Bloomberg Línea — A startup Praso, uma plataforma B2B que faz a conexão da indústria com restaurantes, bares, padarias e cafés - o chamado foodservice -, anunciou nesta manhã de quarta-feira (30) que recebeu uma rodada Série A de US$ 9,5 milhões (R$ 45 milhões), co-liderada por Valor Capital Group e NFX com outros investidores como Base Partners, Formus Capital (Alarko e Sabanci), Iporanga Ventures e Endeavor Scale-Up. A informação foi antecipada pela Bloomberg Línea.
A rodada foi realizada a um valuation - não divulgado - maior do que o do aporte anterior.
Com os recursos, a Praso adquire a propriedade intelectual da Floki, uma foodtech de automatização de compras para bares e restaurantes, e pretende expandir seu portfólio de produtos no próximo ano.
A Praso funciona como uma plataforma de comércio eletrônico multi-categoria, projetada para intermediar as relações entre varejo e indústria. A plataforma oferece suprimentos e produtos de supermercado em várias categorias, de especiarias, farinha, grãos e cereais a produtos lácteos, óleos, azeitonas, bebidas e produtos para consumo em geral, facilitando a experiência de compra pelo varejo (B2B).
A empresa já tinha recebido aproximadamente US$ 3 milhões em uma rodada Seed da Base Partners em novembro de 2021 e depois fez uma extensão da rodada.
O Valor Capital Group realizou quatro aportes em startups early stage neste ano e já era investidor da Floki, que nasceu em 2020 como uma operadora de um mercado online. A startup utiliza inteligência artificial e aprendizado de máquina (machine learning) para aquisição digital autônoma.
“Há vários investidores da Floki que não vieram agora e acabaram saindo. Quem está liderando a rodada são os mesmos da última rodada da Floki. Acho que entenderam que havia um potencial maior complementar no negócio com as duas juntas”, disse o CEO da Praso, Samuel Carvalho, à Bloomberg Línea.
Segundo dados do PitchBook, a Floki havia levantado R$ 50 milhões em uma combinação de financiamentos Séries Seed-1, Seed-2, Seed-3 e Seed-4 em uma negociação liderada conjuntamente pela NFX e pelo Valor Capital Group em março de 2022.
A Iporanga Ventures e outros investidores também participaram dos aportes da Floki e agora entram como investidores da Praso. Luigi Rodrigues e Marcelo Espiga, co-fundadores da Floki, se tornam acionistas da Praso, mas não seguirão na operação.
Segundo dados da LAVCA (Associação Para Investimento em Capital Privado na América Latina), os valores dos investimentos se adaptaram ao ambiente de financiamento atual, afetado por juros mais altos.
Os investimentos em estágios iniciais e Seed diminuíram em relação aos valores mais altos recentes, mas ainda se mantêm acima das médias pré-pandemia. Os investidores de capital de risco investiram US$ 1,7 bilhão em 338 transações para startups latino-americanas no primeiro semestre de 2023.
Foco no Nordeste
O CEO da Praso explicou que a startup tem foco geográfico no Nordeste. São cerca de 8.000 lojistas de pequeno porte atendidos na região, além de pouco mais de 100 fornecedores.
Com uma equipe atualmente com 165 pessoas, mas em fase de expansão, a Praso tem operações nos estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Ceará. “Temos a intenção de aumentar o time e, particularmente, investir mais em produto.”
Natural de Recife, Carvalho tem uma história de empreendedorismo que remonta à sua família, que era dona de uma indústria de bens de consumo.
“Eu cresci nesse ambiente em que o pequeno varejo ficava cada vez mais dependente de um canal de baixa rentabilidade. Vi a necessidade de criar uma experiência melhor para esses varejistas e, ao mesmo tempo, atender à demanda da indústria por uma capilaridade maior”, disse, citando dificuldades de varejistas em obter crédito e gerenciar suas operações. Foi a inspiração para a Praso.
Ao fim do ensino médio, Carvalho se juntou à Fundação Estudar, de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que banca bolsas de estudo para jovens que conseguem ser aprovados para estudar fora. Estudou em Stanford e conheceu André Street, um dos fundadores da Stone (STNE). Carvalho passou a trabalhar na empresa com a compra da empresa de software Linx.
“Uma parte da estratégia da aquisição era como levar o software voltado a grandes empresas para atender também os pequenos. Boa parte do meu tempo era dedicada a pequenos varejistas, para entender como eles gastam o tempo deles e como o software poderia ajudar no dia-a-dia”, explicou.
Fundada em 2021 por Carvalho, Fernando Bilfinger e Rodrigo Castellari, a Praso começou como uma plataforma de compras e estoque. O plano era dispensar o dono do restaurante da saída para comprar alimentos como frutas e verduras, mas rapidamente evoluiu para abranger serviços financeiros.
A empresa agora oferece crédito para pequenos varejistas, o que lhes permite comprar insumos e produtos com maior flexibilidade. “Isso muda a interação com o varejista, porque, em vez de ele ir atrás de fornecedores, nós vamos até ele para servi-lo”, explicou o CEO.
A Praso ganha uma comissão em cima dos produtos vendidos na plataforma e cobra uma taxa na oferta de crédito e de capital de giro com prazo para o pagamento para o pequeno lojista.
A aquisição da Floki adiciona uma nova dimensão ao negócio da Praso. “Estamos incorporando essa tecnologia à nossa plataforma para agregar mais valor aos nossos clientes, permitindo que eles tomem decisões informadas sobre compras e estoque”, disse.
Questionado sobre planos de expansão, Carvalho enfatizou que o foco segue no Nordeste, onde ainda há muito espaço para crescer. A empresa busca levar mais fornecedores para sua plataforma, transformando-se em uma espécie de one-stop-shop para abastecer restaurantes e pequenos negócios.
A integração com a Floki também levanta a questão de como a Praso pretende se posicionar no mercado em relação a outras startups com modelo de negócios semelhantes, como a Inventa e a Zak. Carvalho disse que a missão da empresa é ser o “melhor funcionário que o varejista nunca teve”, oferecendo soluções simples e eficazes para permitir que eles se concentrem no crescimento de seus negócios.
A Floki operava em São Paulo a sua plataforma de inteligência de compras para restaurantes. “É muito mais um negócio de dados e de análise para previsão de demanda”, explicou sobre a tecnologia que será agregada à Praso, que conta com uma malha logística com dois centros de distribuição.
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