Na CloudWalk, IA já responde por quase 50% dos R$ 3,4 bi em receita anualizada

Produtos estruturados com IA nos últimos dois anos, como oferta de crédito e pagamento instantâneo, alavancam o resultado, conta o diretor Fabrício Costa à Bloomberg Línea; a meta é chegar a 90%

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Bloomberg Linea — Na corrida por ganhos de produtividade com uso de Inteligência Artificial (IA) generativa, a Cloudwalk tem avançado a passos largos, segundo números revelados à Bloomberg Línea.

A fintech, dona da InfinitePay, plataforma financeira com foco em micro e pequenos empreendedores, fechou o ano com R$ 2,7 bilhões em receita, alta de 67% em comparação com um ano antes.

O lucro líquido alcançou R$ 339 milhões, mais do que o triplo do registrado em 2023, de R$ 108 milhões. No período, a startup triplicou a sua base de clientes, para 3 milhões de empreendedores.

No mercado há pouco mais de uma década, a startup fundada por Luis Silva em 2013 atribui parte significativa dos números ao que tem conseguido criar com produtos de IA generativa nos últimos dois anos.

A receita anual recorrente (ARR, na sigla em inglês) em dezembro ficou em R$ 3,4 bilhões, enquanto os serviços estruturados com IA representaram 47% da ARR.

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Os novos produtos da fintech são empregados na oferta de crédito, em pagamento instantâneo e na negociação de taxas precificadas com uso de IA, chamadas de “taxas inteligentes”.

“A nossa oferta de crédito, desenvolvida 100% dentro de casa a partir de um modelo baseado em inteligência artificial, foi criada do zero nos últimos dois anos”, afirmou Fabrício Costa, diretor de serviços financeiros da CloudWalk, à Bloomberg Línea.

“Sem IA, nós até teríamos a capacidade de processamento, mas não a capacidade de análise, de interação com esses agentes. Com a AI, conseguimos criar, criticar e melhorar”, explicou.

De acordo com a fintech, o produto é capaz de analisar mais de 1.200 parâmetros para definir o score de crédito dos clientes, incluindo elementos como fluxo de vendas, localização do estabelecimento, mercado em que está presente e a sazonalidade do setor.

“O que nós fizemos basicamente foi aprender muito mais rapidamente, com ciclos muito menores. Aprender o que talvez pudesse levar uma década em dois anos”, disse Costa.

Em 2024, o volume de crédito concedido cresceu mais de 200%, para cerca de 500 mil operações no período. A modalidade entrou em operação nos primeiros dias de 2023, após um período de teste e validação iniciado em maio de 2022. A startup não abre os valores movimentados.

“O nosso maior driver de crescimento é o crédito. Nós entendemos que o nosso modelo é capaz de conceder crédito para quem não consegue a partir dos pares tradicionais do mercado financeiro”, afirmou.

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90% de todo o negócio com IA

Além do produto de empréstimos, outros dois serviços entram na conta como geradores do que é descrito como “dinheiro novo”, ou seja, uma receita não disponível há dois anos.

O primeiro é o “Taxas inteligentes”, lançado em agosto de 2024, que faz uso de uma série de combinações analíticas para calcular a taxa ótima a ser cobrada dos empreendedores de acordo com o respectivo faturamento mensal. Quanto maior o resultado, menor é a taxa cobrada por transação.

Há também o que a startup chama de ‘Infinite Nitro’, produto para que os empreendedores recebam o valor pago pelos consumidores em poucos segundos, mesmo no caso de compras parceladas. O desafio, no caso dessa operação, foi desenvolver mecanismos com base em IA e blockchain para identificar e evitar potenciais fraudes nos pagamentos.

Para além dos empreendedores na base direta, a fintech prevê o lançamento de produtos na ponta para conversar diretamente com os consumidores finais. Pelos números atuais, a Clouwalk calcula que em torno de 50 milhões de pessoas compram em lojas que utilizam as suas tecnologias por mês.

A expectativa da startup é que em três anos os produtos baseados em IA respondam por cerca de 90% de todo o negócio, segundo Costa. Atingir esse patamar depende da ampliação da oferta de produtos, além de agregar valor com execuções consideradas adequadas.

São os casos da Bela, uma IA vendedora da InfinitePay que conduz o processo de oferta das maquininhas, e do Claudio Walker, agente de IA que elevou para 90% os atendimentos sem intervenção humana nos últimos seis meses. São duas das apostas em fase de testes no momento.

Os resultados obtidos com esses dois últimos serviços não entram no cálculo dos 47% de receitas recorrentes da startup, assim como fica de fora a operação nos Estados Unidos, iniciada em meados de 2024 com a marca Jim.com.

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A despeito do crescimento com os produtos em IA, a startup afirma ter ampliado o quadro de funcionários em 20% nos últimos 12 meses, em caminho contrário ao senso comum de que a tecnologia eliminará empregos no mercado. O time atual da CloudWalk é formado por 590 pessoas.

“O meu especialista de atendimento já começa a fazer cocriações com inteligência artificial e daqui a pouco ele deixa de atender um cliente porque já entrou na trilha de desenvolvimento de software”, afirmou Costa.

“Nós temos muito mais uma cabeça de abundância do que de demissão, de redução de quadros de colaboradores”, completou.

A transformação da fintech em uma empresa que usa amplamente recursos de IA tem sido executada com caixa próprio e recursos captados com fundos de investimentos.

A startup opera com resultados positivos desde o começo de 2023 e já levantou US$ 365 milhões via equity ao longo de sua jornada. A última captação ocorreu em 2021, com US$ 150 milhões em uma Série C liderada pela Coatue. A startup não revela quanto investiu em IA nos últimos dois anos.

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