Apple: após ‘decepção’ com headset, analistas procuram novo gatilho para ação

Múltiplos da companhia são considerados elevados depois do rali neste ano, o que deixa investidores em dúvida sobre os papéis; ações voltaram a cair nesta terça

O headset da Apple lançado nesta segunda-feira (5) traz uma tecnologia de realidade mista, mas o preço foi considerado um obstáculo para o seu sucesso, segundo analistas
Por Jeran Wittenstein - Subrat Patnaik
06 de Junho, 2023 | 05:23 PM

Bloomberg — A reação considerada fria do mercado financeiro ao lançamento dos headsets de realidade mista da Apple (AAPL) na segunda-feira (5) deixou investidores refletindo sobre o que poderia funcionar como um novo “empurrão” ao rali que levou os preços das ações da empresa a um patamar recorde.

As ações da Apple fecharam o dia na segunda com baixa de 0,8% depois de terem atingido o maior valor de todos os tempos pouco antes do evento de lançamento de produtos da empresa, que, além dos headsets, apresentou novos modelos de computadores.

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Na tarde desta terça (6), as ações continuaram em queda, fechando com recuo de 0,21%. A avaliação de analistas é a de que o preço anunciado de US$ 3.500 dólares pelo headset Vision PRO limitaria a atratividade do produto.

Erik Woodring, do Morgan Stanley, disse que está olhando para outubro à espera de um novo gatilho para as ações. O analista espera ter mais dados sobre os volumes iniciais dos headsets e sobre o momento preciso do lançamento.

Muito do sucesso do Vision PRO dependerá do desenvolvimento de um “aplicativo matador” que leve a nova tecnologia “do nicho ao mainstream”, disse Woordring em nota.

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Levando em conta o valuation atual, a Apple precisa que o fluxo de notícias permaneça positivo. Depois do rali de 38% no acumulado deste ano, a ação está cotada a 28 vezes os lucros projetados para os próximos 12 meses, segundo dados compilados pela Bloomberg, os múltiplos mais altos desde o início de 2022.

Por outro lado, o lucro por ação médio do índice de ações do S&P 500 que reúne outras fabricantes de hardware e equipamentos de tecnologia é de 18 vezes, múltiplo que foi a média da Apple na última década.

Indicador "Preço/Lucro por ação" da Apple disparou no rali dos últimos meses

O alto valuation é mais um reflexo da solidez do balanço da empresa do que das perspectivas imediatas de crescimento, com tudo o que isso significa para recompras e dividendos.

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Analistas esperam que as vendas da Apple caiam neste ano pela primeira vez desde 2016. Mas o que mais tem atraído os investidores é a durabilidade de longo prazo dos fluxos de receita da Apple.

“Eu não estou preocupado que as ações da Apple estejam mais caras do que as de outras empresas de hardware, porque elas nunca descobriram como transformar uma história de hardware em uma plataforma de negócios recorrente”, disse Jonathan Curtis, diretor de gerenciamento de portfólio do Franklin Equity Group.

No caso do Vision Pro, a capacidade da empresa de levar o produto a um mercado de massa será crucial. E, de acordo com analistas da D.A. Davidson, existem “desafios estruturais importantes” em termos de sua adoção pelos consumidores “que podem limitar o impacto de curto prazo em suas vendas e lucratividade”. Eles rebaixaram as recomendações de compra das ações para neutra depois do lançamento.

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Angelo Zino, analista sênior de ações da CFRA Research, disse que a Apple não conseguiu identificar por que o headset seria um dispositivo obrigatório para os consumidores, “pelo menos por enquanto”.

Ainda assim, ele afirmou que a reação silenciosa do mercado não diminui o potencial de longo prazo do produto. Zino disse também que ficou “impressionado com seu hardware e recursos imersivos de primeira classe”.

Para Kim Forrest, diretora de investimentos e fundadora da Bokeh Capital Partners, o valuation da Apple não é atraente há anos, mas isso não impediu que ela e a grande maioria de outros gestores tivessem a ação na carteira.

“Você compra porque gera dinheiro. A atração gravitacional da Apple no índice faz com que você precise possuí-la para acompanhar o mercado”, disse. “Eles, de forma confiável, a cada dez anos ou mais, lançam produtos que não sabíamos que precisávamos.”

Franklin Curtis foi igualmente otimista. “O crescimento vai diminuir e fluir, e atualmente estamos em um período de refluxo, devido aos duros com a pandemia da covid e talvez um consumidor ligeiramente enfraquecido”, disse. “No entanto, em uma perspectiva de longo prazo, eventualmente fluirá novamente.”

O índice Nasdaq 100 subiu 1,7% na semana passada, no sexto avanço semanal consecutivo. Esse ganho de seis semanas, que totalizou cerca de 12%, representa a mais longa sequência para o índice desde uma série de alta de oito semanas encerrada em julho de 2021. Neste ano, o índice já subiu 33%.

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