Palo Alto — O Mercado Livre, uma das empresas que mais desenvolvem e investem em tecnologia na América Latina, ainda não enxerga um quadro em que a inteligência artificial leve à redução de empregos. Pelo contrário.
“Temos muitos projetos e o desafio vem sendo contratar desenvolvedores suficientes para desenvolver tecnologia”, disse Stelleo Tolda, cofundador do Mercado Livre, em entrevista à Bloomberg Línea durante o Brazil at Silicon Valley, evento organizado por alunos brasileiros das Universidades Stanford e Berkeley na Califórnia.
A empresa (MELI), que prevê um investimento recorde de R$ 23 bilhões no Brasil neste ano para crescer seus negócios de comércio eletrônico, logística e pagamento, tem usado a IA para auxiliar desenvolvedores em projetos de tecnologia, disse Tolda.
Leia mais: A estratégia do Mercado Livre ao entrar em streaming. E não é desafiar a Netflix
O empreendedor e executivo deixou o dia-a-dia da companhia há dois anos, depois de mais de duas décadas à frente das operações da maior empresa de tecnologia da América Latina.
Tolda disse que a IA tem aplicações práticos para a companhia na área de atendimento e no motor de pesquisa. “Também estamos IA usando com os nossos vendedores da plataforma. Hoje, eles não precisam responder as perguntas dos compradores. Desenvolvemos uma ferramenta para que eles possam fazer isso de forma automática”, disse.
Segundo Tolda, a tecnologia não impactou, por enquanto, o quadro pessoal. “Temos inclusive contratado mais.”
A companhia tinha mais de 20.000 funcionários diretos ao fim de 2023.
“Usamos o Copilot [ferramenta do GitHub, da Microsoft] no desenvolvimento e isso tem melhorado muito a nossa produtividade. Temos muitos projetos e o desafio vem sendo contratar desenvolvedores suficientes para desenvolver tecnologia. O uso da inteligência artificial também nos beneficia nesse sentido de tornar mais eficiente”, disse o cofundador do Mercado Livre.
Segundo ele, “hoje ainda não vivemos essa fase de diminuir o número de pessoas, mas pode ser que isso venha a acontecer no futuro”.
Ele ainda afirmou que a empresa desenvolve tecnologia própria desde o início da nossa história.
“Neste ano completamos 25 anos, sempre com o foco na América Latina. Temos tido concorrentes do mundo todo nesses anos e estamos usando a inteligência artificial desde antes se tornar uma moda.”
Segundo relatório do Itaú BBA nesta segunda-feira (8), o Mercado Livre deve registrar um ganho modesto de margem no primeiro trimestre de 2024 (em comparação com outros trimestres recentes). Analistas do banco de investimento esperam um crescimento sólido, embora desacelerado, na receita, com um avanço do GMV (volume bruto transacionado na plataforma) de 25% na base anual.
“Apesar da contínua monetização do ecossistema, esperamos que investimentos na plataforma e ventos contrários macroeconômicos na Argentina permitam apenas um modesto ganho na margem EBIT (190 pontos-base em relação ao ano anterior), para 13,1%”, disse Thiago Macruz no relatório.
Leia também
Mercado Livre mira expansão de equipe e logística com investimento de R$ 23 bi
Como saímos da garagem a US$ 14 bi em receita, conta fundador do Mercado Livre
