China e modelo open source serão as vencedoras da IA, diz CEO do Web Summit

Em entrevista à Bloomberg Línea, Paddy Cosgrave diz que o avanço da inovação do país asiático é a única megatendência e cita pesquisas de ponta desenvolvidas no mundo acadêmico em larga escala

Paddy Cosgrave, CEO do Web Summit: O que torna a China tão dominante em tantas áreas de tecnologia avançada é o setor universitário
29 de Abril, 2025 | 06:36 AM

Bloomberg Línea — Em sua terceira edição no Brasil, o Web Summit repete a fórmula que o transformou em um dos maiores eventos de inovação do mundo, com palcos dominados por executivos de multinacionais americanas.

Da China, a principal presença é a do TikTok, plataforma que vive dias de incertezas nos Estados Unidos, cujo governo - desde a era Biden - procura forçar a venda de sua operação americana pela controladora ByteDance para uma big tech.

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O cenário corrente da plataforma contrasta com a perspectiva mais ampla defendida pelo cofundador e CEO do Web Summit, Paddy Cosgrave.

O empreendedor irlandês prevê que a China e os modelos open source serão os vencedores na corrida de IA generativa, apesar de as big techs americanas estarem hoje por trás dos principais LLMs (Large Language Models).

São os casos da OpenAI, cujo maior investidor é a Microsoft, com o ChatGPT, Google, com o Gemini, e a Meta, com o Llama.

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“Este é o século da China. Disso não há dúvida”, afirmou na abertura da edição do Web Summit Rio. Em entrevista à Bloomberg Línea, ele reforçou essa visão.

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“A China é a única mega tendência hoje. A inteligência artificial open source exerce uma grande influência e, entre as megatendências no mundo, a única verdadeira são a China e a tecnologia chinesa”, disse.

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De acordo com o irlandês, a sua perspectiva vem do acompanhamento do volume de pesquisas de ponta que estão sendo desenvolvidas no país asiático.

Em entrevista à rádio Bloomberg em Hong Kong, em 2018, ele já previa a dominação do país em inteligência artificial (IA).

“Eu continuo a acreditar que a China vai ganhar porque, quando olhamos para o número de citações de alta qualidade — ou seja, pesquisas realmente relevantes que estão sendo realizadas no mundo todo —, a maioria já vem da China”, afirmou.

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“E o ritmo com que a China está produzindo avanços importantes em machine learning, deep learning e inteligência artificial generativa só está acelerando em comparação ao resto do mundo.”

O sucesso da estratégia se baseia em um modelo já conhecido e que, por décadas, fez parte de um modelo bem-sucedido da escola americana.

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Isto é, conectar os conhecimentos criados e estruturados nas universidades e nos centros de pesquisa a empreendedores capazes de levar essas inovações ao mercado e transformá-las em modelos de negócios pelo mundo.

“Não é o setor privado que está impulsionando essa liderança. O que torna a China tão dominante em tantas áreas de tecnologia avançada é o setor universitário, que realiza a pesquisa de ponta mais difícil e inovadora, que depois é comercializada pelo setor privado”, disse o CEO do Web Summit.

A projeção do executivo é que, assim como a China passou a dominar produções industriais e de alta tecnologia, o mesmo irá acontecer com as próximas fronteiras da inovação, com IA, deep learning e robótica.

O anseio do Web Summit, por sua vez, é poder contar com uma presença cada vez maior de negócios de origem chinesa e de suas lideranças.

Na edição de Lisboa, o Web Summit já recebeu Kuo Zhang, CEO do Alibaba. O próximo grande nome desejado por Cosgrave é Liang Wenfeng, co-fundador da DeepSeek, a plataforma de IA que abalou o mundo de tecnologia ocidental com seu modelo de IA apontado como revolucionário no fim de janeiro.

A disputa entre as duas maiores economias do mundo ganhou novos contornos nos últimos meses, com o retorno de Donald Trump à Casa Branca.

O presidente americano tem ameaçado diversas nações com a imposição de tarifas comerciais sobre a importação de produtos, o que inclui componentes e produtos de tecnologia, de chips de IA a computadores e smartphones.

O CEO do Web Summit evitou levar as discussões para o centro do palco. Apesar disso, Cosgrave disse que o tema deve emergir.

“Pessoalmente, acredito que vamos ver no palco uma visão muito mais pró-China do que aquela que normalmente se consome na imprensa de tecnologia, que é muito dominada pela perspectiva do mundo ocidental”, afirmou.

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Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark