Venture capital mantém cautela no Brasil, sem sinal de volta de aportes em startups

Relatório do Distrito mostra que 60% dos gestores acreditam que uma retomada das atividades do setor deve ocorrer somente em 18 meses ou mais

Venture Capital
07 de Dezembro, 2023 | 07:00 PM

Bloomberg Línea — Depois de um ano marcado pela queda dos investimentos em startups no Brasil e no mundo, a ampla maioria dos gestores de fundos de venture capital mantém a cautela e não vê recuperação à frente para o setor diante incertezas econômicas e oscilações financeiras no mundo.

De acordo com pesquisa da plataforma de inovação Distrito, 75% dos gestores que possuem mais de três fundos estão com uma visão pessimista sobre o mercado, enquanto os que possuem menos de três fundos estão com um sentimento mais positivo. Entre os gestores, 66,7% com até dois fundos acreditam no fim da crise no venture capital, segundo Eduardo Fuentes, líder de pesquisa do Distrito.

O relatório mostra que 60% dos gestores acreditam em uma retomada das atividades do setor somente em 18 meses ou mais, indicando dificuldades para 2024.

Os dados do relatório apontam que 56,26% dos empreendedores acreditam que a crise ainda não terminou, enquanto 45,24% dos investidores mantêm o ponto de vista que a crise chegou ao fim.

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Os gestores de fundos de investimentos, por sua vez, enfatizam um momento de ajuste e rebalanceamento, sendo que 35,7% dizem ter tido operações afetadas pela crise. Outros 11,1% afirmam ter resultados positivos, aproveitando oportunidades como a compra de ativos a preços descontados.

No terceiro trimestre de 2023 foram investidos US$ 883 milhões em startups na América Latina, um crescimento de 22% em relação ao segundo trimestre. No Brasil, foram investidos US$ 596,7 milhões, um aumento de 18%.

Segundo o Distrito, 32,8 % das companhias tiveram que optar por um ajuste no quadro de colaboradores, enquanto 36,8% reduziram os investimentos em marketing.

“A estrutura de custos do capital a nível global pode indicar que não há retomada com as taxas de juros elevadas, mesmo com boas oportunidades no early-stage e ajustes no late stage. Por outro lado, aqueles menos experientes têm apostado que o dry-powder [dinheiro disponível para investir] do ecossistema e o potencial de novas tecnologias levarão à retomada com bases sólidas”, diz Fuentes.

Em novembro, a América Latina teve US$ 233 milhões em volume de investimentos, segundo último relatório do Sling Hub. Foi uma queda de 1% em relação ao ano passado e 43% em relação ao mês anterior.

De acordo com o estudo, foram US$ 126 milhões investidos no Brasil (54%), US$ 40,6 milhões na Colômbia (17%) e US$ 36,1 milhões no México (15%) o estágio mais comum foi o Seed, com 19 rodadas. O estágio que mais captou foi a Série A, com US$ 69,7 milhões.

Ao todo, foram 66 rodadas, uma queda de 10% em relação ao mesmo período do ano passado, mas um aumento de 16% em relação a outubro. Foram 32 transações no Brasil (48%), 10 na Colômbia (15%) e 8 no Chile (12%).

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Um investidor que falou à Bloomberg Línea em anonimato disse que acredita que haverá uma consolidação dos fundos de venture capital no Brasil, já que muitos não conseguem captar novos fundos.

Além disso, é necessário que os fundos consigam manter um fluxo de caixa por um longo período até ter retorno com as empresas investidas.

Em entrevista recente à Bloomberg Línea, Carlos Naupari, CEO e fundador da Velvet, fintech que opera uma plataforma de compra e venda de participação em startups, disse que o momento de baixa no mercado levou a uma redução do valor de unicórnios (startups avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais). Com isso, os papéis das empresas latinas negociados no mercado secundário tiveram fortes perdas.

“Os grandes unicórnios da América Latina são empresas que digitalizaram alguma coisa. As empresas proptechs, por exemplo. Elas alcançaram valor de US$ 3 bilhões, US$ 5 bilhões, após receberem financiamento, mas ninguém mais acredita nesses valores no mercado secundário”, disse Naupari.

“Quase toda semana recebo mensagem de algum ex-funcionário ou funcionário de um grande unicórnio da América Latina perguntando sobre secundária. A gente não faz mais secundária de empresas da América Latina simplesmente porque não tem demanda, não tem apetite do outro lado. Afinal das contas, a gente tem que focar em trazer retornos para os nossos investidores”, completou.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups