iFood: vamos usar força da marca para crescer para outras áreas, diz CEO

Fabricio Bloisi diz à Bloomberg Línea que a startup líder em delivery de restaurantes está ‘só no começo’ em avanço para verticais como empréstimos, vale-refeição e supermercados

Fabricio Bloisi, chief executive officer of Movile Group, a unit of Napsers Ltd, poses for a photograph in Amsterdam, Netherlands, on Thursday, Aug. 29, 2019. Naspers-owned internet ventures will be carved out into a new $100 billion company called Prosus NV, which is due to list in Amsterdam on Sept. 11. Photographer: Yuriko Nakao/Bloomberg
14 de Dezembro, 2023 | 04:50 AM

Bloomberg Línea — Depois de se consolidar na liderança com folga do mercado de delivery de restaurantes, o iFood tem investido para crescer em outros negócios, como entregas de supermercado, serviços de vale-refeição e empréstimos a restaurantes e outros parceiros, segundo disse o CEO, Fabricio Bloisi, em entrevista à Bloomberg Línea.

A expansão busca replicar o domínio do iFood em outras frentes. O negócio de entrega de produtos de farmácia é uma delas. Mesmo sem ter recebido investimentos que a empresa classifica como “consideráveis”, a área tem hoje uma receita de R$ 60 milhões ao mês, segundo o iFood.

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A estratégia vai em linha com a decisão do iFood de priorizar o mercado brasileiro, abrindo mão da expansão regional pela América Latina. No ano passado, a empresa decidiu deixar o negócio na Colômbia e hoje opera em apenas no Brasil.

“Nosso foco está só no Brasil porque temos uma das marcas mais amadas do país, com 50 milhões de clientes. Achamos que podemos expandir em várias adjacências”, disse o CEO do iFood em entrevista concedida durante o evento G4 Valley, organizado pela G4 Educação, no último domingo (10), em São Paulo.

Bloisi disse que o plano é usar a marca e os clientes do iFood para continuar a crescer para outras áreas como a explorada por fintechs. Segundo o CEO, a startup já emprestou R$ 500 milhões para restaurantes.

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O executivo é um dos cofundadores da Movile, holding controladora do iFood que, por sua vez, faz parte do grupo holandês Prosus. Ele assumiu o cargo de CEO do aplicativo em abril de 2019.

No ano passado, a Prosus adquiriu os 33,3% restantes de participação no iFood que eram do grupo Just Eat por € 1,5 bilhão em dinheiro, além de um compromisso de pagar até € 300 milhões em uma data futura. Na prática, a transação avaliou o iFood em US$ 5,4 bilhões, o que a elevou ao status de uma das startups mais valiosas da América Latina.

Com a operação, Bloisi afirmou que agora pode tomar decisões de negócio sobre os rumos do aplicativo de entrega com mais autonomia. “[Isso] significa mais controle do iFood para mim. Agora, posso tomar mais riscos em áreas que sempre quis explorar”, disse.

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“Estou em uma fase de investir mais, porque acho que estamos só começando. Podemos ter impacto muito maior não só no mercado de entregas de comida, como existe hoje, mas também em supermercados e em vale-refeição.”

O executivo se referiu ao negócio da iFood Benefícios, lançado em 2020, para oferecer vale-alimentação e vale-refeição para empresas por meio de sua plataforma, em parceria com os restaurantes cadastrados.

O negócio concorre com empresas tradicionais e líderes do setor, como Sodexo, Alelo e Ticket, além de startups, como a francesa Swile, que está capitalizada e aposta no Brasil como seu principal mercado, e a Caju Benefícios, entre outros.

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Em seu balanço mais recente, a Prosus reportou que a receita de negócios adjacentes do iFood, que considera a entrega de supermercados e a área de fintech (que fornece serviços financeiros a restaurantes e soluções de pagamentos, teve crescimento anual de 21%. Esse indicador chegou a US$ 69 milhões (cerca de R$ 345 milhões) nos seis meses encerrados em 30 de setembro de 2023.

As perdas operacionais da área, por sua vez, caíram de US$ 95 milhões para US$ 91 milhões em relação ao mesmo período do ano passado.

A receita total do iFood, por sua vez, atingiu US$ 679 milhões (cerca de R$ 3,4 bilhões) no mesmo período, e o lucro operacional aumentou 149%, para US$ 67 milhões (R$ 335 milhões).

O negócio principal de entrega de restaurantes do iFood cresceu 17% em moeda local, excluindo fusões e aquisições. No total, a receita com o negócio principal somou US$ 610 milhões.

O lucro do negócio principal de entrega cresceu 106% em moeda local, excluindo fusões e aquisições, totalizando US$ 114 milhões, impulsionada por eficiências operacionais, como custos de pessoal mais baixos e marketing mais direcionado, segundo a empresa.

IPO do iFood

Questionado sobre um eventual IPO (oferta pública inicial de ações) do iFood, o CEO Fabrício Bloisi disse que uma abertura de capital não está nos planos, ao menos no curto prazo.

Segundo ele, essa decisão permite à empresa ser mais flexível em suas decisões de investimento e dispor de mais liberdade. No entanto ele não descartou a possibilidade de abrir capital no futuro, sujeito à decisão do conselho de administração.

É um caminho que tem sido seguido por outras empresas que atuam no segmento de entregas no exterior.

Em setembro, a americana Instacart, de entregas de compras de supermercado, levantou US$ 660 milhões em um IPO na Nasdaq. Antes dela, empresas como a DoorDash, também dos Estados Unidos, e rivais europeus como Delivery Hero, Just Eat e Deliveroo abriram capital.

No caso da Europa, o desempenho na bolsa tem sido cheio de obstáculos, em período impactado pelas altas taxas de juros no mundo, que afeta em particular empresas de crescimento acelerado.

As três empresas (Delivery Hero, Just Eat e Deliveroo) perderam mais de 75% de seu valor de mercado desde o pico em setembro de 2021, segundo a Bloomberg News. Hoje elas adotam esforços para aumentar a rentabilidade, como redução de promoções agressivas.

Questionado sobre a competitividade no mercado brasileiro, Bloisi enfatizou a força da empresa em operar no país. Ele atribuiu o desempenho operacional com indicadores positivos e em crescimento do iFood ao foco em qualidade, atendimento ao cliente e inovação, destacando que a equipe de mais de 5.000 pessoas está concentrada no Brasil.

“Temos que nos orgulhar de uma empresa brasileira que opera uma das melhores do mundo no nosso segmento”, disse Bloisi, indicando a importância de operar em momentos diferentes do ciclo econômico.

“A tecnologia não é imune a essas mudanças [na economia]. Empresas de tecnologia precisam entender que, nas fases de contração, é hora de operar de forma mais eficiente”, disse o CEO.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups