Como uma startup de cibersegurança se tornou alvo do Google em negócio de US$ 23 bi

Wiz, fundada há quatro anos por Assaf Rappaport e outros empreendedores israelenses, pode se tornar a maior aquisição da história da Alphabet

Logo da Wiz
Por Marissa Newman - Jordan Robertson - Galit Altstein
17 de Julho, 2024 | 04:00 PM

Bloomberg — Há dois meses, a Wiz comemorava um marco importante: acabara de levantar uma rodada de financiamento de US$ 1 bilhão, elevando seu valuation para US$ 12 bilhões.

Os investidores estavam entusiasmados com a empresa de cibersegurança em nuvem, que absorvia US$ 400 milhões em aquisições, expandia rapidamente sua presença nos Estados Unidos e começava a vislumbrar uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês).

PUBLICIDADE

Então o Google ligou.

Agora, a Wiz, que é administrada por fundadores israelenses e tem sede em Nova York, está em negociações com a Alphabet (GOOGL), controladora do Google, e pode sair com uma oferta de até US$ 23 bilhões apenas quatro anos após sua fundação.

A Alphabet e a Wiz não comentaram sobre o possível acordo, que, se confirmada, seria a maior aquisição da Alphabet em todos os tempos. O negócio ainda pode ser desfeito ou enfrentar longos obstáculos antitruste nos Estados Unidos e na Europa.

PUBLICIDADE

Caso seja concretizado, será a segunda vez que a equipe da Wiz venderá um negócio para uma grande empresa de tecnologia dos Estados Unidos.

O CEO da Wiz, Assaf Rappaport, e os cofundadores estavam por trás da Adallom, outra empresa de segurança em nuvem que eles venderam para a Microsoft (MSFT) por US$ 320 milhões em 2015.

Leia mais: Alphabet, do Google, está perto de maior aquisição de sua história

PUBLICIDADE

Rappaport apontou a necessidade de consolidação no setor de segurança cibernética. Em uma entrevista à Bloomberg em março, o CEO disse que a situação do mercado significava que até mesmo as pequenas empresas precisavam usar dezenas de ferramentas de segurança, o que estava pressionando o crescimento das plataformas cibernéticas multifuncionais.

As exigências também aumentaram a pressão sobre as startups de nicho, disse ele. “Por exemplo, nem toda startup pode fazer IPO e se tornar um unicórnio”, disse Rappaport na entrevista. “Talvez uma rota para uma saída [venda] seja o caminho certo.”

Rappaport se recusou a ser entrevistado para esta reportagem.

PUBLICIDADE

Investidores e analistas atribuem a ascensão meteórica da Wiz à identificação precoce da segurança para a nuvem como um campo pouco concorrido com uma base de clientes rica e crescente.

A Wiz afirma que 40% das empresas listadas na Fortune 100 são seus clientes e que obtém US$ 350 milhões em receita recorrente anual. Ela também atraiu grandes fundos de investimento de venture capital, incluindo Sequoia Capital, Andreessen Horowitz, Index Ventures, Insight Partners e Cyberstarts. O bilionário Bernard Arnault, da LVMH, financiou a startup, assim como o ex-CEO da Starbucks Howard Schultz.

Depois de deixar o cargo de chefe do centro de pesquisa e desenvolvimento da Microsoft em Israel, Rappaport e seus sócios Yinon Costica, Roy Reznik e Ami Luttwak - que se conheceram na unidade de inteligência 8200 do exército israelense duas décadas antes - decidiram formar outra startup em 2020.

Leia mais: Empresa de cibersegurança com apoio da Microsoft busca até US$ 713 mi em IPO

Inicialmente, eles planejaram desenvolver uma solução de segurança de redes com o nome de Beyond Networks. Mas acabaram decidindo criar outra empresa de segurança em nuvem, uma decisão que se mostrou acertada - e, como Rappaport disse anteriormente - um pouco sortuda.

Com a pandemia de covid-19, os trabalhadores foram forçados a sair de seus escritórios para trabalhar em casa e as empresas correram para migrar os principais aplicativos e dados para a nuvem. Os cibercriminosos aproveitaram o caos, aumentando os ataques aos sistemas corporativos e visando os funcionários com configurações inseguras em casa.

