Data centers vão se tornar fábricas de inteligência artificial, diz CEO da Nvidia

Em apresentação da companhia em San Jose, no Vale do Silício, Jensen Huang compartilhou sua visão sobre como a IA generativa vai impactar os modelos existentes de produção

CEO da Nvidia
20 de Março, 2024 | 05:05 AM

San Jose — Os sistemas de inteligência artificial (IA) têm evoluído rapidamente e caminham para se tornar a fundação de uma nova revolução industrial, baseada em modelos digitais. Essa foi a visão compartilhada pelo CEO da Nvidia (NVDA), Jensen Huang, no evento anual da companhia nesta semana em San Jose, na Califórnia.

O executivo defendeu que a inteligência artificial tem o poder não apenas de melhorar a eficiência do trabalho nas empresas como também irá se tornar um novo modelo de produção. Por trás dessa evolução estão os sistemas de inteligência artificial generativa, como os usados pelo ChatGPT, da OpenAI.

Na visão de Jensen, os data centers vão se tornar as fábricas do futuro. Isso porque os sistemas de IA vão permitir criar representações digitais idênticas de objetos, estruturas, edifícios, máquinas e grandes equipamentos do mundo físico.

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Com essas representações, chamadas de “gêmeos digitais” (digital twins), as empresas serão capazes de fazer testes e identificar potenciais problemas antes da construção ou da fabricação física em si.

“No futuro, os data centers vão ser vistos como uma fábrica de inteligência artificial. O objetivo de uma fábrica de inteligência artificial é gerar receitas, gerar inteligência”, afirmou Huang ao apresentar a Blackwell, a nova versão da plataforma da empresa para GPUs voltadas para IA, na segunda-feira (18).

Aplicações desse tipo já são usadas por empresas do setor industrial para planejar a construção de novas unidades de produção a partir de modelos digitais exatos ou também para a fabricação de estruturas complexas, como grandes navios de carga. Empresas também podem usar a solução para fazer um planejamento de grandes centros de distribuição automatizados.

A evolução só foi possível, na visão do CEO e cofundador da Nvidia, porque empresas como a OpenAI e outras startups foram capazes de desenvolver sistemas que conseguem reconhecer o significado dos textos e transformá-los em novas representações digitais.

Jensen Huang, co-founder and chief executive officer of Nvidia Corp., speaks during the Nvidia GPU Technology Conference (GTC) in San Jose, California

“O computador hoje reconhece texto, imagens, vídeos e sons. Não só reconhece mas entende o significado”, disse Huang.

“Se o computador pode entender essas coisas, o que mais pode entender sobre algo que foi digitalizado? Nós digitalizamos muitas outras coisas. Proteínas, genes, ondas cerebrais. Para tudo que pode ser digitalizado nós provavelmente poderemos encontrar padrões e entender o seu significado. Se nós conseguirmos entender o significado, podemos gerar também.”

Embora concorrentes como Intel (INTC) e AMD (AMD) estejam trabalhando em equipamentos semelhantes, os conjuntos de processadores da Nvidia hoje lideram o mercado e são usados por centenas de startups e grandes empresas para treinar os seus modelos de inteligência artificial.

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Como a Nvidia entrou para a IA

Fundada em 1993, a Nvidia cresceu produzindo placas de processamentos gráficos (GPUs, na sigla em inglês), utilizadas principalmente por jogadores de games. No final dos anos 2000, executivos da companhia perceberam o potencial dos equipamentos para rodar aplicações de IA e passaram a direcionar esforços para o desenvolvimento de soluções específicas para esse uso.

Atualmente, os chips de alta capacidade da empresa são responsáveis pelo rápido crescimento das receitas e do lucro da companhia, em meio à febre da inteligência artificial que fez a Nvidia se tornar a terceira maior empresa do mundo em valor de mercado (US$ 2,24 trilhões no fechamento de terça-feira).

No quarto trimestre, a empresa registrou receita de US$ 22,1 bilhões, um aumento de 265% em um ano, enquanto o lucro líquido chegou a US$ 12,829 bilhões (alta de 491%).

Durante a apresentação, Jensen contou uma história que representa a evolução da Nvidia e o que a empresa se tornou.

Em 2016, o CEO foi pessoalmente entregar a primeira máquina da empresa decidida à inteligência artificial ao seu primeiro cliente. O equipamento era o primeiro modelo de um conjunto de processadores computacionais e gráficos (GPUs e CPUs), chamado de DGX, com o objetivo de fazer cálculos em paralelo em alta velocidade.

Era o tipo de capacidade de que o cliente da Nvidia necessitava para treinar o seu modelo de IA. O primeiro cliente não era uma big tech do setor como o Google, a Microsoft ou a Amazon, mas uma startup de São Francisco, na Califórnia, então pouco conhecida: era a OpenAI, a mesma que mais tarde viria a desenvolver o ChatGPT e se tornar mundialmente conhecida e cada vez mais valiosa.

A foto tirada naquele dia mostra o CEO da Nvidia com a mão na máquina e o empresário Elon Musk, então cofundador e investidor inicial da empresa. “Para Elon e a equipe da OpenAI”, escreveu Huang, ao autografar o equipamento.

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.