Intel avalia spinoff de área de fundição de chips diante de perdas, dizem fontes

Gigante de tecnologia trabalha com Morgan Stanley e Goldman Sachs para buscar alternativas, que incluem desistência de novos projetos; ações caíram ao menor patamar desde 2013

Sede da Intel em Santa Clara, na Califórnia: estudo de cenários para os seus negócios com ajuda de bancos
Por Dinesh Nair - Ian King - Ryan Gould
30 de Agosto, 2024 | 08:56 AM

Bloomberg — A Intel Corp. trabalha com bancos de investimento para ajudar a atravessar o período mais difícil de seus 56 anos de história, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que falaram à Bloomberg News.

A empresa tem discutido vários cenários, o que inclui a divisão de seus negócios de design de produtos e fabricação, bem como quais projetos de fábrica podem ser potencialmente descartados, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas porque as deliberações são privadas.

O Morgan Stanley e o Goldman Sachs, os bancos de longa data da Intel, têm prestado assessoria sobre as possibilidades, que também podem incluir possíveis M&A, disseram as pessoas.

Um representante da Intel se recusou a comentar, enquanto o Morgan Stanley e o Goldman Sachs não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.

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As discussões só se tornaram mais urgentes desde que a empresa com sede em Santa Clara, na Califórnia, apresentou um resultado trimestral considerado sombrio neste mês, o que fez com que as ações caíssem para o nível mais baixo em mais de uma década, desde 2013.

Espera-se que as várias opções sejam apresentadas durante uma reunião do conselho em setembro, disseram as pessoas.

As ações da Intel subiram 1,9%, para US$ 20,51, nas negociações antes do pregão nesta sexta-feira. Mas elas acumulam queda perto de 60% neste ano, em comparação com um ganho de 20% para o Índice de Semicondutores da Bolsa de Valores da Filadélfia, uma referência do setor de chips.

Nenhum movimento importante é iminente e as discussões ainda estão nos estágios iniciais, advertiram as pessoas.

Reviravolta para Pat Gelsinger

Uma possível separação ou venda da divisão de fundição - foundry - da Intel, que tem como objetivo a fabricação de chips para clientes externos, seria uma reviravolta para o CEO, Pat Gelsinger.

Gelsinger considera o negócio fundamental para restaurar a posição da Intel entre os fabricantes de chips e esperava que ele viesse a competir com empresas como a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC), que foi pioneira no setor de fundição.

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Mas é mais provável que a Intel (INT) tome uma medida menos drástica antes de chegar a esse ponto, como a suspensão de alguns de seus planos de expansão, disseram as pessoas.

Pat Gelsinger, CEO da Intel, no evento Computex em Taiwan em junho deste ano

A empresa já fez acordos de financiamento de projetos com a Brookfield Infrastructure Partners e a Apollo Global Management.

Gelsinger, da Intel, corre contra o tempo para realizar uma reviravolta considerada muito necessária. Ele tenta expandir a rede de fábricas ao mesmo tempo em que as vendas estão encolhendo - uma proposta que gera perda de dinheiro. A empresa tever um prejuízo líquido de US$ 1,61 bilhão no último trimestre, e os analistas estão prevendo mais perdas para o próximo ano.

“Os investidores esperam que a Intel faça grandes cortes em seus investimentos nos próximos 12 meses”, disse Amir Anvarzadeh, estrategista de mercado da Asymmetric Advisors. “O modelo da Intel está efetivamente quebrado. Ela está combatendo incêndios em muitas frentes.”

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Gelsinger, um veterano da Intel que deixou a empresa por mais de uma década, assumiu o comando em 2021 e prometeu restaurar a vantagem tecnológica da empresa.

Sob o comando de CEOs anteriores, a pioneira em chips havia perdido participação de mercado e sua reputação de inovação há muito tempo cultuada.

Mas seu plano de retorno provou ser excessivamente ambicioso, e a empresa teve que reduzir seu tamanho. Quando divulgou seu resultado no início deste mês, a Intel anunciou planos para cortar cerca de 15.000 empregos e reduzir os gastos de capital. A empresa até suspendeu seus dividendos.

“Foram algumas semanas difíceis”, disse Gelsinger aos investidores na Conferência de Tecnologia do Deutsche Bank na quinta-feira (29).

A empresa tentou apresentar uma “visão clara” de seus próximos passos durante seu resultado trimestral, disse ele. “Obviamente, o mercado não reagiu de forma positiva. Nós entendemos isso.”

Além da turbulência, o diretor Lip-Bu Tan deixou abruptamente o conselho na semana passada. O veterano do setor de semicondutores, contratado há dois anos para ajudar no esforço de retorno, citou compromissos de agenda. Mas representou a saída de um dos poucos diretores com conhecimento e experiência no setor.

Planos de reformulação

O plano de retorno de Gelsinger baseava-se na reformulação da Intel em dois grupos: um que projetasse chips e outro que os fabricasse. O braço de produção ficaria então livre para buscar negócios com outras empresas.

Mas o maior cliente da rede de fábricas da Intel ainda é a Intel.

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Até que o negócio de fundição tenha mais clientes externos, ele enfrentará desafios financeiros. A empresa relatou perdas operacionais de US$ 2,8 bilhões em seu trimestre mais recente e agora está a caminho de ter um ano pior do que o projetado.

Com um valor de mercado de US$ 86 bilhões, a Intel saiu do ranking dos dez maiores fabricantes de chips do mundo, segundo essa métrica.

E tem o segundo pior desempenho no índice de chips da Filadélfia neste ano e sofre em comparação com os ganhos estratosféricos da Nvidia, uma empresa que está a caminho de registrar o dobro da receita da Intel em 2024 e que se tornou a segunda empresa mais valiosa do mundo, com market cap acima de US$ 3 trilhões.

Recentemente, em 2021, a Intel era três vezes maior do que a Nvidia (NVDA) em termos de receita.

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