Este brasileiro ganhou uma bolsa de Peter Thiel para largar Stanford e empreender

Felipe Meneses, 23 anos, cofundou a Hyperplane e deixou a faculdade do Vale do Silício para se dedicar ao seu projeto com apoio da Thiel Fellowship, que concede US$ 100 mil para jovens talentos

Felipe Meneses
26 de Maio, 2024 | 07:30 AM

Bloomberg Línea — Um dos fundadores do PayPal, o bilionário americano Peter Thiel é considerado um dos investidores em startups mais experientes e bem-sucedidos do Vale do Silício. Foi um dos primeiros a apostar no Facebook, ainda em seus primórdios, e hoje a empresa - por meio da Meta - é avaliada em US$ 1,2 trilhão. Outras investidas incluem Airbnb, LinkedIn, Spotify e Palantir.

Thiel também é conhecido no Vale do Silício pelo seu programa que oferece uma bolsa de US$ 100.000 ao longo de dois anos para jovens empreendedores. Em troca, os bolsistas concordam em abandonar ou adiar os estudos universitários para se dedicarem a seus projetos empresariais, de pesquisa científica ou inovações tecnológicas.

Pela primeira vez, um brasileiro recebeu a ajuda do bilionário para empreender: o sergipano Felipe Meneses, de 23 anos.

Meneses é cofundador de uma startup chamada Hyperplane, criada em 2022. A empresa usa inteligência artificial para ajudar bancos a processar dados e melhorar a experiência dos usuários.

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Antes de receber a bolsa para jovens talentos, Meneses cursava a graduação de ciência da computação na Universidade Stanford, pela qual passaram alguns dos mais inovadores e bem-sucedidos empreendedores do Vale do Silício, de Larry Page, cofundador do Google, a Elon Musk (brevemente).

“Conheço e respeito o programa desde jovem, mas fui rejeitado na primeira tentativa. Dois anos depois, tentei de novo e fui aceito”, disse Meneses à Bloomberg Línea. Ele contou que amigos em comum o apresentaram ao programa de Thiel.

Lançada em 2010, a Thiel Fellowship busca incentivar jovens talentos a seguirem caminhos não convencionais e a desenvolverem suas ideias sem as restrições tradicionais do sistema educacional formal. Os participantes recebem orientação e suporte de uma rede de mentores, que inclui empreendedores experientes, investidores e outros profissionais de destaque.

Entre os ex-participantes estão Vitalik Buterin, co-fundador do Ethereum, Dylan Field, cofundador e CEO da Figma, e Austin Russell, fundador da Luminar Technologies.

Os critérios de seleção incluem a originalidade e o potencial de impacto das ideias dos candidatos, além da capacidade de execução.

O programa de bolsas reflete a visão de Thiel de que, em muitos casos, os jovens podem alcançar grandes feitos se tiverem a liberdade e os recursos para explorar suas ideias desde cedo. No caso do Facebook, por exemplo, Mark Zuckerberg largou a Universidade Harvard para se dedicar à então startup.

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Destaque em matemática

Felipe Meneses se destacou desde jovem. Apaixonado por matemática, ele participou de um programa de desenvolvimento acadêmico e estudou matemática universitária precocemente.

Aos 14 anos, destacou-se na Olimpíada Brasileira de Matemática e foi convidado para o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA).

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“No curso de verão do IMPA, disseram que, se eu me saísse bem, poderia fazer mestrado e graduação paralela na FGV [Fundação Getulio Vargas]. Meu professor sugeriu Stanford como o melhor lugar para estudar, em que completei o equivalente a um mestrado em inteligência artificial.”

Ele trabalhou em startups focadas na otimização de processos e revisão de códigos, ganhando experiência em tecnologia e engenharia de software. Uma experiência marcante, segundo ele, foi seu estágio na startup brasileira Zippi durante o Y Combinator, em que aprendeu sobre startups e construção de produtos.

“A Zippi foi meu único estágio. Trabalhei com a Ludmila [Pontremolez], CTO, que me ensinou muito sobre como na vida real as coisas não vêm estruturadas como é na faculdade.”

Em 2019, Felipe conheceu seu sócio atual Felipe Lamounier e juntos enxergaram uma oportunidade no setor financeiro da América Latina. Junto com os demais sócios, o também brasileiro Daniel Silva e Rohan Ramanath, eles criaram uma plataforma de inteligência artificial que auxilia bancos a processar dados e melhorar serviços financeiros.

Hoje, com uma equipe de 30 pessoas, incluindo ex-engenheiros do Google (GOOGL) e da Microsoft (MSFT), a Hyperplane atende clientes brasileiros, mas quer expandir para os EUA.

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A plataforma oferece três produtos principais: um sistema que estima a capacidade de pagamento dos usuários, uma ferramenta para criar modelos personalizados para bancos e um sistema de segmentação que analisa o comportamento dos usuários.

Meneses enfatizou a importância, em sua visão, de desenvolver talentos locais. A empresa investe em programas de estágio e formação e recruta especialmente estudantes do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), para criar a próxima geração de engenheiros e líderes em tecnologia no Brasil.

Ele disse acreditar no enorme potencial do país e na capacidade dos talentos locais de resolver problemas globais, vislumbrando o Brasil como um futuro polo de inovação tecnológica.

“Hoje temos produtos de renda, para aumentar o limite de crédito. Por exemplo, para um banco digital aumentamos em 45% o volume de utilização do cartão sem aumentar a taxa de inadimplência. Isso é uma eficiência que podemos melhorar com IA”, disse o jovem empreendedor.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups