Bloomberg Línea — Avançar em comunicação e marketing são os caminhos da Motorola para crescer no país. Essa é a avaliação de Rodrigo Vidigal, CEO da operação brasileira, para quem a companhia já conta com produtos com qualidade para brigar com concorrentes como Samsung e Apple.
A fabricante global está posicionada como a segunda maior no mercado doméstico em volume, atrás apenas da Samsung, com 30% de participação - market share. Os números são impulsionados pela família G, de produtos intermediários, em valores abaixo de R$ 2.000.
A estratégia passa por investimentos para que a marca se torne mais desejada e crie um apelo aspiracional - algo hoje presente para Apple e Samsung.
Se bem-sucedido, o plano pode contribuir para metas locais e globais do negócio, adquirido pela chinesa Lenovo em 2014, após um período nas mãos do Google. Liderada pelo também brasileiro Sérgio Buniac, a Motorola pretende dobrar o faturamento mundialmente em três anos.
Leia mais: Apple prepara lançamento de painel de controle com IA para casa inteligente
O primeiro ano desse planejamento foi encerrado em março de 2024 - no ano fiscal da fabricante - com um avanço de cerca de 30%.
E o Brasil, cuja operação é a terceira maior no mundo, tem papel central, tanto em geração de receita quanto em desenvolvimento de tecnologias que acabam exportadas para os outros países.
Entre 2013 e 2023, a companhia investiu R$ 2,5 bilhões no país. Neste ano, adicionou mais R$ 384 milhões nessa conta.
“Hoje, a operação brasileira é a maior exportadora de tecnologia para o mundo. O nosso investimento em P&D conta com mais de 1.200 engenheiros que desenvolvem inovação, inteligência artificial, e exportam esse know-how”, disse o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.
Neste ano fiscal que se encerra em março de 2025, a Motorola local ambiciona dobrar o faturamento da linha premium, que começou o ano com market share de 10%, de acordo com números da NielsenIQ Gfk. “Nós estamos agora entre 15% a 18%, a depender da região”, afirmou Vidigal.
E, nos próximos anos, o objetivo é chegar a 30% de participação nesse segmento, número que, se alcançado, teria o potencial de colocar a Motorola na liderança no mercado total no país.
“Nós estamos muito animados com as perspectivas a partir do que temos feito, dos investimentos, da estratégia e da construção de base para atingir esse consumidor”, afirmou Vidigal.
Leia mais: O mercado de smartphones voltou a crescer em 2024. Menos para a Apple
Com margens mais elevadas, a categoria premium “atua” para equacionar outras linhas do balanço. Os produtos da Motorola são todos fabricados no Brasil, mas 80% dos componentes são importados. E o dólar em alta acumula uma volatilidade acima de 20% desde o começo do ano.
“Nós conseguimos mudar o mix de uma empresa que fabricava mais produtos de entrada para uma que briga na faixa de R$ 2.000 a R$ 4.000. Esse crescimento que a Motorola teve com as famílias Edge e Razr ajudou bastante e foi muito importante para equilibrar os nossos resultados”, disse o CEO.
A Motorola trabalha com duas linhas de smartphones para os públicos considerados premium e superpremium. A Edge, no mercado desde 2020, e a Razr, um modelo dobrável que resgata um ícone da marca - o modelo V3 - repaginada também a partir de 2020.
No site da fabricante, as versões mais recentes dos aparelhos começam com preços a partir de R$ 2.000, no Edge 50, e R$ 5.000, na Razr 50. Lançadas ao longo dos últimos meses, os produtos reforçam o investimento da marca em tecnologia, com melhores processadores e o uso de IA generativa como potencializadora de recursos dos smartphones em câmera, por exemplo.
A aposta da fabricante está ainda na conexão com parceiros que agreguem o valor aspiracional tão desejado pela marca, em aparelhos feitos com acabamentos em madeira, acetato e outras combinações.
Há também parcerias, como um acordo com a Pantone para reforçar o elemento do design. A “Mocha Mousse”, eleita a cor do ano de 2025 pela Pantone, deu origem à estampa para os modelos Razr 50 ultra e Edge 50 Neo. Os aparelhos devem chegar ao país no início de 2025.
Muitos dos usuários de produtos nessa faixa de preço, porém, têm hoje apenas uma vaga lembrança da marca, tangibilizada no slogan “Hello, Moto” que era falado ao ligar o aparelho, em um período em que disputava com a finlandesa Nokia a preferência do mercado com os modelos dobráveis.
Da Fórmula 1 à Copa do Mundo
“Nós conseguimos perceber em pesquisas [com grupos de consumidores] elementos muito importantes de confiabilidade, como uma marca com produtos com qualidade e durabilidade. Os consumidores têm aspectos racionais muito fortes associados à marca Motorola”, afirmou Vidigal.
“Nosso próximo passo é ampliar também esse alcance da marca para aspectos aspiracionais, que vão além da questão racional. O produto é muito competitivo, mas não necessariamente é um produto da moda”.
O reforço se reflete em novas contratações, como a chegada de Samantha Simon no início do segundo semestre como head de comunicação para a marca. Com experiência no mercado de luxo, a executiva trabalhou na JHSF, empresa dos shoppings Cidade Jardim e Shops Jardins e do Fasano Boa Vista.
No dia em que a Bloomberg Línea esteve no escritório da fabricante, Simon havia acabado de sair de uma reunião para discutir as estratégias de ativação do patrocínio à F1. A Motorola terá o smartphone oficial na próxima temporada em 2025, como parte da ampliação da presença da Lenovo na competição mais relevante e prestigiosa do mercado de corridas.
O acordo que elevou a Lenovo ao status de global partner foi acertado em setembro.
Leia mais: CEO da Nokia explica por que quer colocar 5G nas mochilas de soldados
A marca será ainda patrocinadora da Copa do Mundo de Futebol Masculino de 2026 e da Feminina, em 2027, que será sediada no Brasil. “Nós teremos uma presença da marca Motorola e dos seus produtos muito maior do que costumávamos ver no Brasil”, disse o executivo.
Mas não só de investimentos em marketing e comunicação é feita a estratégia da fabricante. A Motorola tem desenvolvido uma carteira digital, a Dimo, projeto que foi pilotado ao longo dos últimos dois anos em suas lojas físicas.
O apelo é a oferta de financiamento para a aquisição dos aparelhos, em venda cujo parcelamento pode chegar a 18 vezes. Os juros variam entre 2,99% e 6,99% ao mês, a depender da análise de crédito.
A carteira de crédito conta com mais de 2,5 milhões de usuários e é disponibilizada apenas nas lojas físicas. O tíquete das operações está no intervalo entre R$ 2.000 e R$ 3.000.
Após um período de validação, varejistas têm sido apresentados ao novo modelo de financiamento, que foi estruturado com a Jazz tech e o Banco Arbi, que atua com o modelo de Banking as a service para empresas não-financeiras.
A previsão é que o modelo esteja disponível também em vendas por meio de canais digitais a partir do primeiro semestre de 2025. Para gerar densidade ao produto, a Dimo réune outros serviços financeiros, como Pix, cartão de crédito, pagamento de contas, portabilidade de salário e recargas de serviços.
Leia também
A nova batalha da Apple: lançar chips de modem e superar a hoje parceira Qualcomm
Os desafios de Apple e Huawei para conquistar os chineses com seus novos smartphones