Distrito investe em agentes de IA de olho em mercado potencial de US$ 47 bi

AI Factory começou a ser desenvolvido no início do ano e conta com projetos para clientes como Honda e Boehringer Ingelheim. Expectativa é que se torne o principal negócio da empresa

O mercado de agentes de IA está estimado para chegar a US$ 47 bilhões em 2030 (Foto: Qilai Shen/Bloomberg)
Por Marcos Bonfim
12 de Novembro, 2024 | 06:03 AM

Bloomberg Línea — Conhecido pela atuação no ecossistema de inovação e startups, o Distrito está colocando uma nova operação de pé, a AI Factory, um serviço para implementar projetos de agentes de IA para grandes empresas. A nova unidade de negócio, projetam os sócios, deve se tornar a principal fonte de receita a partir do ano que vem.

A empresa colocou cerca de R$ 5 milhões para desenvolver a unidade de negócios, valor que considera investimento em infraestrutura, contratação de profissionais e custo com ferramentas, como LLMs (Large Language Models) e nuvem de companhias como Microsoft, Oracle e AWS.

O plano de negócios prevê ainda projetos desenvolvidos a “quatro mãos”, com uso de recursos humanos tanto do Distrito quanto de big techs.

O modelo do AI Factory começou a ser gestado no início do ano, em projetos para companhias como a montadora Honda, a empresa de viagens Copastur, a Lifetime Investimentos e a farmacêutica Boehringer Ingelheim, entre outras.

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“Nós já fizemos mais de 70 projetos para cerca de 30 clientes. No momento, estamos com 11 sendo executados pela Factory”, disse Gustavo Gierun, CEO do Distrito, em entrevista à Bloomberg Línea.

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“Nós temos exemplos de agentes de IA que fazem o trabalho de 30 pessoas em uma operação de back office, como leitura e emissão de contratos e atualização de score de crédito. Os agentes vão revolucionar o back office das empresas e achamos que 2025 vai ser um ano muito forte para isso”, disse Gustavo Araujo, cofundador e CIO de Distrito, na mesma entrevista.

Casos de uso que envolvem agentes de IA para atendimento a consumidores, vendas e processos administrativos e operacionais estão entre as principais demandas que chegam à plataforma.

Além de Gierun e Araujo, o Distrito - em operação há uma década, desde 2014 - tem a Casas Bahia como sócia. A rede adquiriu 16,67% do negócio em 2020, ainda como Via Varejo.

Em um caso de uso com a farmacêutica francesa Sanofi, a aplicação, que integrou o uso de análise de dados e IA na área jurídica, levou a um impacto financeiro de R$ 30 milhões para o cliente.

“O jurídico é também uma das áreas em que temos mais trabalhado. Conseguimos treinar os agentes para aprender como fazer uma minuta de um contrato e como analisar”, disse Araujo.

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Para Gustavo Araújo e Gustavo Gierun, a nova divisão tem o potencial de transformar o modelo de negócio do Distrito

De acordo com o sócio e CIO, a operação da AI Factory avançou nos últimos meses e tem entregado projetos como multiagentes de IA, o que significa a formação de times organizados e hierarquizados para a realização de tarefas específicas.

“Os projetos deste segundo semestre já começaram a ter uma aceitação de multiagentes mais fortes.”

Em outra frente, a unidade tem a capacidade, de acordo com os sócios, de desenvolver projetos de SLM (Small Language Models), que “rodam” apenas com os dados dos clientes, em operações mais críticas e que demandam atenção maior com a segurança de dados.

Um novo mercado

Após um primeiro momento de boom de LLMs usados em ferramentas como o ChatGPT, da OpenAI, o Gemini, do Google, e o Llama, da Meta, os agentes são vistos como uma nova onda de transformação.

Bigtechs como Salesforce e Microsoft, além de startups como a brasileira CrewAI, têm apresentado os seus pacotes de serviços e os seus exércitos de agentes para clientes corporativos.

Esse mercado está estimado em chegar a US$ 47 bilhões em 2030, de acordo com cálculos da consultoria Markets & Markets.

Para este ano, a projeção é que os agentes de IA movimentem cerca de US$ 5,1 bilhões. O cenário considera um crescimento anual composto de 45%.

Essa perspectiva é amparada por tais números e pela crescente entrada de clientes no mercado. O Distrito projeta que a AI Factory, em curto espaço de tempo, será o seu principal negócio. “Nós devemos quadruplicar a demanda até a metade do ano que vem”, estimou Araujo.

A nova operação foi criada a partir de experiências do GenAI Lab, o hub de experimentação do Distrito.

“Nós vamos dedicar mais recursos financeiros e atrair mais pessoas, para, justamente, crescer muito nesse mercado”, disse Gierun.

Atualmente, o Distrito conta com cerca de cem funcionários em todas as operações. No novo momento da AI Factory, a unidade passa a contar com times dedicados à operação. “Nós achamos que esse time ainda vai crescer bastante, principalmente nos próximos dois anos.”

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Marcos Bonfim

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark