Nvidia dobra receita em um ano com ‘febre’ de IA, mas parte do mercado quer mais

Fabricante de chips chegou a US$ 35,1 bilhões em receitas no último trimestre e sua divisão para data center vende mais do que o total combinado de Intel e AMD; ação cai no after market

Prédio da Nvidia em Taiwan: empresa praticamente dobrou as receitas em 12 meses até outubro de 2024 (Foto:  I-Hwa Cheng/Bloomberg)
Por Ian King
20 de Novembro, 2024 | 09:03 PM

Bloomberg — A Nvidia, fabricante de chips que está no centro do boom de Inteligência Artificial (AI), apresentou uma previsão de receita que não atendeu às expectativas mais altas de Wall Street, o que sugere que o crescimento vertiginoso da empresa tem seus limites.

As vendas do quarto trimestre fiscal serão de cerca de US$ 37,5 bilhões, disse a Nvidia em um comunicado nesta quarta-feira (20) depois do fechamento do mercado.

Embora a estimativa média dos analistas tenha sido de US$ 37,1 bilhões, de acordo com dados compilados pela Bloomberg, as projeções chegavam a US$ 41 bilhões.

A perspectiva indica que a empolgação de investidores e analistas com o impacto da IA pode estar se antecipando à realidade.

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A demanda incessante de investidores da Nvidia (NVDA) elevou os preços das ações em quase 200% em 2024, o que transformou na empresa mais valiosa do mundo.

Mas a fabricante de chips tem tido dificuldade em acompanhar a demanda por seus produtos e enfrentou problemas de produção neste ano.

O CEO, Jensen Huang, disse que a nova linha da Nvidia, chamada Blackwell, está agora em “produção total”. Espera-se que a demanda pelos produtos altamente esperados exceda a oferta por vários trimestres. E ainda há um apetite pelo Hopper, o projeto anterior, acrescentou Huang.

“A IA está transformando todos os setores, as empresas e os países”, disse ele no comunicado. “Os investimentos em robótica industrial estão aumentando com os avanços na IA física, e os países despertaram para a importância de desenvolver sua IA e infraestrutura nacionais.”

Mas alguns investidores esperavam um trimestre mais explosivo. As ações da Nvidia caíam cerca de 1,50% no after market nesta quarta - e fecharam anteriormente em US$ 145,89 em Nova York.

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Mesmo com uma perspectiva considerada decepcionante para alguns, o crescimento da Nvidia nos últimos dois anos tem sido impressionante. Suas vendas estão prontas para dobrar pelo segundo ano consecutivo, e agora ela obtém mais lucro do que costumava gerar em receita total.

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A receita da Nvidia aumentou 94%, para US$ 35,1 bilhões, no terceiro trimestre fiscal, que terminou em 27 de outubro, na base anual. Excluindo determinados itens, o lucro foi equivalente a 81 centavos de dólar por ação. Os analistas previram vendas de cerca de US$ 33,25 e lucros de 74 centavos de dólar por ação.

Data center: recorde de US$ 30,8 bilhões em receitas

A maior divisão da Nvidia, a unidade de data centers, viu a receita dobrar em relação ao ano anterior, para US$ 30,8 bilhões. Isso superou as estimativas de Wall Street.

Mas a receita de rede dentro dessa unidade diminuiu sequencialmente, e o negócio está mais dependente do que nunca de um pequeno grupo de clientes: provedores de serviços em nuvem.

Esse grupo, que inclui empresas como a Microsoft e a AWS, da Amazon, foi responsável por 50% da receita em data center, em comparação com 45% no período anterior.

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Os investidores querem que esse número diminua, para mostrar que o uso da IA tem se disseminado pela economia.

A maior fonte de receita da empresa é seu chip acelerador, que ajuda a desenvolver modelos de IA bombardeando-os com dados. Desde que o chatbot ChatGPT da OpenAI foi lançado em 2022, um frenesi de serviços de inteligência artificial criou uma demanda insaciável pelo produto.

Outros resultados recentes deram fortes sinais para a IA. Os clientes da Nvidia, incluindo Microsoft, Amazon e Meta Platforms, reafirmaram seu compromisso de gastar muito em infraestrutura de IA.

A Nvidia procura ficar à frente dos rivais acelerando seu ritmo de inovação. Isso inclui o compromisso de atualizar sua linha de produtos anualmente. Com o Blackwell, ela tem uma nova coleção de chips que são mais rápidos e têm uma capacidade aprimorada de se conectar a outros semicondutores.

Desafios para atender a demanda

Mas os desafios de fabricação atrasaram o lançamento do Blackwell.

Por enquanto, a Nvidia não consegue atender a todos os pedidos que recebe, disse a empresa. Depois que a produção melhorar, os suprimentos serão abundantes, de acordo com Huang.

A Nvidia alertou novamente sobre as restrições de fornecimento para Blackwell na quarta-feira.

“Questões críticas em torno do aumento da produção da Blackwell e da concentração de clientes continuam sendo as principais preocupações”, disse o analista da Emarketer Jacob Bourne em uma nota. “Há pouco espaço para erros de execução em 2025.”

A Nvidia só não atendeu as estimativas dos analistas sobre a receita trimestral uma vez nos últimos cinco anos. E superou as expectativas em até 20% nos últimos períodos, criando um alto padrão para seu desempenho - e subindo a barra, portanto, para as projeções do mercado.

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Sua divisão de data center sozinha agora tem mais receita do que seus dois rivais mais próximos, a Intel e Advanced Micro Devices (AMD), têm no total combinado. O lucro líquido deste ano está a caminho de superar a receita da Intel, que foi a maior empresa do setor de chips durante décadas.

A Nvidia fez seu nome com a venda de processadores gráficos, mas descobriu que a tecnologia também tem aplicações para IA.

Seus chips ajudam os modelos de software durante o processo de treinamento, quando eles aprendem a reconhecer e a responder às entradas do mundo real.

Os componentes da Nvidia também são usados em sistemas que executam o software, um estágio conhecido como inferência, e ajudam a alimentar serviços como o ChatGPT, da OpenAI.

A empresa com sede em Santa Clara, na Califórnia, expandiu rapidamente sua linha de produtos para incluir redes, software e serviços, bem como sistemas de computador totalmente integrados.

Huang está viajando pelo mundo fazendo lobby para uma adoção mais ampla de sua tecnologia e tenta disseminar seu uso por corporações e agências governamentais.

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