Vivo aposta em venture capital para novo ciclo de crescimento, diz diretor da área

Phillip Trauer, ex-Valor Capital, diz em entrevista à Bloomberg Línea que pretende acelerar o ritmo de investimentos e contribuir para o ganho de escala de novas unidades

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Bloomberg Línea — A Vivo pretende estreitar a relação construída com o ecossistema de startups, em uma estratégia que busca não apenas investir em serviços que possam melhorar o negócio central da operadora mas também fomentar novas frentes de crescimento, de acordo com Phillip Trauer, novo líder da estratégia de venture capital da companhia.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Trauer avaliou que cabe aos fundos da empresa o papel de encontrar oportunidades e contribuir para o ganho de escala das novas unidades.

Nos últimos anos, a Vivo (VIVT3) entrou em saúde, com a aquisição da Vale Saúde Sempre, marketplace de serviços de saúde; em educação, com a Vivae, joint-venture com a Ânima; em entretenimento, com a oferta de plataformas de streaming; em produtos para casa inteligente; e criou um braço de serviços financeiros, com a Vivo Pay.

“Essas são as áreas em que estamos investindo porque elas vão destravar um novo ciclo de crescimento para a Vivo”, disse Trauer, que assumiu em junho a posição de managing director da Wayra Brasil e da Vivo Ventures, os dois fundos de Corporate Venture Capital (CVC) da companhia.

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O executivo, que antes passou quase sete anos na gestora norte-americana Valor Capital, na qual ajudou a estruturar o braço da operação em São Paulo, disse que agora procura gerar mais oportunidades aproveitando a extensa base da Vivo: são mais de 57 milhões de CPFs, 1,6 milhão de CNPJs, 33.000 empregados diretos e mais 70.000 indiretos.

“Telecom tem, naturalmente, a maior representatividade no Ebitda da companhia, mas cada dia mais queremos trazer novas redes de negócio. E isso está diretamente ligado a trazer novas ofertas de serviços, de produtos, seja por meio de startups, seja por M&A de startups”, disse.

No terceiro trimestre, as novas divisões fecharam com R$ 1,6 bilhão em receita somada, com alta de 30,2% em comparação com o mesmo período do ano anterior. A Vivo fechou o terceiro trimestre com faturamento total de R$ 10,06 bilhões. Ou seja, os novos negócios responderam por 16% do total.

Em 2023, a companhia contabilizou R$ 100 milhões em contratos com startups, valor que representa um crescimento de 35% em relação ao volume do ano anterior. A companhia projeta que a expansão avance em ritmo similar em 2024.

A estratégia de VC da Vivo

A Vivo ampliou a aposta nos seus negócios com as startups com a criação da Vivo Ventures, um fundo de venture capital da empresa lançado em 2022 com um valor de R$ 320 milhões. O fundo investe em startups mais maduras, em rodadas Séries A e B.

O aporte mais recente foi na Agrolend, com o desembolso de montante superior a R$ 8 milhões em uma rodada em que a startup captou R$ 300 milhões. Com cheques de até R$ 30 milhões, o fundo da Vivo aplicou pouco mais de 30%, investindo também nas startups CRMBonus, Klavi, Klubi, Digibee e Conexa.

“Desde a minha chegada, já aprovamos novos investimentos que estão em fase final. Nos próximos meses tem bastante coisa para acontecer”, disse Trauer.

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Até então, a Vivo contava apenas com a Wayra, outro braço de venture capital focado em aportes de até R$ 2 milhões em startups early stage.

A operação nasceu como estratégia de inovação aberta global do Grupo Telefónica em 2011. No ano seguinte, o Brasil ganhou sua própria operação da Wayra.

Em pouco mais de uma década, o fundo investiu em 87 startups e conta atualmente com um portfólio ativo de 26 - 14 delas têm contrato com a Vivo.

Diferentemente de outros fundos de corporate venture capital, tanto a Wayra quanto a Vivo Ventures, que atua subordinada à Wayra, têm como condição a busca por negócios que contribuam para acelerar a companhia-mãe em suas frentes de atuação.

“Não é necessariamente uma condição que a startup já esteja fazendo um negócio com a Vivo. Nós podemos empurrar essa sinergia para o médio prazo também. Temos essa flexibilidade porque, às vezes, gostamos muito do ativo e, naturalmente, não queremos pagar caro e sabemos que o valuation tende a subir”, disse Trauer.

De acordo com o executivo, o momento atual dos fundos abre ainda novas perspectivas. “Aquisições estão no radar, isso eu posso confirmar”, disse.

Ao longo dos mais de 12 anos desde que a Wayra foi criada, a operadora nunca teve mais do que 10% de participação no capital das startups.

Assim como no caso dos aportes, a atenção da gestora está direcionada tanto à atividade principal, resolvendo dores em áreas de cobrança, infraestrutura e financeira, quanto para os novos negócios, incluindo o universo das agtechs, com produtos capazes de estabelecer novas dinâmicas de conexão no campo.

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