Alphabet: gastos com IA crescem acima do esperado e pressionam ações

Papéis da dona do Google caem mais de 4% antes da abertura dos mercados em NY após o balanço trimestral; empresa está sob pressão para provar que pode resistir às rivais de IA

O Google já teve uma vantagem na corrida da IA, dado que desenvolveu grande parte da tech que sustenta os populares chatbots
Por Davey Alba - Julia Love
24 de Julho, 2024 | 09:47 AM

Bloomberg — As ações da Alphabet (GOOGL) têm forte queda nesta quarta-feira (24) antes da abertura dos mercados em Nova York, após a controladora do Google ter ampliado os investimentos em inteligência artificial para superar os rivais, elevando os gastos acima do esperado pelos analistas.

Os gastos de capital subiram para US$ 13,2 bilhões no segundo trimestre, apoiando os programas de IA do Google e ferramentas de poder de computação, informou a empresa na noite de terça-feira (23). O montante superou as estimativas dos analistas de US$ 12,2 bilhões.

O Google já teve uma vantagem na corrida da IA, dado que desenvolveu grande parte da tecnologia que sustenta os populares chatbots.

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Agora, a empresa está sob pressão para provar que pode resistir à concorrência de empresas como OpenAI e Microsoft (MSFT), à medida que estas tentam afastar os usuários da pesquisa tradicional na internet, promovendo chatbots que podem responder às perguntas dos usuários de forma conversacional.

O Google se apressou em incorporar a inteligência artificial a todos os seus produtos, incluindo Gmail, Google Docs e a barra de pesquisa, ao mesmo tempo em que aumentou seus próprios recursos de IA – uma iniciativa cara com resultados mistos.

Alguns investidores estão buscando evidências mais claras do retorno sobre o investimento para todos os bilhões gastos com IA, disse Daniel Morgan, gestor da Synovus Trust.

“Qual é a receita que está sendo obtida com isso?”, questiona ele. “Quando analiso esse balanço, o que vejo é o Google como sempre foi. Eles geram dinheiro com publicidade e pesquisa.”

As ações da Alphabet caíam cerca de 4% nesta quarta por volta das 9h30 (horário de Brasília), antes da abertura dos mercados em Nova York. As ações fecharam em US$ 181,79 na sessão anterior e acumulam alta de 30% este ano.

Vendas e Cloud

As preocupações dos investidores em relação aos gastos da Alphabet prejudicaram os dados de vendas melhores do que o esperado no trimestre, que foram impulsionados pela demanda por serviços de computação em nuvem e pela receita de publicidade.

As vendas, excluindo os pagamentos a parceiros, foram de US$ 71,36 bilhões no segundo trimestre. Os analistas haviam projetado US$ 70,7 bilhões, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O lucro líquido foi de US$ 1,89 por ação, em comparação com a estimativa de Wall Street de US$ 1,84 por ação.

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O Google Cloud obteve um lucro de US$ 1,17 bilhão, superando as estimativas dos analistas de um lucro operacional de US$ 982 milhões. O Google ainda está atrás da Amazon (AMZN) e da Microsoft no mercado de computação em nuvem, mas no ano passado, a unidade atraiu negócios de startups de inteligência artificial.

Os investidores também estão de olho no Google Cloud como a unidade com maior potencial para impulsionar o crescimento da Alphabet em geral, especialmente à medida que seu negócio de pesquisa amadurece.

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“Certamente vimos o benefício de nossa força em IA, infraestrutura de IA, bem como soluções de IA generativas para clientes de nuvem”, disse a diretora de investimentos da Alphabet, Ruth Porat, em uma conversa com jornalistas.

Em maio, o Google anunciou suas ambições com relação à IA para pesquisas escritas por tecnologia de inteligência artificial generativa, mas o lançamento do recurso não foi bem-sucedido. Ainda assim, a receita trimestral de publicidade em buscas foi de US$ 48,5 bilhões, em comparação com a projeção média dos analistas de US$ 47,6 bilhões.

"Se os consumidores precisarem se esforçar mais para pesquisar em outro lugar", disse Evelyn Mitchell-Wolf, analista da EMarketer, "o Google continuará monetizando o tráfego de pesquisa mais do que qualquer um de seus concorrentes".

O YouTube registrou uma receita de US$ 8,66 bilhões, em comparação com a estimativa média dos analistas de US$ 8,95 bilhões. Dos vários negócios da Alphabet, o YouTube tem sido o mais vulnerável às oscilações do mercado de anúncios digitais.

A Alphabet’s Other Bets - um conjunto de unidades de lançamentos que inclui a Verily, empresa de ciências da vida, e a Waymo, de carros autônomos – gerou uma receita de US$ 365 milhões e registrou um prejuízo operacional de US$ 1,13 bilhão.

Isso foi mais acentuado do que a projeção dos analistas de um prejuízo de US$ 1,07 bilhão. Recentemente, a Alphabet pressionou para que essas empresas virassem startups independentes, em vez de se tornarem unidades de negócios de sua empresa controladora.

A Alphabet informou ainda que tem US$ 100,7 bilhões em caixa, equivalentes e investimentos negociáveis, abaixo dos US$ 108 bilhões informados no primeiro trimestre.

M&As

Nos últimos meses, o Google demonstrou interesse em adquirir duas empresas, sendo que qualquer uma delas teria sido a maior compra de todos os tempos para a gigante de buscas – ambos os negócios, contudo, fracassaram.

As aquisições da HubSpot e da Wiz teriam fortalecido as ofertas de nuvem e segurança cibernética da empresa, a ajudando a competir com seus principais rivais.

“Estamos sempre em busca de boas oportunidades para diversificar o portfólio e continuaremos a fazê-lo se encontrarmos a combinação certa de fatores, inclusive valor”, disse Porat, sem comentar as negociações com a Wiz.

“O escrutínio regulatório não é novidade para nós e, no passado, administramos com sucesso as revisões regulatórias de muitos negócios de grande porte.”

No final deste mês, Anat Ashkenazi, uma veterana executiva da Eli Lilly & Co., entrará para a gigante das buscas como diretora financeira. Porat, o CFO mais antigo da Alphabet, permanecerá como presidente e diretor de investimentos, passando mais tempo trabalhando no portfólio de outras apostas da empresa.

-- Com a colaboração de Ed Ludlow e Shona Ghosh.

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