Bloomberg — A Intel nomeou Lip-Bu Tan como seu próximo CEO, confiando a um ex-membro do seu conselho de administração e um respeitado executivo veterano em semicondutores um dos cargos mais difíceis dessa indústria.
Ele vai substituir Pat Gelsinger, cuja saída havia sido anunciada ao mercado no começo de dezembro.
Após o anúncio, as ações da empresa subiram cerca de 10% nas negociações de pré-mercado nesta quinta-feira (13). Com a abertura do pregão à vista, tinham alta de 15% perto das 14h de Brasília.
Tan assumirá o cargo na próxima terça-feira (18), informou a empresa em um comunicado na quarta-feira. Ele também voltará a fazer parte do conselho depois de deixar o cargo em agosto de 2024.
Tan, ex-presidente executivo da Cadence Design Systems, tem a tarefa de restaurar a força de uma fabricante de chips pioneira que ficou para trás na disputa pela liderança do setor.
A Intel, que dominou o campo dos semicondutores durante décadas, tem lutado contra perdas de participação no mercado, contratempos na fabricação e um declínio acentuado em seus lucros. Ela também está sobrecarregada com dívidas e recentemente teve que cortar cerca de 15.000 empregos.
Os analistas do Bank of America elevaram a classificação das ações para “neutra” após o anúncio, citando o “sólido histórico” de Tan.
As ações da Intel fecharam em alta de 4,6%, a US$ 20,68, no pregão regular de Nova York na quarta-feira (12). As ações caíram mais de 50% nos últimos 12 meses, à medida que o futuro da empresa se tornou cada vez mais obscuro, o que levou seu valor de mercado para US$ 89,5 bilhões.
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Em um memorando para os funcionários da Intel, Tan disse que está confiante de que pode dar uma guinada nos negócios.
"Isso não quer dizer que será fácil. Não será", disse ele. "Mas estou entrando porque acredito com todas as fibras do meu ser que temos o que é preciso para vencer. A Intel desempenha um papel essencial no ecossistema de tecnologia, tanto nos EUA quanto em todo o mundo."
O antecessor de Tan, Gelsinger, foi dispensado pelo conselho por ter sido considerado incapaz de rejuvenescer a linha de produtos da Intel.
Um dos desafios mais evidentes: criar um chip acelerador de inteligência artificial que possa rivalizar com os produtos da Nvidia. Essa empresa, que já esteve na sombra da Intel, viu sua receita e avaliação dispararem nos últimos dois anos devido ao boom da computação de IA.

“Isso é bom para a Intel”, disse Stacy Rasgon, analista da Bernstein. “Se eu tivesse que escolher alguém, o Lip-Bu estaria no topo da lista.”
Gelsinger também se propôs a transformar a Intel em uma empresa de fundição de chips - um contratado que fabrica produtos para clientes externos -, mas esse esforço ainda está em seus estágios iniciais.
Tan sinalizou que continuaria nesse caminho.
“Trabalharemos arduamente para restaurar a posição da Intel como uma empresa de produtos de classe mundial, estabelecer-nos como uma fundição de classe mundial e encantar nossos clientes como nunca antes”, disse ele no memorando, que foi publicado no site da empresa.
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"É isso que este momento exige de nós, enquanto refazemos a Intel para o futuro".
A Intel continua sendo uma das maiores fabricantes de chips do mundo em termos de receita, com mais de US$ 50 bilhões em vendas anuais. Seus processadores são o principal componente de mais de 70% dos computadores pessoais e máquinas de servidor do mundo. E as fábricas da empresa ainda representam uma grande parte da capacidade mundial de fabricação avançada.
Mas as falhas no desenvolvimento de produtos permitiram que os rivais ganhassem vantagem. Além da Nvidia, a Advanced Micro Devices (AMD) conquistou participação de mercado em PCs e servidores - e está mais bem preparada do que a Intel para fazer incursões em chips de IA.

