Bloomberg Línea — A fabricante de origem taiwanesa Acer decidiu incrementar a produção no Brasil para crescer em outras áreas do mercado para além da venda de notebooks.
Com estrutura própria no país desde 2009, quando retornou ao país depois de alguns anos fora, a empresa taiwanesa obtém o equivalente a 95% da receita local com produtos domésticos.
O Brasil é o segundo maior mercado das Américas em receita e performance, atrás apenas dos Estados Unidos e à frente de México e Canadá. A região fechou o ano de 2024 responsável por 25,5% do faturamento global, praticamente estável ao patamar de um ano antes.
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A companhia registrou um crescimento de 9,7% em receita no período, para cerca de US$ 7,3 bilhões. O lucro operacional foi de US$ 140 milhões, uma alta de 15,4% em relação a 2023.
A estratégia de produção local foi impulsionada no ano passado, quando a fabricante começou a desenvolver novos equipamentos para fortalecer a sua atuação corporativa, a partir da unidade de negócios de Hardware as a Service (HaaS).
O modelo combina a locação de computadores, como desktops e notebooks, e monitores com pacote que inclui serviços de suporte e softwares, de acordo com a indústria de cada cliente.
“Hoje, a locação no modelo de Hardware as a Service chega a quase a 40 % das nossas vendas a empresas”, afirmou Germano Couy, o brasileiro que lidera a operação da companhia em toda a América Latina como general manager, em entrevista à Bloomberg Línea. “A tendência é que ultrapasse a venda tradicional nos próximos 24 meses no universo de empresas maiores”.
O foco da Acer está em empresas com uma demanda superior a 400 dispositivos, entre notebooks, notebooks, desktops, monitores e projetores.

A perspectiva é que a divisão de serviços, em vigor desde o começo do ano passado, contribua para impulsionar os números do segmento B2B, que deve responder por 20% da receita local em 2025.
O cálculo também considera os resultados com a área de educação, com equipamentos para escolas privadas e públicas.
Os fabricantes de PCs convivem com elevadas expectativas no B2B, sob impulso do fim iminente do suporte ao Windows 10, que deixará de ser atualizado pela Microsoft a partir de outubro, e pela nova onda de PCs com ferramentas de IA (Inteligência Artificial).
De acordo com a consultoria Counterpoint, os modelos com IA estão posicionados para capturar cerca de 60% do mercado total de laptops em 2025.
Conhecida pelas vendas diretas ao consumidor no Brasil, a Acer já oferecia o modelo de HaaS em outros mercados. Para contar com oferta competitiva no país, porém, teve que investir em produção local.
Competitividade
“Nós tínhamos dificuldade de entrar até pela legislação. Infelizmente, no Brasil, você tem que produzir para conseguir o benefício de ter um preço mais competitivo porque existe uma diferença hoje de quase 50% entre produção local e importada, a depender do equipamento”, afirmou Couy.
Os produtos no portfólio estão na área de networking, com o desenvolvimento local de roteadores Wi-fi 7 para games, mercado em que a Acer é líder no país e tem a Predator como principal marca. E em monitores, hoje ainda dependente de importações. Mas isso começa a mudar.
“Iniciamos em março a fabricação de monitores no Brasil. No segundo semestre, nós vamos ter monitores produzidos com telas de 24 a 27 polegadas e custos bastante competitivos”, conta o executivo.
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Os esforços acompanham um cenário mais desafiador no varejo brasileiro, impactado por inflação, altas taxas de juros - no patamar atual de 14,25% ao ano e ascendente - e câmbio volátil.
De acordo com Couy, a fabricante tem percebido um consumidor com menor apetite por produtos de ponta e mais caros. Enquanto isso, itens mais básicos começam a ganhar participação na receita da companhia.
“Essas máquinas de entrada, com valores entre R$ 2.500,00 e R$ 3.000,00, estão começando a aumentar a participação [de mercado]. Dado o aumento da taxa de juros, há realmente uma dificuldade de adquirir muitas vezes um equipamento de desejo mais alto”, disse.
Além disso, a desvalorização cambial fez com que PCs para gamers, antes na faixa de R$ 4.500,00, tivessem os valores elevados para algo próximo a R$ 6.000,00.
“O que tentamos fazer é aumentar o número de parcelas e procurar oferecer um desconto maior no caso de pagamento à vista, via Pix, por exemplo. Além disso, também oferecemos configurações desde entrada até configurações mais avançadas”, afirmou Couy.
Dispositivos de IA
Enquanto isso, a fabricante taiwanesa se prepara para atender uma demanda em alta e entregar mais produtos com Inteligência Artificial.
A previsão do general manager para LatAm é a de lançar entre dois e três dispositivos até o fim do ano. Aos consumidores finais, a Acer tem investido em parceria com a Microsoft e oferece um co-pilot embarcado, acessado a partir do clique em uma tecla nos notebooks.
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“Quando falamos dos dispositivos para as companhias, há uma gama muito grande de software e soluções que cada um entrega, de acordo com o segmento. Para um cliente que mexe com base de dados muito estatístico, o programa de IA precisa concatenar essa base, por exemplo. É diferente do que é necessário para um cliente de marketing”.
“Nós vemos esse conceito de AI em toda a cadeia de produtos no futuro”, afirmou Cuoy.
Em Taipei, capital de Taiwan e sede da Acer, um dos grandes quebra-cabeças é entender como será o papel da Inteligência Artificial no universo dos games, uma das fortalezas da companhia.
“Estamos desenvolvendo como conseguir oferecer performance. É uma das coisas que estão sendo pensadas e que virá nos próximos anos. Já temos protótipo disso.”
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