‘O momento é de investir, não de vender’, diz Paulo Passoni, do Valor Capital

Em entrevista à Bloomberg Línea, sócio de gestora americana com foco em startups brasileiras defende que fundos segurem a pressão atual de investidores pela devolução de capital

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Bloomberg Línea — O momento atual no mercado de venture capital (VC) é de investir em startups, e não de venda de participações. É o que defende um dos mais experientes investidores dessa indústria, Paulo Passoni, managing partner no Valor Capital Group, gestora americana de capital de risco.

“Vai chegar um momento em que será a hora de vender, mas não é agora”, afirmou Passoni em entrevista recente à Bloomberg Línea durante o evento FII Priority no Rio de Janeiro neste mês.

Pressões pela devolução de capital (Distributed to Paid-In Capital ou DPI) por parte de investidores não deveriam forçar a venda de ativos antes do momento mais adequado, segundo ele.

“Essa pressão por DPI é uma oportunidade para quem vai comprar”, disse. “Eu entendo que existem LPs [Limited Partners, que são investidores institucionais que fornecem recursos para fundos de VC] que pressionam gestores para distribuir o dinheiro de volta. Mas somente as melhores empresas recebem ofertas, e essas ofertas não são boas”, disse o sócio da Valor Capital.

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“No fundo você está jogando contra seu próprio time ao forçar essa DPI.”

Passoni entrou para o Valor Capital Group em 2023, depois de cumprir um garden leave na sequência de sua saída do SoftBank, em que atuou como managing partner para os fundos para a América Latina.

Em sua passagem pelo grupo japonês que foi o mais atuante investidor de tecnologia na virada da década, Passoni ajudou a ampliar o time dedicado à região de 7 para 60 profissionais e a montar ou gerir um portfólio que incluiu unicórnios - startups com valuation igual ou superior a US$ 1 bilhão - como VTEX, QuintoAndar, Afya, Creditas, Olist, CRM & Bonus e Loggi, entre outras.

Antes do SoftBank, Passoni foi o managing director responsável por mercados emergentes na Third Point, o hedge fund fundado e comandado por Dan Loeb.

Na entrevista à Bloomberg Línea, ele disse que fundos que atuam no mercado secundário têm ampliado a sua atuação e garantido liquidez aos LPs com a compra de empresas.

“Entendo que esses fundos devem existir, eles ajudam a dar liquidez no mercado privado. Mas essa pressão exercida por LPs não é boa para eles mesmos, na minha opinião. Isso [essa pressão] tem acontecido para todo mundo. Eu luto contra esse efeito, pois não é hora de vender”, reforçou.

‘Enxurrada de IPOs’

Passoni avaliou as perspectivas para saídas por meio de ofertas públicas iniciais.

“O mercado de IPO está fechado porque ainda não está claro a direção dos juros americanos. No momento em que o juro cair, o mercado vai reabrir. Haverá uma enxurrada de IPOs no mundo inteiro, do portfólio do Valor inclusive. Muitas [startups] estão prontas. Estão se preparando, pois demora um ano e meio para se preparar para um IPO”, disse.

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Desde que foi fundada por Scott Sobel e Clifford Sobel em 2011, o Valor Capital Group tem se concentrado em conectar investidores dos EUA com startups da América Latina.

A gestora americana tem aproximadamente US$ 1,5 bilhão em ativos sob gestão. Em seu portfólio estão - ou já passaram - startups globais e, em particular, da América Latina, como Coinbase, Stone, CloudWalk, Bitso, Betterfly, Loft, Kanastra, Gupy, Olist, Revelo e Sami.

Assessoria para atuação global

A recente contratação de Dan Schulman, ex-CEO do PayPal, como managing partner fortaleceu a atuação, com a expansão do foco para ajudar empresas americanas a entrarem no mercado latino-americano e vice-versa. Passoni citou a Coinbase como um exemplo de sucesso dessa estratégia, além da Cloudwalk.

“A Cloudwalk está lançado o Jim nos EUA e o Dan está bem próximo do Luis Silva [fundador e CEO da startup] para assessorar e fazer que a chance de dar certo seja a mais alta possível”, disse.

Questionado sobre a tese de investimentos em criptomoedas, o executivo disse que o curso foi alterado para “B2B Blockchain”.

“A infraestrutura para mercado de capitais e bancos vai rodar em trilhos de blockchain que são globais, conectados, e o mundo de finanças vai mudar completamente por causa disso”, disse.

Interesse do Oriente Médio

Passoni comentou sobre a crescente importância do Oriente Médio como investidor com alcance global.

Em sua avaliação, o Oriente Médio tem deixado de ser visto como um mercado emergente e se aproxima do status de nações desenvolvidas. “Eles estão evoluindo muito rapidamente e não olham para o Brasil da forma pejorativa como outros lugares. Olham como oportunidade”, disse.

Ele destacou que investidores do Oriente Médio estão cada vez mais interessados em entender os fundamentos das empresas brasileiras nas quais o Valor investe - são dezenas, de acordo com informações em seu site. O Valor tem um fundo soberano do Oriente Médio, não divulgado, como LP.

Passoni apontou que há razões que explicariam o aumento da relevância da região no mundo. “O Oriente Médio hoje representa o que a Suíça foi no passado. Um lugar neutro, que não se posiciona de nenhum lado, e isso permite que eles conversem com todo mundo.”

“Estamos muito felizes que já temos um investidor do Oriente Médio. Também procuramos outras parcerias e talvez empresas brasileiras que possam atuar na região, ou empresas do Oriente Médio que possam atuar no Brasil e assim por diante”, disse o investidor.

“Acho que há empreendedores excepcionais na América Latina que podem ir além da região e isso inclui o Oriente Médio.”

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