À sombra desses desafios, a Intel não está nem mesmo entre as dez maiores empresas do setor de chips do mundo em valor de mercado.
Tan, um executivo nascido na Malásia, cresceu em Singapura, onde frequentou a Universidade de Nanyang e estudou física. Posteriormente, foi para o Massachusetts Institute of Technology (MIT), obtendo um mestrado em engenharia nuclear. Ele desistiu de fazer um doutorado nessa área e foi para a Universidade de São Francisco, onde obteve um MBA.
Depois de trabalhar em investimentos de risco, ele entrou para o conselho da Cadence em 2004. Tornou-se co-CEO em 2008, após a saída do titular Michael Fister, e assumiu essa função em 2009. Tan dirigiu a empresa por mais de uma década antes de assumir o cargo de chairman, que ocupou até 2023.
A Cadence, juntamente com a rival Synopsys, domina o mercado de design auxiliado por computador usado para criar semicondutores. Seus softwares e serviços se tornaram cada vez mais importantes com o aumento da complexidade dos dispositivos.
Os engenheiros usam seus produtos para criar projetos para o arranjo de dezenas de bilhões de transistores e fios de conexão - a arquitetura subjacente dos minúsculos componentes.
Dirigir a Intel já foi o cargo de maior prestígio do setor. Em seu auge, a lucratividade da Intel era excepcionalmente alta para uma empresa de manufatura.
Sua margem bruta - o percentual de vendas restante após a dedução do custo de produção - era superior a 60%. Atualmente, a referência está definhando em cerca de metade desse nível.

Quando Gelsinger assumiu o comando em 2021, ele era visto como um possível salvador da empresa. Mas Wall Street desanimou com seu plano de recuperação após uma série de resultados trimestrais decepcionantes - incluindo um relatório de agosto de 2024 que os analistas descreveram como o pior de sua história.
Em 2024, a Intel foi, de longe, a empresa com o pior desempenho no Índice de Semicondutores da Bolsa de Valores da Filadélfia, com queda de 60% das ações. Como a avaliação da empresa caiu para os níveis da década de 1990, a ideia antes impensável de uma aquisição da Intel se tornou mais plausível.
Desafios e ofertas hostis
O novo líder da Intel terá que lidar com as abordagens dos pretendentes e decidir se manterá a posição de Gelsinger de que uma separação é desnecessária.
Algumas pessoas em Wall Street sugeriram a divisão das unidades de projeto e fabricação de chips da empresa, que já estão separadas operacionalmente.
A Qualcomm, a Broadcom e a Arm Holdings exploraram a ideia de adquirir a totalidade ou parte da Intel, informou a Bloomberg News. Se forem feitas abordagens formais, o conselho da Intel estará sob pressão para considerar cenários que Gelsinger pode ter rejeitado.
Separadamente, o governo Trump entrou em contato com a rival Taiwan Semiconductor Manufacturing e pediu que ela considerasse a possibilidade de assumir uma participação em uma cisão das fábricas da Intel.
De acordo com essa proposta, relatada pela Bloomberg News no mês passado, a TSMC administraria as fábricas e as reconfiguraria para usar sua tecnologia - algo que poderia torná-las mais atraentes para clientes externos. Atualmente, as fábricas da Intel se concentram principalmente em seus próprios projetos.
O plano também incluía tentar fazer com que os maiores clientes da TSMC - uma lista que inclui a Qualcomm, a AMD e a Apple - investissem no spinoff da Intel.
Mas esse relatório foi seguido, uma semana depois, pelo anúncio da TSMC na Casa Branca de que aumentaria os investimentos em seu próprio complexo no Arizona. Isso sugere que a empresa prefere não se envolver em projetos externos.
A Intel, com sede em Santa Clara, no estado da Califórnia, é a maior beneficiária de subsídios do governo dos EUA sob a Lei de Chips e Ciência - Chips Act -, uma iniciativa do governo Biden para revigorar a produção doméstica de semicondutores.
O dinheiro do Chips Act, que totaliza quase US$ 8 bilhões, depende do cumprimento de metas pela Intel, incluindo a construção e o equipamento de novas fábricas nos EUA.
A Intel já adiou alguns de seus planos de construção, inclusive de um complexo no estado de Ohio. O presidente Donald Trump também se manifestou contra o programa.
O presidente do conselho de administração da Intel, Frank Yeary, disse em uma declaração separada que Tan poderia aproveitar sua experiência na reinvenção da Cadence. Tan “conduziu uma transformação cultural centrada na inovação centrada no cliente”, disse ele.
“Durante seu período como CEO, a Cadence mais do que dobrou sua receita, expandiu as margens operacionais e apresentou uma valorização do preço das ações de mais de 3.200%”, disse Yeary.
"Ele também conhece bem a Intel, tanto como parceiro quando dirigia a Cadence quanto por ter participado recentemente de nosso conselho."
Se Tan não conseguir orquestrar uma reviravolta semelhante na Intel, disse Rasgon, da Bernstein, "provavelmente não havia conserto".
-- Com a colaboração de Subrat Patnaik.
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