Criador do Orkut planeja nova rede social para evitar ‘armadilha do engajamento’

Orkut Büyükkökten diz à Bloomberg Línea que redes vigentes resultam em ansiedade, raiva e solidão e que objetivo de nova plataforma será reforçar conexão de verdade entre pessoas

iPhone com aplicativos de redes sociais diversas (Foto: Jaap Arriens/NurPhoto via Getty Images)
29 de Maio, 2024 | 10:25 AM

Bloomberg Línea — Orkut é um nome que remete à nostalgia para millennials brasileiros.

Foi uma das primeiras redes sociais nos anos 2000, criada pelo engenheiro de software turco Orkut Büyükkökten. O Orkut permitia que os usuários criassem perfis pessoais, se conectassem com amigos, participassem de comunidades e compartilhassem conteúdo como fotos e mensagens.

Mas, com o crescimento do Facebook e outras plataformas de mídia social, como o MySpace, o Orkut perdeu sua relevância global e, em 2014, o Google, então empresa-mãe do Orkut, anunciou que iria encerrar a rede social devido à falta de popularidade e à competição com outras plataformas. Mais tarde, esse espaço foi dominado por redes como Instagram, Twitter e Snap, além do TikTok, entre outras.

Mas seu criador de sobrenome homônimo agora promete uma nova rede social para restaurar o conceito de conexão online e interação social na internet. O nome ainda não é revelado.

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Em entrevista à Bloomberg Línea, Büyükkökten disse que a atual dinâmica das redes sociais tem se concentrado mais em engajamento do que na construção de conexões verdadeiras entre os usuários. Para ele, os algoritmos são direcionados para gerar engajamento e maximizar receitas publicitárias, muitas vezes resultando em conteúdo que, em vez de agregar, promove polarização e discórdia.

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“Se você observar como as plataformas de mídia social usaram IA [Inteligência Artificial] e machine learning [aprendizado de máquina], verá que a ênfase tem sido na geração de engajamento, porque, quanto mais engajamento você tem, mais anunciantes e mais receita você terá.”

“Como resultado disso, os algoritmos não foram otimizados para unir as pessoas. Eles têm se concentrado em melhorar o engajamento. Nós nos esforçamos para ganhar popularidade online porque queremos atrair o máximo de atenção. O que atrai mais atenção é o conteúdo que desencadeia emoções e, principalmente, raiva”, disse Büyükkökten.

“Por isso que temos tanto conteúdo de ódio e raiva, porque esse é o tipo de conteúdo que é mais compartilhado e que aumenta o engajamento”, explicou sobre o modelo das redes.

Ao refletir sobre a influência da IA nas redes sociais, Büyükkökten ressaltou a necessidade de utilizar essa tecnologia para promover uma sociedade mais saudável. Segundo ele, sua nova plataforma terá foco em comunidade, positividade e conexão, para reunir as pessoas de maneira significativa.

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“Acho que, mais do que nunca, precisamos usar o poder da IA e de machine learning para melhorar algoritmos para que possamos criar uma sociedade. Com o Orkut, nunca manipulamos o comportamento do usuário. E hoje vivemos em um ambiente de capitalismo de vigilância.”

Ele fez referência ao conceito popularizado pela ex-professora da Harvard Business School (HBS) Shoshana Zuboff, autora do livro “The Age of Surveillance Capitalism” (“A Era do Capitalismo de Vigilância”), sobre a dominação de empresas de tecnologia e a coleta de dados de comportamento das pessoas como uma espécie de poder paralelo que não passa por instituições democráticas.

“Cada experiência do usuário, cada interação que você tem nas redes sociais, é transformada em dados e esses dados são usados para construir modelos para prever o comportamento humano. Como os humanos tomam decisões de maneiras previsíveis, as empresas são capazes de facilitar a manipulação e a IA é uma grande parte disso”.

‘Redes geram ansiedade e solidão’

Büyükkökten disse que seu objetivo é criar uma rede social lucrativa, mas com um compromisso com o bem-estar dos usuários. Externou preocupação com a atual crise de saúde mental e a polarização exacerbada pelas redes sociais tradicionais e afirmou que a nova plataforma buscará mitigar esses problemas.

“Temos que otimizar as mídias sociais para criar uma sociedade melhor. Hoje, as redes sociais estão criando ansiedade, depressão, solidão e problemas de saúde mental. Temos esta incrível oportunidade de usar inteligência artificial e aprendizado de máquina para criar um mundo melhor.”

Esta será a quinta rede social criada por Orkut.

Büyükkökten reconheceu a importância da proteção da privacidade, mas também destacou a necessidade de medidas para combater informações prejudiciais, como fake news e discurso de ódio.

Detalhes específicos sobre a nova plataforma ainda não tenham sido divulgados, Büyükkökten disse que o lançamento inicial ocorrerá no Brasil, com planos de expansão global. Ele enfatizou a importância de garantir que a plataforma seja capaz de lidar com um grande número de usuários desde o início para garantir uma experiência consistente para todos os consumidores.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups