Bloomberg — A Alphabet, holding que controla o Google, demonstrou na terça-feira à noite (29) que a incursão considerada dispendiosa em Inteligência Artificial (IA), questionada por analistas, começa a valer a pena e a se pagar: proporciona uma “tração” melhor do que a esperada para seus negócios de computação em nuvem e aumenta o uso de seu principal mecanismo de busca, além de reduzir os custos.
Ao reportar ganhos considerados pelo mercado saudáveis tanto na receita quanto no lucro, o Google fez muito para dissipar as preocupações de Wall Street de que a empresa teria desperdiçado uma liderança inicial em IA, e que seus pesados investimentos para alcançar empresas como a Microsoft e a OpenAI podem não render os dividendos esperados.
A receita, excluindo os pagamentos de parceiros, aumentou para US$ 74,6 bilhões, cerca de 16% a mais do que no mesmo trimestre do ano passado e acima dos US$ 72,9 bilhões que os analistas de mercado previram em média, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
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O lucro líquido foi equivalente a US$ 2,12 por ação, informou a empresa em um comunicado na terça-feira, em comparação com as estimativas de mercado de US$ 1,84 por ação.
À medida que seu principal negócio de buscas amadurece, o Google aposta no crescimento de sua divisão de nuvem, que fornece capacidade de computação, software e serviços a outras empresas.
O Google (GOOG) tem atraído mais clientes de nuvem usando sua experiência em IA para ganhar terreno sobre as rivais maiores Amazon (AMZN) e Microsoft (MSFT), fazendo incursões ao contratar startups de IA de rápido crescimento - algumas das quais foram fundadas por ex-Googlers - como clientes.
“Na nuvem, nossas soluções de IA estão ajudando a impulsionar a adoção de produtos mais profundos com os clientes existentes, a atrair novos clientes e a conquistar negócios maiores”, disse o CEO da Alphabet, Sundar Pichai, no comunicado sobre o resultado.
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As ações da Alphabet subiram até 6% nas negociações pré-mercado nesta quarta-feira (30), antes da abertura das bolsas de Nova York. As ações tiveram um aumento de 21% no acumulado deste ano.
As vendas na divisão de nuvem saltaram para US$ 11,4 bilhões, um aumento de 35% em relação ao mesmo período do ano anterior e melhor do que os analistas haviam projetado.
O Google está em terceiro lugar no mercado, mas há espaço para que cresça ao lado da Amazon e da Microsoft, escreveu Ido Caspi, analista de pesquisa da Global X ETFs, em um e-mail. “O aumento das cargas de trabalho de IA empresarial continuará a impulsionar as receitas da nuvem”, disse Caspi.
O Google tem feito progressos na abordagem das preocupações dos investidores sobre os bilhões que gasta em infraestrutura e pesquisa de IA.
Pichai disse na teleconferência com investidores após a divulgação do resultado que o Google reduziu o custo de produção de respostas de IA em consultas de buscas em mais de 90% em 18 meses, “por meio de hardware, engenharia e avanços técnicos”, enquanto dobrava o tamanho do Gemini, o modelo de inteligência artificial generativa que alimenta as respostas.
A empresa também investe pesadamente em fontes de energia, inclusive a nuclear, para lidar com a demanda futura do progresso da IA, disse Pichai.
E tem se apoiado na tecnologia para ajudá-la a trabalhar com mais eficiência: mais de um quarto do novo código de computador da Alphabet é escrito por IA, disse Pichai.
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Outras apostas
O segmento denominado “Other Bets” da Alphabet, um conjunto eclético de empresas nascentes, que inclui a Waymo, que trabalha com carros autônomos, e a Verily, unidade de ciências da vida, registraram uma receita de US$ 388 milhões, acima dos US$ 297 milhões no mesmo trimestre do ano anterior.
A Waymo, na qual a Alphabet investiu capital por mais de uma década, vem expandindo rapidamente o número de viagens que oferece em cidades como São Francisco e Phoenix.
A empresa disse na semana passada que havia levantado US$ 5,6 bilhões em sua maior rodada de financiamento de todos os tempos.
É uma aposta que continua não sendo lucrativa e que perdeu US$ 1,1 bilhão no trimestre, mas a Alphabet tem trabalhado para reduzir esse prejuízo.
Ruth Porat, ex-CFO de longa data da Alphabet, que ficou famosa por incutir um espírito maior de disciplina fiscal na empresa, passou recentemente para uma nova função como presidente e diretora de investimentos. Espera-se que ela se concentre mais na supervisão do portfólio “Other Bets”.
Enquanto o Google segue com a construção de um papel de proeminência em IA, o governo dos EUA avalia seus principais sucessos - em buscas e publicidade digital - quanto a possíveis danos antitruste. Em agosto, um juiz americano declarou o negócio de buscas do Google um monopólio ilegal.
O Departamento de Justiça dos EUA e um grupo de estados também alegam que o Google monopolizou o mercado de ferramentas de tecnologia de publicidade usadas por sites e anunciantes para comprar e vender anúncios de exibição online.
Na teleconferência de resultados com os investidores, Pichai alertou que a resolução dos casos antitruste pelo governo poderia ter “consequências não intencionais” para a liderança dos EUA em tecnologia.
De qualquer forma, "está muito claro que o Google pode ter um bom desempenho mesmo em meio a sérias ameaças regulatórias ao seu negócio de anúncios", disse Evelyn Mitchell-Wolf, analista de mídia e publicidade digital da Emarketer.
Em sua primeira call de resultados com a empresa, a nova CFO da Alphabet, Anat Ashkenazi, que ingressou no início deste ano, disse que espera que as despesas de capital do Google aumentem consideravelmente no próximo ano.
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