Mais valioso que Netflix? YouTube avança no streaming à sombra da Alphabet

Plataforma de vídeos já tem valor de mercado de R$ 455 bilhões, mais de 50% a avaliação da Netflix, segundo analistas do banco de investimento Needham, de Nova York

YouTube
Por Carmen Reinicke
13 de Julho, 2024 | 01:29 PM

Bloomberg — Os investidores atribuem um valor de mercado de US$ 2,3 trilhões à Alphabet (GOOGL), holding dona do Google, em razão de sua posição dominante no mercado de buscas na internet, de publicidade relacionada e por ser uma empresa inovadora em inteligência artificial. No entanto mesmo essa cifra enorme subestima o verdadeiro valor do YouTube, a popular plataforma de vídeos que faz parte do grupo.

A unidade de streaming é uma das empresas de mídia mais valiosas do mundo e vale pelo menos US$ 455 bilhões por si só, segundo Laura Martin e Dan Medina, analistas do banco de investimentos Needham, com sede em Nova York, que fizeram a avaliação em um relatório publicado em 3 de julho. O valor é mais de 50% acima do valor de mercado da Netflix (NFLX).

Em razão de sua estrutura, a Alphabet não recebe crédito suficiente por seus diferentes negócios - especialmente o YouTube, argumentaram os analistas.

“Há esse valor oculto no YouTube que as pessoas não podem negociar separadamente e, portanto, está preso no Google em um conglomerado que tem muitos outros riscos”, disse Martin em uma entrevista à Bloomberg News.

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Esses riscos incluem preocupações de que a inteligência artificial possa substituir os mecanismos de busca, uma ameaça que “não tem nada a ver com o YouTube”, disse ela.

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Needham vê a Alphabet em rali de mais de 10%

Um possível spinoff beneficiaria aqueles que desejam investir no YouTube por seu domínio em streaming, mas também aqueles que admiram a Alphabet mais por seu papel no crescimento explosivo da IA.

Se apenas 5% do YouTube pudesse ser negociado separadamente, isso acrescentaria US$ 15 por ação às ações da Alphabet, calculam os analistas do Needham.

"Os conglomerados tiram os compradores do mercado porque os investidores pensam: 'bem, eu gosto dessas três partes, mas não gosto desta, então não vou comprá-la'", disse Martin.

Os analistas da Needham não são os primeiros a perceber isso. Há muito tempo, a estrutura dispersa da Alphabet tem sido criticada por obscurecer o valor real de seus diferentes negócios.

As ameaças regulatórias de desmembramento da empresa ao longo dos anos foram aplaudidas por muitos investidores, em vez de serem vistas como um problema.

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Há também poucos sinais de que a Alphabet ou outras grandes empresas de tecnologia estejam contemplando a possibilidade de obrigar os investidores a fazer qualquer separação no curto prazo, de acordo com Quincy Krosby, estrategista-chefe global da LPL Financial.

“Muitas empresas, quando amadurecem, começam a receber fundos hedge ou ativistas que exigem a cisão de uma empresa”, disse ela. “Ainda não chegamos a esse ponto com as grandes empresas de tecnologia.”

A Alphabet teve um desempenho superior ao da maioria das big techs este ano, à frente de Microsoft (MSFT), Apple (AAPL) e Amazon (AMZN). A Nvidia (NVDA) saiu na dianteira do grupo nesse critério, com ganhos de 165% graças à demanda crescentes por seus chips aceleradores de IA.

Mudança de hábitos

Quanto ao YouTube, ele tem uma participação dominante e crescente no mercado de streaming, à medida que os consumidores mudam os hábitos de consumo de mídia para essas plataformas e se afastam da TV tradicional ou a cabo.

Espera-se que a receita de anúncios da plataforma cresça quase 17%, chegando a US$ 37 bilhões em 2024, e mais 14%, chegando a US$ 42 bilhões em 2025, de acordo com estimativas compiladas pela Bloomberg.

A receita da Alphabet proveniente de assinaturas, plataformas e dispositivos, que inclui as assinaturas do YouTube, também deverá se expandir nos próximos anos. Na Netflix, espera-se que a receita seja de cerca de US$ 38,7 bilhões em 2024, sendo quase toda derivada de streaming, enquanto o YouTube é responsável por cerca de 10% das vendas totais de sua controladora.

Uma pesquisa recente sobre plataformas de streaming realizada pela TD Cowen mostrou que, embora a Netflix ainda domine a maioria das categorias de TV, o YouTube geralmente não fica muito atrás. Além disso, o serviço é a melhor opção para assistir a conteúdo em um telefone celular.

“O YouTube está realmente disputando o posicionamento contra a Netflix em grande escala”, disse Robert Conzo, executivo-chefe da The Wealth Alliance. “Eles serão uma força a ser reconhecida no futuro quando se trata de conteúdo e de competir nesse espaço que a Netflix dominou tão fortemente.”

Embora a IA tenha sido uma das principais forças que elevaram as ações da Alphabet a recordes recentes, o segmento de assinaturas, plataformas e dispositivos que detém o YouTube é um importante impulsionador do crescimento e uma parte crescente da receita bruta, escreveram os analistas do Goldman Sachs liderados por Eric Sheridan em um relatório de 8 de julho.

O Goldman reiterou sua classificação de compra para a Alphabet e elevou o preço-alvo de US$ 195 para US$ 211, em parte devido às suposições de crescimento mais alto da receita de anúncios do YouTube a médio e longo prazo.

E há outras boas razões para a Alphabet manter o YouTube sob seu guarda-chuva. A plataforma é “um pilar fundamental da estratégia de IA generativa da Alphabet”, de acordo com Divyaunsh Divatia, analista de pesquisa da Janus Henderson Investors.

“O YouTube continua a se beneficiar do fato de estar no ecossistema de serviços da web do Google, mas a divulgação de dados adicionais pode ajudar investidores a modelar mais cuidadosamente o crescimento e os custos”, disse Divatia.

Além do YouTube, Martin, da Needham, também vê valor no desmembramento de outras partes do negócio da Alphabet - como seu segmento de tecnologia de anúncios, atualmente parte de um processo judicial com o Departamento de Justiça dos EUA.

"A Alphabet vale mais em partes do que em conjunto", disse Martin.

-- Com a colaboração de Subrat Patnaik.

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