Solfácil capta R$ 750 mi em CRI para financiar 20 mil projetos de energia solar

Startup planeja originar R$ 1,7 bilhão em financiamentos em 2024 e atrai interesse do mercado em suas emissões, diz o CEO, Guillaume Tiret, em entrevista para a Bloomberg Línea

Geração por meio de projetos de energia solar continua a crescer (Foto: Sean Gallup/Getty Images Europe)
09 de Julho, 2024 | 08:08 AM

Bloomberg Línea — A Solfácil, empresa que atua no financiamento de projetos de energia solar no Brasil, captou um CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) de R$ 750 milhões para financiar 20.000 projetos de energia solar.

A emissão, que teve o Itaú BBA e a XP como coordenadores da oferta, eleva o total de financiamento acumulado por meio de dívida pela startup para R$ 3,4 bilhões nos últimos seis anos.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CFO da Solfácil, Guillaume Tiret, apontou os fatores que levaram à decisão de captar via título de crédito lastreado em recebíveis imobiliários: “isenção de impostos para pessoas físicas, praticidade e distribuição direta ao varejo e a preferência por captar com taxa prefixada, alinhando melhor com a estrutura de custos da empresa”.

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Foi a segunda captação da fintech via CRI neste ano, depois de ter levantado R$ 600 milhões nos primeiros meses do ano.

“No mercado de FIDC [Fundo de Investimento em Direitos Creditórios], captamos apenas com taxa pós-fixada. Mas as CCBs [Cédula de Crédito Bancário] que originamos e que são lastros para esses FIDCs ou CRIs são prefixadas. Então preferimos captar um passivo prefixado”, disse.

O CRI II foi desenhado para R$ 600 milhões, mas a demanda acima do esperado levou à ampliação do montante em 25% para o volume máximo previsto pelo regulamento.

Segundo ele, o ativo pode despertar interesse no investidor de varejo pelo perfil que foge do que é mais ofertado por meio de plataformas dos grandes bancos e corretoras.

“Investidores recebem ‘cinquenta vezes’ a oferta de debênture da mesma emissora, que pode ser uma grande de petróleo ou de shopping etc. Agora eles podem receber um papel bem diferente”, disse o empreendedor, citando como apelo para a venda do CRI, em sua avaliação, ser um investimento que financia energia renovável e a classificação da agência de ratings Moody’s como ativo de baixo risco.

A Solfácil já concluiu nove emissões no mercado de capital de dívida brasileiro e global: três debêntures, quatro FIDCs, e dois CRIs.

O primeiro FIDC da Solfácil com lastro de CCB de painéis solares foi de R$ 500 milhões em 2020. Segundo o executivo, as emissões da fintech têm atraído uma ampla gama de investidores, de gestoras locais da Faria Lima até grandes instituições como o banco americano Goldman Sachs, que aumentou a cota inicial do FIDC de R$ 500 milhões para R$ 1,2 bilhão devido ao desempenho de sua carteira.

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Equity vs Dívida

A Solfácil oferece soluções para projetos de energia solar, de financiamentos e seguros a sistemas de monitoramento remoto. Tem entre seus investidores QED Investors, SoftBank, Valor Capital Group, IFC, do Banco Mundial, que já aportaram mais de R$ 800 milhões ao longo de três rodadas de equity.

Desde a sua fundação em 2018, a Solfácil atendeu 145 mil clientes em 3.500 cidades, o que representa 30% dos municípios brasileiros. Segundo o CFO, isso representou a capacidade de geração de 1 GW, o equivalente a duas turbinas da usina hidrelétrica de Belo Monte.

A empresa tem um portfólio de 20.000 integradores solares, que usam a plataforma para financiar os seus clientes para que possam comprar as placas de que precisam e também seguros, além de instalar o sistema de monitoramento remoto que a startup oferece para eles.

A Solfácil, que originou R$ 3 bilhões em financiamentos até hoje, planeja chegar a R$ 1,7 bilhão em financiamentos apenas em 2024.

A taxa de inadimplência está perto de 4% para atrasos acima de 90 dias. Tiret disse que o número é estável e mostra que o ativo “se coloca entre os melhores financiamentos do país, que são os imobiliários e os de veículo, que geram mais inadimplência”.

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As rodadas de captação com fundos de venture capital são usadas para equipar e financiar a empresa, contratações, investimento em tecnologia e galpões.

Segundo o CEO da Solfácil, a startup não capta por meio de equity - participação na companhia - há dois anos porque a operação é rentável. Metade da receita da companhia, que não foi divulgada, vem dos negócios de fintech.

As dívidas securitizadas, por sua vez, são captadas para financiar os empréstimos aos clientes. “Equity é uma fonte cara para emprestar para cliente a um custo barato”, disse.

Nas dívidas securitizadas, a Solfácil fica com as cotas subordinadas e vende as cotas seniores, “porque isso alinha muito bem o interesse entre nós, como originadores da carteira, e os investidores sêniores que chamamos para a estrutura”, disse.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups