Intel prevê prejuízo, corta dividendos e prepara demissões; ações caem até 29%

Guidance da fabricante de chips para o terceiro trimestre ficou abaixo do esperado por analistas; ‘Não tenho ilusões de que o caminho à nossa frente será fácil’, diz o CEO Pat Gelsinger

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Bloomberg — As ações da Intel (INTL) caíram até 29% nesta sexta-feira (2) e caminham para registrar a maior queda diária em 24 anos depois de a empresa apresentar uma projeção de crescimento menor do que o esperado e traçar planos para cortar cerca de 15.000 empregos, sinalizando que a fabricante de chips está mal equipada para competir na era da inteligência artificial.

As vendas para o trimestre atual serão de US$ 12,5 bilhões a US$ 13,5 bilhões, informou a empresa na quinta-feira (1º). Os analistas haviam projetado, em média, um resultado de US$ 14,38 bilhões, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A Intel espera um prejuízo de 3 centavos de dólar por ação, excluindo determinados itens, em comparação com as expectativas de um lucro de 30 centavos de dólar.

A Intel disse que planeja cortar mais de 15% de sua força de trabalho de cerca de 110.000 pessoas. A empresa também suspendeu o pagamento de dividendos aos acionistas a partir do quarto trimestre, e continuará assim até que “os fluxos de caixa melhorem para níveis sustentavelmente mais altos”, de acordo com o comunicado. A empresa paga dividendos desde 1992.

“Não tenho ilusões de que o caminho à nossa frente será fácil”, disse o CEO Pat Gelsinger em um comunicado aos funcionários. “Vocês também não deveriam ter”.

Ele chamou as medidas de “algumas das mudanças mais importantes na história de nossa empresa”.

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Gelsinger, apesar de um plano de gastos maciços para restaurar a dominância da Intel no setor, tem tido dificuldades para melhorar os produtos e a tecnologia da empresa com rapidez suficiente para reter os clientes.

Os resultados ressaltam um declínio dramático para a Intel, que dominou o setor de semicondutores por décadas e agora é forçada a divulgar medidas de corte de custos e dar garantias de que pode financiar planos de crescimento.

As ações da Intel caíam 26,9% em Nova York por volta das 14h30 no horário de Brasília, depois de recuarem até 29% na abertura em relação ao valor de fechamento de quinta.

Se a queda no pré-mercado se mantiver, a empresa terá sua maior baixa intradiária desde setembro de 2000. A ação da empresa perdeu mais de 42% do valor neste ano até o fechamento de quinta-feira e tem o segundo pior desempenho no Índice de Semicondutores da Bolsa de Valores da Filadélfia.

“A receita não está onde queremos que esteja”, disse o diretor financeiro Dave Zinsner em uma entrevista. “As finanças não estavam onde queríamos que estivessem.”

Os cortes de empregos foram necessários "para nos levar a um ponto em que tenhamos um modelo mais sustentável para os negócios daqui para frente".

No segundo trimestre, a empresa teve um lucro de 2 centavos de dólar por ação, excluindo determinados itens, e uma receita de US$ 12,8 bilhões, uma queda de 1%.

Os analistas haviam estimado um lucro de 10 centavos de dólar por ação e vendas de US$ 12,95 bilhões. Wall Street projeta um aumento modesto nas vendas gerais este ano a partir de 2024, ainda deixando a empresa mais de US$ 20 bilhões abaixo de seu pico em 2021.

Os concorrentes especializados em inteligência artificial têm conquistado alguns dos clientes da Intel. A Nvidia (NVDA) tem agora mais do que o dobro das vendas trimestrais da empresa.

Outrora uma rival em dificuldades, a Advanced Micro Devices (AMD) é avaliada em mais de US$ 100 bilhões pelos investidores e a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC) é amplamente reconhecida como tendo a melhor produção do setor.

Mudança de longo prazo

Gelsinger continua confiante de que a Intel está no caminho certo a longo prazo. Ele argumentou que a produção vital da Intel está a caminho de alcançar e ultrapassar a dos rivais, o que atrairá clientes externos e justificará a série de novas fábricas que a Intel está construindo. Ele acredita que a Intel já pagou o que precisava para se equiparar ao setor e agora pode se concentrar em suas finanças.

Alguns dos melhores chips da Intel são fabricados por terceiros. Com o tempo, a empresa espera transferir mais de sua fabricação de chips para suas próprias fábricas, que estão sendo modernizadas.

A empresa também trabalha para acelerar as melhorias nos chips para PCs com IA. Mas, por enquanto, as despesas estão reduzindo as margens brutas, disse Zinsner.

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A margem bruta, ou a porcentagem de vendas restante após a dedução do custo de produção, foi de 35,4% no trimestre. Essa medida permanecerá estável no trimestre atual. Em seu auge, a Intel informava regularmente uma margem bruta bem acima de 60%.

A empresa tem reduzido os gastos com novas fábricas e equipamentos em 2024 em mais de 20%, e agora está orçando entre US$ 25 bilhões e US$ 27 bilhões. No próximo ano, as despesas ficarão entre US$ 20 bilhões e US$ 23 bilhões.

A maioria das reduções de empregos, necessárias também para eliminar a burocracia e acelerar a tomada de decisões, será concluída até o final do ano, disse Gelsinger à equipe.

“Nossos custos são muito altos, nossas margens são muito baixas”, escreveu ele no comunicado, dizendo que responderia às perguntas dos funcionários em uma reunião interna. “Precisamos de ações mais ousadas para lidar com ambos - especialmente considerando nossos resultados financeiros e as perspectivas para o segundo semestre de 2024, que são mais difíceis do que o esperado anteriormente.”

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A Intel foi forçada a reduzir as expectativas de vendas em maio, depois que o governo dos EUA revogou sua licença para fornecer chips para a chinesa Huawei Technologies, parte do esforço de Washington para cortar o acesso a essa empresa pelo que alega serem riscos à segurança nacional.

A fabricante de chips divulgou os resultados trimestrais pela segunda vez sob uma nova estrutura de negócios que mostra o desempenho financeiro de suas operações de fabricação. Gelsinger disse que a reestruturação foi um passo necessário para tornar as operações mais eficientes e competitivas.

A empresa divulga receitas divididas entre grupos de produtos e suas operações de fabricação, com fábricas passando por uma atualização maciça e um programa de construção que está pesando muito nos lucros.

A receita melhorou no que a empresa chama de unidade de fundição (foundry), com um aumento de 4% em relação ao ano anterior, para US$ 4,32 bilhões. Os chips para PCs também registraram crescimento, com aumento de 9% em relação ao mesmo período do ano anterior.

As vendas na unidade crucial de data center, que já foi a mais lucrativa, novamente perderam terreno, caindo 3% para US$ 3 bilhões. A unidade ainda não alcançou nada parecido com a presença de mercado da Nvidia em chips aceleradores usados em sistemas de inteligência artificial. A IA tem se revelado uma mina de ouro e reduzindo os gastos com o tipo de processador que a Intel fabrica.

-- Com a colaboração de Subrat Patnaik.

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