Bloomberg Línea — O mercado de trabalho brasileiro tem cerca de 40 milhões de informais, segundo dados do IBGE. É um contingente que abrange, por exemplo, trabalhadores da chamada economia do compartilhamento, ou gig economy, como motoristas e entregadores de aplicativos como Uber e iFood. Para esse universo, práticas como pedir um empréstimo em um banco ou acertar um contrato de aluguel se torna um desafio diante da necessidade habitual de comprovação de emprego e renda.
Foi com essa “dor” em mente que a startup mexicana Palenca decidiu estruturar o seu modelo de negócios no segmento B2B2C, ao desenvolver uma API que integra as informações de diferentes fontes de dados com o objetivo de comprovação de emprego e renda. E assim atraiu a atenção da Serasa Experian, que decidiu investir na companhia por meio de seu braço de CVC (corporate venture capital).
Atualmente, a Palenca estima que consegue acessar os dados públicos de cerca de 47 milhões de trabalhadores no Brasil, entre formais e informais (veja mais abaixo). A startup foi fundada em 2021 pelos empreendedores mexicano José Carlos Aguiar, o Pepe, e o francês Pierre Delarroqua, ambos ex-profissionais que trabalharam na Uber.
Leia mais: À margem da Faria Lima, Agibank cresce 50% ao ano com foco na baixa renda
O valor do investimento não foi revelado. A Palenca, hoje presente em sete países, chegou ao Brasil há pouco mais de um ano e elegeu a maior economia da América Latina como o seu principal mercado. Os novos recursos são voltados justamente para a operação brasileira, com o objetivo de acelerar o crescimento, de modo que a startup possa atingir a maturidade já existente no México.
“Além do investimento, acertamos uma parceria comercial em que a Palenca atuará ao lado da Serasa no negócio de verificação de dados. Nós somos especializados em dados brutos de emprego e renda, e a Serasa, em inteligência analítica, com modelagem e score”, disse Luiz Felipe Bolonhez, Country Manager da Palenca no Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.
Com a parceria comercial, Serasa e Palenca esperam ter condições de oferecer novas soluções que atendam às necessidades de outras empresas relacionadas à análise de renda de trabalhadores.
Segundo Bolonhez, o investimento com parceria com a Serasa potencializa a capacidade de distribuição da Palenca, o que fará com que a startup consiga acessar clientes que não estavam ao alcance seja pelo seu tamanho ou pela demanda adicional de analytics em cima dos dados brutos.
Comprovação de renda de MEIs na mira
Atualmente, a Palenca tem dois produtos no Brasil, um voltado para trabalhadores no regime CLT, que faz a integração de dados com a Carteira de Trabalho Digital; e outro para validação de renda de trabalhadores da gig economy, ou seja, essencialmente motoristas e entregadores de aplicativos.
“Com a Serasa, vamos deixar os nossos produtos mais robustos. E teremos como colocar foco em novas integrações, como a validação de renda dos cerca de 15 milhões de MEIs [Microempreendedores Individuais] no Brasil”, antecipou Bolonhez sobre os próximos passos da Palenca.
Leia mais: Brasileira QI Tech levanta US$ 200 milhões em uma das maiores Série B da história
Segundo ele, com a próxima integração, a base de trabalhadores acessados no país cresceria dos atuais 47 milhões para 62 milhões. “O objetivo é chegar aos 100 milhões de trabalhadores que existem no país, segundo dados do IBGE”, afirmou.
A startup levantou uma rodada Seed de US$ 2,6 milhões com a YCombinator em 2021 e, posteriormente, uma extensão de US$ 1 milhão de investidores que incluíram a própria YCombinator, além de Gilgamesh Ventures, Foundation Capital e investidores anjos que fundaram outras fintechs na região.
O investimento atual poderia ser caracterizado, portanto, como uma pre-Series A.
“Há tempos perseguimos a missão de construir um ambiente de crédito saudável. Por essa razão, o aporte na Palenca, pioneira em soluções de validação, está de acordo com nossas premissas e deve fomentar a economia como um todo, além de beneficiar muitos brasileiros”, disse Rodrigo Sanchez, vice-presidente de Soluções de Crédito da Serasa Experian, em comunicado.
- Em atualização.
Leia mais
Fintech de ex-Santander recebe aporte de fundo investido por bancos globais
PIB brasileiro surpreende, mas cresce sem avanço estrutural, aponta BNP Paribas
