentina e Hong Kong.

A startup disse que o World ID usa um protocolo de código aberto conhecido como Semaphore que indica que os dados não podem ser rastreados nem relacionados à identidade de uma pessoa ou às verificações em outras aplicações.

O que diz a World Foundation

Em nota enviada à Bloomberg Línea, a World Foundation disse que busca estar em conformidade com todas as leis e as regulamentações relevantes que regem o processamento de dados pessoais nos mercados onde opera. Isso inclui a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.

“A World e seu principal produto, o World ID, estão criando as ferramentas de que a humanidade precisa para se preparar para a era da IA, potencializando indivíduos com acesso a sistemas financeiros e oportunidades que, de outra forma, não teriam, e, ao mesmo tempo, preservando a privacidade individual”, disse a empresa de Sam Altman na nota.

A World Foundation acrescentou que dá alta prioridade ao engajamento com indivíduos e organizações para responder a quaisquer perguntas que possam ter e garantir a transparência” em suas operações.

“Não é incomum que ideias inovadoras e novas tecnologias levantem questionamentos. Acreditamos que é importante que os reguladores busquem informações ou esclarecimentos sobre suas dúvidas”, disse.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.