‘A DeepSeek veio para democratizar o uso de agentes de IA’, diz diretor da Nvidia

A plataforma chinesa fez com que a companhia americana perdesse mais de US$ 600 bilhões em valor de mercado em apenas um dia quando foi anunciada em janeiro

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Bloomberg Línea — Desde o anúncio do ChatGPT pela OpenAI, em novembro de 2022, a Nvidia teve o seu nome potencializado, com as ações acumulando mais de 500% de valorização no período. A empresa criada e administrada por Jensen Huang chegou a desbancar a Apple, conquistando o título de mais valiosa do mundo, com uma avaliação de mais de US$ 3,4 trilhões. O valor atual é de US$ 2,6 trilhões.

Apontada por especialistas como a principal vencedora na corrida das AIs generativas, a gigante de tecnologia sofreu um baque nos últimos dias de janeiro deste ano. E a culpa foi de uma nova startup, fundada em 2023, a chinesa DeepSeek. A plataforma chegou com um modelo que promete consumir menos recursos financeiros e poder computacional.

A reação do mercado e dos investidores foi imediata, e a Nvidia perdeu o equivalente a US$ 600 bilhões em apenas um dia de negociações na bolsa de valores, com o receio de que as suas GPUs e os chips de IA da companhia não teriam uma demanda tão elevada quanto projetada inicialmente.

De acordo com Marcio Aguiar, diretor executivo da Nvidia, a reação foi desproporcional.

“Obviamente, nós também não esperávamos que o mercado fosse reagir de uma maneira tão negativa quanto reagiu. Só que esse mercado já está entendendo que as empresas podem começar (com modelos) pequenos e avançar”, disse Aguiar, em coletiva de imprensa no Web Summit Rio, evento que acontece entre esta segunda-feira, 28, e quarta, 20, no Rio de Janeiro.

“O DeepSeek simplesmente veio para democratizar o uso de agentes de IA nas empresas”, afirmou. Segundo ele, muitos executivos se viam em uma encruzilhada quando liam matérias e artigos sobre a quantidade de GPUs que precisariam comprar para os seus modelos de inteligência artificial.

“O Deepseek é simplesmente o resultado da IA generativa em que você começa a treinar modelos menores, mas tão inteligentes quanto os grandes e que dão um resultado em muito curto prazo. Com o tempo, o resultado daquele treinamento abre caminhos para um large language model (LLM) como a OpenAI tem”, afirma.

Longe de ver como uma ameaça, o executivo disse que a Nvidia entende o desenvolvimento desses modelos como uma oportunidade. Essas plataformas podem representar uma porta de entrada para empresas que estão começando os seus processos de adoção da inteligência artificial mais refinada e verticalizada, com os ‘fine tuning’, como são chamados os ajustes alinhados a cada modelo de negócio.

Dessa forma, não deve impactar os planos da companhia, na perspectiva de Aguiar, que procura manter a imagem que conquistou ao longo dos anos como uma das mais inovadoras do mundo.

“É difícil de não sermos importantes. Não gostamos também de ser vistos como o importante porque existem várias empresas que estão desenvolvendo boas tecnologias”, afirma o diretor executivo.

“Acontece que como sempre estivemos focados em inovação e em unir esse ecossistema, estamos tendo o privilégio de, momentaneamente - que já está perdurando algumas décadas -, está sendo visto como a empresa que pode realmente ajudar as outras a inovarem”.

A empresa aproveitou também para falar sobre o seu mais recente lançamento, a oferta de IA física. Um mercado estimado em US$ 1 trilhão, combinado as plataformas de softwares de IA da Nvidia com robôs em diferentes setores.

“Eles fabricam robôs e pegam a minha plataforma de softwares Isaac, botam dentro do robô e criam um humanoide usando técnicas de physical AI, onde o robô está ali com muito poder computacional aprendendo a trabalhar lado a lado com um ser humano”, conta.

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Correção: O texto original informava incorretamente que a avaliação da Nvidia passou de US$ 3,4 bilhões para US$ 2,6 bilhões. Os valores corretos são US$ 3,4 trilhões e US$ 2,6 trilhões. O texto foi corrigido às 18h45