Bloomberg Línea — Na burocracia brasileira, uma figura tem proeminência particular, o despachante, com atuação focada em lidar com tarefas diversas que demandam tempo de quem precisa.
Mas, à medida que a tecnologia avança, alguns desses serviços tendem a migrar para outras mãos. No caso, para o celular dos usuários.
No começo de setembro, o Detran-SP ganhou a premiação Gartner Eye on Innovation Awards for Government 2024 pela criação do sistema de Transferência Digital de Veículos (TDV).
O projeto faz uso de reconhecimento facial, assinatura digital e pagamento via Pix para agilizar um processo burocrático que demorava dias para ser concluído até pouco tempo atrás.
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Esse é um dos exemplos do que a startup Chaintech procura entregar aos seus clientes que procuram por serviços de “transformação digital”. A empresa atua na backoffice dos projetos e cresce em ritmo acelerado nos últimos anos.
Fundada em Brasília em 2009, a Chaintech faturou R$ 74 milhões em 2023, montante que deve pular para R$ 240 milhões em 2024, uma alta de mais de 220%.
A companhia atua no mercado de integradoras, orquestrando tecnologias e APIs para que mais serviços digitais estejam disponíveis ao consumidor final.
Executa os serviços com protocolos de duas fabricantes de tecnologia americanas: a Red hat, empresa do grupo IBM que fornece software de código aberto para grandes empresas, com soluções em nuvem para que possam integrar aplicações e infraestruturas e escalar os serviços.
E a ServiceNow, para o desenvolvimento de produtos de hiperautomação de processos.
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“Nós cuidamos, por exemplo, da base de dados biomédica do Tribunal Superior Eleitoral. Fazemos toda a integração, o controle de fila e a franquia - tudo para que os órgãos possam se conectar ao TSE”, afirmou Rodrigo Resende, sócio e CEO da Chaintech, em entrevista à Bloomberg Línea.
Atualmente, o banco de dados do órgão público é utilizado por mais de 15.000 instituições federais, estaduais e municipais. O acervo serve como base para a emissão de documentos como RG, passaporte e carteira de motorista.
Advogado de formação, Resende construiu a vida no setor de tecnologia. Começou na CTIS como estagiário, fazendo análise de processos licitatórios: na empresa, ascendeu à vice-presidência após pouco mais de uma década. Em 2014, a CTIS foi adquirida pela chilena Sonda.
O convite para a Chaintech veio em 2019, três anos após ter deixado a CTIS e ter cumprido o acordo de non-compete.
Inicialmente consultor, Resende se tornou sócio do negócio - que se reposicionou no mercado - e depois CEO. Antes uma revenda de serviços Oracle, a Chaintech decidiu priorizar produtos mais “nichados”, como Red hat e ServiceNow.
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Mudanças de tecnologia
Os serviços com as tecnologias das duas empresas americanas respondem por cerca de 95% da receita - 60% Red hat e 35% da ServiceNow.
“Quando as empresas precisam digitalizar os seus negócios, elas não querem commodities, e, sim, empresas de nicho, com conhecimento específico”, disse Resende.
“A ServiceNow, por exemplo, tem uma implantação mais acelerada, por ser baseada em low code, em relação ao desenvolvimento de softwares tradicionais.”
As mudanças no modelo de negócio fizeram com que a Chaintech pulasse de uma receita de R$ 15 milhões em 2019 para R$ 74 milhões em 2023.
O salto tem sido impulsionado, em grande parte, pela adoção da tecnologia Red hat em 2022.
A Chaintech atende companhias de grande porte, com investimentos em tecnologia superiores a R$ 100 milhões por ano. Entre os principais clientes estão órgãos de governos e o judiciário, como citado acima, e companhias do setor financeiro.
“São empresas que procuram desburocratizar os serviços. O setor financeiro já está bastante digitalizado. E, do lado público, os órgãos procuram tirar o foco dos pontos presenciais e colocar os serviços na palma das mãos dos cidadãos”, disse Resende.
É o caso dos contratos com o Detran-SP e o Banco da Amazônia (Basa), acordos que vão contribuir para o negócio triplicar o faturamento em 2024.
Com o Detran, a empresa também lançou um serviço para liberação dos veículos apreendidos e desenvolve um serviço de emplacamento digital para que os consumidores possam sair das concessionárias com o documento em mãos.
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A empresa também fechou uma parceria com a Junta Comercial do Estado de São Paulo para desenvolver um projeto que vai permitir a abertura de empresas enquadradas como MEI e limitada pelo celular.
“As pessoas vão abrir uma empresa na palma da sua mão, o que será incrível. A previsão é a de que seja lançado até o fim do ano”, disse.
No processo de impulsionar a transformação digital dos negócios, a Chaintech tem também o objetivo de diversificar as receitas, dado que 85% do total vem do setor público.
Para mudar o cenário, a empresa pretende fortalecer a capacidade de atração de clientes privados. A partir do ano que vem, terá um time dedicado em São Paulo para buscar oportunidades, movimento que deve ser feito também no Rio de Janeiro em um segundo momento.
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