Rodadas da semana: Sami capta R$ 60 mi, e Nubank investe US$ 150 mi em banco digital

Em ano que ficou aquém das expectativas de retomada de aportes em startups, captação no país chegou a US$ 1,9 bilhão em 11 meses, versus US$ 1,8 bilhão no mesmo período em 2023

Nubank liderou um aporte de US$ 150 milhões em um banco digital com foco em mercados emergentes (Foto: Jonne Roriz/Bloomberg)
Por Marcos Bonfim
21 de Dezembro, 2024 | 07:35 AM

Bloomberg Linea — A última edição do Rodadas da Semana do ano tem como destaques o aporte da Sami, a healthtech que captou R$ 60 milhões como uma extensão de uma rodada Série B, e o investimento de US$ 150 milhões do Nubank no Tyme Group, banco digital presente nos mercados da África do Sul e das Filipinas, com mais de 15 milhões de usuários.

O ano de 2024 foi um em que o chamado “inverno das startups” mostrou contínua persistência no Brasil. Muito do otimismo nos últimos dias de 2023 não se concretizou ao longo dos últimos 12 meses.

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Os aportes mais volumosos em valores, em Séries B, C e D, são “contados nos dedos” e começaram a aparecer apenas no final do ano.

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No consolidado do ano até novembro, de acordo com o Distrito, os aportes em startups brasileiras superam os números de 2023, mas por pouca diferença: foi um volume de US$ 1,9 bilhão nos primeiros 11 meses de 2024 contra US$ 1,8 bilhão no mesmo período um ano antes.

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Outro levantamento, o The LatAm Tech Report, organizado pela Latitud, evidencia o desafio também na região da América Latina. Até o terceiro trimestre de 2024, os investimentos em startups da região contabilizavam US$ 2,7 bilhões. Em 2023, o montante chegou a US$ 4,2 bilhões.

Não à toa, levantar capital foi apontado como o principal desafio dos fundadores entrevistados pela Latitud. Em pergunta com múltiplas escolhas, a captação apareceu em 39% das respostas, seguido por educação e adoção do mercado e encontrar o product market-fit, ambos com 37%.

As fintechs foram as principais beneficiárias e levaram 57% do capital investido, o que projeta uma estrada de concentração dos aportes em patamares ainda não vistos. Ao longo dos últimos cinco anos, a participação de startups financeiras tinha permanecido próxima de 40%.

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E o que esperar de 2025?

Depois de anos de escassez, fundadores e gestores de fundos de venture capital demonstram otimismo: 69% disseram acreditar que o ambiente de captação estará melhor, contra 27,6% que esperam um volume em semelhante patamar e 3,4% que esperam um cenário pior. Só “falta combinar com os russos” - a célebre frase atribuída a Garrincha na Copa de 1958 - ou, no quadro atual, combinar com os juros.

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Veja os principais aportes da semana:

Sami

A Sami, fundada por Vitor Asseituno e Guilherme Berardo, captou R$ 60 milhões em rodada follow-on de uma Série B de R$ 90 milhões em 2023. Desta vez, o aporte, dividido entre equity e dívida, foi liderado pelo Mundi Ventures e o banco americano StoneX.

O montante captado por meio de equity será usado para investimento em infraestrutura e reforço tecnológico da operação. A parte em dívida tem destinação exclusiva para potencializar o crescimento da startup e é um crédito ativo, retroalimentado a partir de uma relação entre a emissão de novos prêmios e o custo de aquisição dos clientes (CAC).

Presente na cidade de São Paulo e em alguns municípios da região metropolitana, a Sami, uma healthtech que atua no modelo de médico de família 2.0, prevê a expansão com planos regionalizados, voltados para o centro, a zona sul e a zona norte de São Paulo. O objetivo, neste momento, é ampliar a densidade - e também melhorar a relação com os parceiros das áreas de saúde.

A estratégia vem associada ao acordo com um novo grupo de corretores para melhorar a distribuição dos produtos. Além disso, a startup começa a oferecer a venda de planos por adesão, que são aqueles vinculados a associações ou sindicatos.

Tyme Group

Fintech presente na África do Sul e nas Filipinas, a Tyme Group recebeu um investimento de US$ 250 milhões, em rodada Série D liderada pelo Nubank.

O banco digital brasileiro liderado por David Vélez e Cristina Junqueira aportou US$ 150 milhões. O valor restante ficou dividido entre o M&G Catalyst Fund, com US$50 milhões, e investidores já no captable, com os US$ 50 milhões restantes.

Com sede em Singapura, o banco digital atende consumidores e pequenas e médias empresas (PMEs) em mercados emergentes. Na carteira, tem mais de 15 milhões de usuários, distribuídos entre a África do Sul e as Filipinas. O próximo mercado será Vietnã, onde já mantém um hub de desenvolvimento de produtos e serviços.

Conta Comigo Digital

A Conta Comigo Digital fecha o ano com a captação de R$ 3,2 milhões, em rodada Seed liderada pela Urca Angels. A fintech busca simplificar o pagamento de contas e reduzir a inadimplência. A tecnologia centraliza os boletos água, luz, gás, telefonia e impostos na conta bancária dos usuários e automatiza os pagamentos.

A startup diz que processa mais de 40 milhões de boletos por mês para mais de 67 milhões de usuários ativos em todo o Brasil. Os recursos captados serão usados para a expansão do time e o reforço do braço comercial. O foco da startup está no B2B, com clientes como TIM e Aegea.

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Marcos Bonfim

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark