Prosus, liderada por Fabricio Bloisi, acerta compra da Decolar por US$ 1,7 bilhão

Holding de investimento de empresas de tecnologia prevê a integração da plataforma de viagens com foco em LatAm com outras investidas do grupo, como o iFood, com sinergias em tech e cross-sell

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Bloomberg Línea — A Prosus, holding global de investimento em empresas de tecnologia, acertou um acordo para a compra integral da Decolar (Despegar em seu país de origem na Argentina), uma das maiores plataformas digitais de viagens da América Latina, por US$ 1,7 bilhão, segundo comunicado ao mercado nesta manhã de segunda-feira (23).

O valor por ação representa um prêmio de 33% sobre o preço de fechamento da última sexta-feira (20) da Despegar na NYSE e de 34% sobre a média pelo volume dos últimos 90 dias, segundo o comunicado.

Neste ano, as ações subiram cerca de 60%, mas ainda estão abaixo do patamar de recorde histórico que alcançaram em 2018. Nesta segunda, os ganhos superaram 30% nas negociações antes da abertura da sessão à vista diante da notícia da venda para a Prosus.

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Fundada na Argentina em 1999, nos tempos do primeiro boom da internet no mundo, a Decolar não só sobreviveu ao estouro da bolha no ano seguinte como se consolidou com o tempo em uma das principais plataformas online de viagens da América Latina.

A empresa conta com ampla presença nos maiores mercados: Brasil, México, Argentina, Chile e Colômbia representam 95% do volume bruto de reservas, que devem chegar a US$ 5,6 bilhões neste ano de 2024.

As receitas devem encerrar o ano em cerca de US$ 761 milhões, e o Ebitda - métrica de geração de caixa operacional -, em aproximadamente US$ 170 milhões.

A Despegar tem mais de 700 mil hotéis em todo o mundo que oferecem reservas por meio de sua plataforma, além de mais de 250 companhias aéreas e mais de 190 locadoras de veículos.

Sinergias e cross-sell com o iFood

A Prosus, liderada desde julho pelo brasileiro Fabricio Bloisi, disse que a aquisição da Despegar reforça a tese de ecossistema de negócios relacionados a lifestyle na América Latina, citando outras empresas que integram seu portfólio, como o iFood, o iFood Pago, a OLX e a Sympla.

Essa plataforma integrada conta com cerca de 100 milhões de clientes, perto de US$ 20 bilhões em GMV (volume bruto de mercadorias transacionadas), mais de US$ 500 milhões em Ebit e “fortes sinergias”, o que cria a oportunidade de “criar a primeira oferta negócios ‘AI first’ da região”.

Entre os exemplos citados de sinergias está a oferta de pacotes de viagens da Decolar para a base com cerca de 80 milhões de clientes do iFood no Brasil, o que inclui o acesso a promoções e combos.

A Despegar também poderá se valer da base tecnológica - modelos de IA, analytics etc. - do iFood, que, ao longo dos últimos anos, desenvolveu uma das plataformas consideradas mais avançadas do mercado.

A plataforma de viagens poderá também oferecer serviços financeiros - braço de fintech -, de e-commerce local e experiências por meio de verticais de negócios já presentes no portfólio da Prosus.

Desde que assumiu o comando da Prosus, Bloisi tem sido vocal em defender o que aponta como poder transformacional do uso de IA (Inteligência Artificial) nos negócios do seu portfólio.

“O que eu acho que podemos fazer como Prosus é garantir que o desempenho excepcional em IA esteja sendo implantado em todos os nossos mercados - na Índia, na Europa, na África, na América Latina e na Ásia. É uma oportunidade muito grande. Nossa empresa vai mudar completamente”, disse Bloisi em entrevista à Bloomberg News em novembro.

“Cada pessoa que trabalha na Prosus deve usar a IA diariamente para ampliar seu trabalho”, disse o executivo e empreendedor brasileiro, um dos fundadores da Movile e que atuou como CEO do iFood até maio, antes de abrir mão do cargo para liderar a holding global de origem holandesa.

A transformação dos negócios da Prosus, segundo os planos de Bloisi - recém-eleito uma das 100 Pessoas Inovadoras da América Latina em 2024 pela Bloomberg Línea -, vai permitir que a holding dobre o seu valor de mercado atual de US$ 100 bilhões nos próximos anos.

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A Despegar, por sua vez, atravessa um de seus melhores momentos, segundo contou o CEO, Damián Scokin, que lidera a companhia desde 2017, em entrevista exclusiva à Bloomberg Línea em março deste ano.

“Alcançamos níveis de crescimento e penetração em nossos principais mercados, México e Brasil, que nunca tínhamos alcançado antes. São mercados que se ordenaram muito competitivamente e são muito mais racionais no pós-pandemia”, disse Scokin na ocasião.

Na entrevista ao editor Francisco Aldaya, Scokin explicou os fundamentos do momento único de crescimento da Despegar.

“A Despegar foi extremamente disciplinada ao longo desses anos na gestão de custos. Todos os indicadores de custos hoje são muito mais eficientes do que antes da pandemia. Isso permite, com o aumento do volume de vendas e da receita, manter os custos fixos”, afirmou o executivo.

“E isso se traduz em um aumento muito maior de nossa rentabilidade. Temos uma plataforma, uma base de custos, que é escalável. Não precisa aumentar para aumentar o volume.”

A aquisição, que ainda precisa de aprovação de autoridades regulatórias nos diferentes países de atuação da Despegar, será efetiva com pagamento em dinheiro. A previsão do closing é para o segundo trimestre de 2025.

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