“Olhando para trás, se você me pedisse para escolher o melhor momento da história para abrir uma empresa de segurança cibernética na nuvem, eu diria março de 2020″, disse Rappaport, em um artigo publicado no site da Index Ventures.

A transferência segura de dados para a nuvem e para computadores operados por terceiros pode ser complicada e demorada. O software de segurança cibernética normalmente funciona tentando inspecionar cada arquivo em uma máquina para identificar e corrigir possíveis problemas. As varreduras feitas por antivírus e outros softwares de segurança são notórias por levarem horas ou dias para serem concluídas.

A tecnologia da Wiz resolve esse problema conectando-se remotamente aos computadores em nuvem dos clientes, examinando-os rapidamente em busca de tudo, desde softwares mal-intencionados até segredos corporativos e dados pessoais expostos e configurações inseguras que poderiam levar a uma violação.

Usando essas ferramentas, os departamentos de segurança obtêm rapidamente uma visão completa de suas redes e vulnerabilidades em diferentes provedores de nuvem, de acordo com Neil MacDonald, vice-presidente da Gartner. Isso é feito tirando o que equivale a fotografias desses sistemas e identificando possíveis caminhos de ataque para os hackers sem exigir a instalação de software diretamente nas máquinas.

“A Wiz cresceu tão rapidamente porque, em um único console e em questão de horas, um profissional de segurança pode aplicar a solução para as configurações complexas no AWS, no Azure,e no Google Cloud Platform - até mesmo aplicativos que abrangem esses sistemas - e identificar e priorizar rapidamente esses riscos”, disse MacDonald.

A empresa compete principalmente em dois mercados - “plataformas de proteção de carga de trabalho em nuvem”, que detectam e protegem vulnerabilidades em cargas de trabalho, e “gerenciamento de postura de segurança em nuvem”, que encontra e corrige configurações incorretas em nuvens híbridas.

Leia mais: Nova solução da OpenAI imita a voz de pessoas e amplia preocupação com deepfake

Ambos os negócios estão crescendo mais de 25% ao ano e a previsão é que alcancem US$ 5,2 bilhões e US$ 2,1 bilhões, respectivamente, este ano, disse MacDonald. Entre seus concorrentes estão a Microsoft, a Palo Alto Networks, a Check Point Software a CrowdStrike.

Para o Google, a aquisição da Wiz ajudaria a se equiparar aos rivais em segurança na nuvem. No entanto, o tamanho da aquisição seria incomum para uma grande empresa de tecnologia e pode atrair ainda mais o escrutínio dos órgãos reguladores antitruste.

O comprador também pode ter que lidar com uma ação judicial entre a Wiz e a rival Orca Security - outra startup israelense que acusa a Wiz de infringir sua propriedade intelectual. A Wiz já havia chamado as alegações de “sem fundamento”.

Não são apenas os órgãos reguladores que estarão atentos. As negociações são observadas de perto em Israel, onde a Wiz foi fundada. Se concluído, o negócio seria o maior de todos os tempos para uma empresa fundada no país, depois da aquisição da Mobileye pela Intel por US$ 15,3 bilhões, que fabrica tecnologia para veículos autônomos, em 2017.

As autoridades israelenses já estimam o que poderiam arrecadar. As receitas fiscais do negócio poderiam ultrapassar US$ 3 bilhões, ou cerca de 0,5% do PIB de Israel - um ganho inesperado para um país no meio de uma guerra cara com o Hamas - de acordo com Yaniv Shekel, sócio sênior do escritório de advocacia Shekel, especializado em direito tributário e comercial.

“Você precisa ser muito cuidadoso com as aquisições e com a forma de criar uma tecnologia única e coerente”, disse Rappaport em março, falando em seu papel de comprador que acabara de concordar em adquirir a Gem Security. “As aquisições não são a cura para tudo.”

-- Com a colaboração de Lynn Doan.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Jantares e encontros com estranhos buscam ser alternativa a apps como Bumble

Mais valioso que Netflix? YouTube avança no streaming à sombra da Alphabet