Bloomberg Línea — Fabricio Bloisi fechou o seu primeiro semestre fiscal no comando da Prosus, um dos maiores grupos de investimento em tecnologia do mundo, com sede em Amsterdã, animado não só com os resultados mas, principalmente, com o que ele descreveu como uma mentalidade mais voltada para inovação.
A holding alcançou no semestre fiscal encerrado em setembro a marca de US$ 2,963 bilhões em receita e entregou um Ebit ajustado de US$ 181 milhões, cinco vezes o resultado anterior.
“Eu acho que esse é um bom começo, mas o mais importante para mim é que, ao mesmo tempo, a empresa anda mais rápido, inova mais, fala mais de futuro e busca criar esse futuro com tecnologia e inovação”, afirmou Bloisi em entrevista à Bloomberg Línea.
A operação da Prosus cresceu em receita em todas as verticais de negócios, como delivery, classificados, fintechs e meios de pagamentos, varejo digital e edtechs. As três últimas, porém, fecharam com Ebit - uma métrica de resultado operacional - negativo, apesar da melhora nos números.
A companhia registrou lucro de US$ 60 milhões, após prejuízo de US$ 110 milhões no mesmo período do ano anterior.
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Os números do semestre foram ajudados também pelo IPO do app de delivery indiano Swiggy, avaliado em US$ 11,3 bilhões. A Prosus vendeu mais de US$ 2 bilhões de ações da startup, na qual fez o primeiro investimento há mais de sete anos.
De acordo com o brasileiro, esses primeiros resultados já refletem a cultura que deseja imprimir na companhia, com foco em melhorar a eficiência operacional dos negócios.
“Com fundador, eu tenho muita pressa de andar mais rápido. O que eu tenho feito é integrar e criar um ecossistema com a cultura de empresas de tecnologia, então tem muita mão minha”, disse Bloisi.
“Eu não sou o investidor da holding que fica olhando Excel, eu sou um cara que olha para o resultado diariamente. Acho que temos melhorado os resultados um pouco por causa disso.”
O executivo foi um dos fundadores da Movile, holding que reúne plataformas como a empresa de ingressos Sympla, a PlayKids, a ferramenta de pagamentos Zoop, além do iFood, do qual Bloisi foi CEO por anos antes de assumir a operação da Prosus em julho passado.
Transformação do e-commerce com IA
Uma das prioridades para entregar mais resultados está nos investimentos em Inteligência Artificial. O executivo brasileiro não abre números de quanto a Prosus pretende aportar, mas disse que a holding tem “muita capacidade de investimento e eu espero investir bastante”.
Os primeiros aportes começaram dentro de casa com o Toqan, IA que “roda” em 26 companhias do portfólio, reúne mais de 23.000 usuários e tem aumentado a produtividade dos funcionários em 15% nas tarefas do dia a dia. O segundo investimento está em áreas como marketing digital e antifraude, em negócios como o iFood.
A holding mira agora um processo para transformar a forma como as pessoas adquirem produtos. No “Large Commerce Model”, como batizaram, a Prosus pretende usar os dados dos bilhões de transações que circulam em empresas do grupo para construir um modelo preditivo que tenha a capacidade de antecipar os desejos dos clientes.
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“IA tem funcionado muito com texto, vídeo e imagem, mas não mudou completamente como o e-commerce funciona. Nós estamos investindo bastante nisso e espero que crie um diferencial competitivo para nós”, afirmou Bloisi.
A estratégia é complementada pela busca por startups de IA que possam entrar para o portfólio, seja a partir de investimentos como sócio ou aquisições estratégicas.
As ações subiram 2% nesta segunda na Bolsa Euronext de Amsterdã, para 39,32 euros, o que representou um market cap de 96 bilhões de euros - cerca de US$ 101 bilhões.
Troca de melhores práticas
No caminho para criar os próximos US$ 100 bilhões em valuation para a Prosus, um mantra repetido desde que assumiu o comando do grupo, a pretensão de Fabricio é fomentar mais as trocas de conhecimento entre os negócios do portfólio. “Se o iFood é excepcional em customer support com uso de IA, eu tenho que levar isso para todas as outras empresas”, afirmou.
A estratégia também se conecta com os investimentos que a Prosus tem feito.
No mercado doméstico, a holding anunciou nos últimos dias aporte de US$ 5 milhões na Mevo, healthtech de prescrições digitais, e também na Shopper, de delivery de produtos de supermercados, como parte de uma série de investimentos que totalizaram US$ 300 milhões no semestre globalmente.
No caso das investidas brasileiras, a potencial complementaridade vem a partir da relação com o iFood, o que amplia o tráfego de usuários para as operações e também as receitas. “O mindset é investir em empresas que nos fazem funcionar mais rápido”.
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A empresa líder do segmento de delivery no Brasil foi um dos destaques no balanço da Prosus: o iFood apresentou crescimento expressivo, com alta de 32% no GMV (volume bruto transacionado) e de 30% na receita, para US$ 674 milhões (cerca de R$ 4 bilhões ao câmbio atual).
No balanço, além de citar o IPO da Swiggy, a Prosus prevê a abertura de cinco outros negócios na Índia. Questionado sobre a abertura de capital do iFood, Bloisi afirmou que não está no radar.
“O meu foco de IPO agora é a Índia, nós temos vários lá”, disse. “O nosso nível de animação com o que o iFood pode fazer está muito alto e espero continuar com muito investimento e inovação.”
Com o lançamento de funcionalidades como o iFood Salão e totens para pedidos em restaurantes físicos, a expectativa é que a plataforma de delivery possa destravar um potencial de crescimento de duas a três vezes os níveis atuais nos próximos anos.
A companhia vem em trajetória ascendente e bateu a marca de 115 milhões de pedidos em novembro - três meses antes, em agosto, tinha comemorado a marca inédita de 100 milhões.
Os investimentos no Brasil
A chegada de Bloisi ao comando da Prosus aumentou a expectativa de maiores investimentos no Brasil. O CEO afirma que não quer ser “bairrista, mas eu diria que parece haver oportunidades para a Prosus no Brasil”.
Ele citou como exemplo a trajetória da holding de investimentos em mercados como a China, onde começou há mais de 20 anos, e na Índia, há menos de uma década.
No primeiro caso, investiu na Tencent em 2001 e pagou US$ 34 milhões por 50% do capital - hoje um negócio avaliado em meio trilhão de dólares. No segundo, apostou na então embrionária Swiggy, a recém-listada companhia de US$ 13 bilhões.
“Eu acho que o ecossistema brasileiro tem muito pra crescer pela frente e nós estamos excepcionalmente bem posicionados para investir mais”, afirmou. Outras investidas de peso no país, como OLX e Creditas, podem contribuir para alavancar novos negócios, segundo ele.
“Acho que falta ao Brasil, às vezes, capital inteligente para entender o que está acontecendo no mundo e garantir que as suas empresas tenham melhor performance. E acredito que a Prosus pode fazer isso muito bem, porque nós temos capital e inteligência do mundo”, afirmou.
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