Jantares e encontros com estranhos buscam ser alternativa a apps como Bumble

Plataforma francesa Timeleft e empresa americana We Met IRL (In Real Life) crescem de olho em jovens da Geração Z e millennials que cansaram dos apps tradicionais de relacionamento

A empresa francesa Timeleft quer substituir o ‘swipe’ por conexões em jantares presenciais em cidades brasileiras (Foto: Divulgação/Timeleft)
14 de Julho, 2024 | 07:35 AM

Bloomberg Línea — Uma publicação patrocinada no Instagram risca as frases “conheci no Tinder, conheci no Bumble, conheci no Hinge” e substitui para “conheci em um jantar incrível”.

Em uma era em que plataformas de relacionamento como o Tinder, do Match Group, e o Bumble prometem conexões e correspondências cada vez mais assertivas com o uso de IA (Inteligência Artificial), os apps ainda assim enfrentam o desafio de atrair as mais jovens, como os da Geração Z. E surgem novos modelos.

Para a empresa francesa Timeleft, a aposta é que as pessoas possam se conhecer em um jantar em que sejam todos cinco desconhecidos.

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A empresa, que tem como slogan “Olá, Estranho”, tem usuários na Argentina, no Brasil, no Canadá, no México, no Uruguai e nos Estados Unidos - ao todo, são 150 cidades em 50 países. O app chega a promover 7.000 jantares em cerca de 600 restaurantes em uma única noite.

Maxime Barbier, fundador e CEO global da Timeleft, disse que teve como ideia original conectar pessoas por meio de sonhos comuns. Com o tempo, a sua equipe entendeu que a melhor forma de unir pessoas era ao redor de uma mesa de jantar.

“Compartilhar uma refeição é algo incrível de se fazer”, disse o empreendedor em entrevista à Bloomberg Línea. Para ele, a simplicidade e a natureza inclusiva de um jantar coletivo proporcionam uma conexão que acaba sendo mais genuína entre estranhos.

No Brasil, o app está disponível desde fevereiro e conta com 30 mil usuários registrados em onze cidades: Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Goiânia, Recife e Vitória.

O Brasil é o mercado com crescimento mais rápido para a plataforma na América Latina, segundo ele. A estratégia visa atacar um problema global: a solidão nas grandes cidades.

“Quanto maior a cidade, maior a solidão”, disse (veja mais abaixo).

Além da Timeleft, empresas como a We Met IRL (In Real Life, “Na Vida Real”), com sede em Nova York, que facilita eventos de namoro para pessoas de 25 a 35 anos, experimentam demanda em alta: os ingressos de US$ 25 esgotaram em minutos em épocas disputadas, de acordo a Bloomberg News.

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A We Met IRL organiza encontros com noites temáticas que vão de PowerPoint a clubes de xadrez, com foco em uma geração “cansada em deslizar para a direita” - o movimento que corresponde ao “like” em apps como o Tinder - , mas sem saber como conhecer pessoas no mundo real.

Dados da Eventbrite mostram que a participação em eventos de encontro para solteiros millennials e da Geração Z cresceu 400% de 2022 para 2023.

Eventos associados a esporte, como o clube de corridas para solteiros de Nova York, o Lunge Run Club, em que os solteiros devem aparecer vestindo preto, cresceram 136% no mesmo período.

Enquanto isso, o número de usuários pagantes do Tinder caiu pelo sexto trimestre consecutivo, de acordo com os resultados reportados pelo Match Group em maio.

Na ocasião, o CEO Bernard Kim disse em carta aos acionistas que o Tinder “continua enfrentando ventos contrários devido em parte aos gastos discricionários mais fracos do consumidor”.

Ele disse que a empresa tem trabalhado para melhorar a experiência do Tinder, especialmente para mulheres e usuários da Geração Z.

Depois da inscrição na plataforma da Timeleft, os participantes preenchem um teste de personalidade que permite ao algoritmo combiná-los com um grupo de cinco desconhecidos compatíveis para um jantar às quartas-feiras. Na terça, os usuários recebem uma notificação com informações sobre o grupo e, na quarta, uma notificação com o local de encontro.

Para garantir a segurança do encontro com estranhos, a plataforma faz jantares em grupos e em espaços públicos, como restaurantes. A Timeleft utiliza um algoritmo para formar grupos diversos e compatíveis, segundo o CEO, e a empresa faz dinheiro com a venda de ingressos e assinaturas.

Os participantes pagam um valor para se inscreverem nos jantares, que varia entre os países. Segundo Barbier, a Timeleft está “próxima da rentabilidade”, e novos recursos, como reservas de última hora e a possibilidade de levar acompanhante, serão oferecidos em breve para membros assinantes.

Barbier disse imaginar um mundo em que os jantares se tornem um ritual semanal em todas as grandes cidades, substituindo as antigas tradições de reunião comunitária que foram perdidas ao longo do tempo.

-- Matéria atualizada às 10h46 do dia 15 de julho com o número de cidades em que o Timeleft está presente

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups