De Microsoft à Amazon: gastos com IA ganham os holofotes em balanços

Diante de selloff no setor de tecnologia, resultados são aguardados em meio a temores de que os gastos tenham se tornado muito altos em relação aos retornos de curto prazo

Logos da Microsoft e da OpenAI: números trimestrais chegam em um mercado agitado por uma das mais rápidas e acentuadas rotações dos últimos anos
Por Jeran Wittenstein - Ryan Vlastelica
29 de Julho, 2024 | 12:50 PM

Bloomberg — A forte rotação setorial na bolsa fez com que o Nasdaq 100 caísse 8% em pouco mais de duas semanas, deixando o índice à beira de uma correção. Se ele conseguirá evitar isso provavelmente dependerá dos balanços de um pequeno grupo de empresas que, juntas, valem quase US$ 10 trilhões.

Em uma semana que também terá a decisão de juros do Federal Reserve, os investidores se concentrarão principalmente nos resultados da Microsoft (MSFT) na terça-feira (30), seguidos pela Meta (META), Apple (AAPL) e Amazon (AMZN) nos dois dias seguintes.

As apostas já eram altas depois que uma recuperação no primeiro semestre deixou as ações de big techs com altos preços de tela e valuations esticados.

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Elas se tornaram críticas, contudo, depois que os resultados da Alphabet (GOOGL) na semana passada levantaram a preocupação de que os gastos com inteligência artificial tenham se tornado muito altos em relação aos retornos de curto prazo.

“Esses balanços são realmente importantes”, disse Michael O’Rourke, estrategista-chefe da Jonestrading. “Se essas empresas não conseguirem superar as expectativas, acho que a interpretação é que a IA não está produzindo os resultados esperados.”

Os números trimestrais chegam em um mercado agitado por uma das mais rápidas e acentuadas rotações dos últimos anos. Os investidores têm ficado mais cautelosos em relação às empresas que estão na vanguarda da IA, depois de ignorarem por meses os avisos de que o rali estava se estendendo demais.

Eles venderam um total de US$ 2,6 trilhões do Nasdaq 100 e investiram em ações que há muito tempo estavam atrasadas, incluindo pequenas empresas e aquelas do setor financeiro e industrial.

A rotação para setores cíclicos do mercado começou depois que dados de preços de junho mostraram um arrefecimento da inflação, alimentando as apostas de que o Fed cortará as taxas de juros já em setembro.

O Russell 2000 deu um salto de 10% desde então, enquanto as empresas financeiras e industriais do S&P 500 subiram mais de 3,5%. Os investidores terão pistas sobre possíveis cortes quando o Fed divulgar sua decisão de política monetária na quarta-feira (31), que será seguida por um discurso do presidente Jerome Powell.

Big techs testam sentimento

O primeiro teste será a Microsoft. A gigante de software vem integrando serviços de IA em seu portfólio e gastou muito para aumentar a capacidade do data center.

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No terceiro trimestre fiscal da empresa, encerrado em março, a Microsoft investiu US$ 11 bilhões em despesas de capital. A projeção é de que esse número aumente para mais de US$ 13 bilhões no quarto trimestre fiscal.

A Meta, que divulga seu balanço na quarta-feira (31), e a Amazon, que publica seus números trimestrais na quinta-feira (1º de agosto), também gastaram muito, e os investidores buscarão sinais de que a IA está contribuindo para um aumento da receita.

As ações da Apple subiram 32% em relação à baixa de abril devido ao otimismo sobre os planos da empresa de integrar serviços de IA em seus iPhones. Os investidores também vão buscar detalhes quando a empresa apresentar seu balanço na quinta-feira.

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"Há preocupações crescentes de que o retorno sobre o investimento de gastos pesados com IA esteja mais distante ou não seja tão lucrativo quanto se acreditava, e isso está repercutindo em toda a cadeia de semicondutores e em todas as ações relacionadas à IA", disse James Abate, diretor de investimentos da Centre Asset Management.

O selloff está aumentando entre algumas das ações de IA que mais sobem no ano. A Nvidia (NVDA), que está na vanguarda do setor, caiu 17% em relação ao recorde de alta registrado em 18 de junho, quando ultrapassou a Microsoft e a Apple para se tornar brevemente a empresa mais valiosa do mundo.

A Dell (DELL), que fabrica servidores usados em data centers, caiu 37% em relação ao pico registrado em maio. Já a rival Super Micro Computer caiu 40% desde março.

As seis maiores ações de tecnologia dos EUA foram responsáveis pela maior parte do avanço de 14% do S&P 500 no primeiro semestre.

Os valuations dispararam, com o S&P 500 atingindo sua maior relação preço/lucro projetado desde 2002 no início deste mês.

"As grandes empresas de tecnologia foram precificadas com perfeição e foram responsáveis por quase todos os ganhos do mercado, o que apenas ressalta a vulnerabilidade do grupo", disse Abate.

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