Bloomberg Línea — Em um mercado dominado por grandes bancos e fintechs, a RecargaPay tem construído uma história singular. Criada pelos irmãos argentinos Rodrigo e Álvaro Teijeiro, a startup deu os seus primeiros passos com a oferta de serviços de recarga de celular por meio de aplicativo em 2010, mas, desde então, tem avançado ano a ano no mercado com serviços financeiros diversos aos consumidores.
O mais recente movimento foi a obtenção de uma licença do Banco Central para operar como sociedade de crédito, financiamento e investimento (SCFI), o que possibilita que a startup opere como uma financeira. Também permite o lançamento de CDBs próprios, uma forma de captação mais barata que reduz a dependência da emissão de FIDC (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios).
“Quatro ou cinco anos atrás, mais de 90% dos usuários que faziam uma transação pela primeira vez conosco chegavam pela recarga de celular. Hoje, esse volume é menor do que 1%”, afirmou Rodrigo Teijeiro, CEO da startup, em entrevista à Bloomberg Línea, ao se referir à transformação da empresa. “A mesma mudança aconteceu com a nossa receita: menos de 1% é originado em recarga.”
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Com a ampliação dos serviços, a startup oferece de recargas de celular e de bilhetes de transporte público a pagamento de contas, cartão de crédito com cashback, empréstimos e produtos com o Pix.
As mudanças fizeram com que o tíquete médio da operação subisse para outro patamar nos últimos anos. De pouco mais de R$ 20,00, o valor pulou para a casa de milhares de reais. “Hoje, nós temos um ecossistema completo de pagamentos e as pessoas sabem que podem pagar tudo por lá”, disse o CEO.
É nesse contexto que a RecargaPay tem atraído um número cada vez maior de brasileiros.
Em 2024, a startup bateu a marca inédita de 10 milhões de usuários. O número representou uma expansão de 37% em relação à base de 2023. O volume total de transações (TPV) avançou em ritmo semelhante, com R$ 24,4 bilhões processados. Em 2023, havia somado R$ 17,8 bilhões.
A receita chegou a R$ 1,2 bilhão, contra R$ 1 bilhão um ano antes. A expansão da ordem de 20%, segundo Teijeiro, está associada a um modelo que permitiu à startup ganho de escala ao longo dos anos sem abrir mão de uma operação enxuta. O time é composto hoje por cerca de 600 profissionais.
“A nossa estrutura total de custos é muito menor do que qualquer outra no mercado e oferecemos praticamente os mesmos produtos e serviços. O que fizemos foi refinar o todo o stack de pagamentos e de serviços financeiros. E, basicamente, essa redução de custos é repassada ao consumidor”, afirmou.
O CEO citou como exemplo o cashback de 5% a cada recarga de bilhete único na cidade de São Paulo e o CDB que hoje paga o equivalente a 110% do CDI.
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O futuro do negócio
A startup levou quase 15 anos para alcançar a marca de 10 milhões de usuários, contou Teijeiro. A expectativa agora é que os números avancem em velocidade maior.
“Vamos continuar a completar o ecossistema, com novas ofertas de produtos de crédito. E estamos para lançar o nosso cartão black”, disse o CEO.
“Nós prevemos uma aceleração significativa em novos usuários nos próximos meses”, disse o executivo, sem revelar uma projeção específica.
De acordo com ele, ainda há muitas oportunidades para o crescimento da startup, a despeito de lidar com um mercado cada vez mais competitivo, com fintechs concorrentes como Mercado Pago e PicPay e bancos digitais como o Inter e o Nubank.
São essas oportunidades que fazem o CEO manter a operação focada no Brasil, sem planos de expansão regional.
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A RecargaPay é um caso raro de uma startup que já nasceu global, com operação em mais de dez países. Cinco anos depois, em caminho oposto, a decisão foi restringir a atuação para apenas um país.
“Não foi muito popular quando eu disse para o meu board [conselho de administração], mas definitivamente funcionou. E eu estou muito animado para os próximos anos. O Brasil é um país fascinante e a oportunidade ainda é enorme”, disse Teijeiro.
A startup tem a operação com resultado positivo há cerca de três anos e captou US$ 120 milhões em diferentes rodadas de investimentos. Por trás estão fundos como IDC Ventures e Fuel Venture Capital, que lideraram a última rodada, uma Série C que somou R$ 440 milhões em 2021.
Para acelerar o ritmo de crescimento, o CEO da RecargaPay não descarta novas rodadas de captação. Além disso, está de olho em um potencial IPO no futuro, visto como um caminho natural para o negócio.
“A RecargaPay tem todos os componentes para se tornar uma empresa pública. Crescimento, tamanho e cultura para continuar a inovar. Acho que é uma fase natural, mas não se trata de um objetivo final. É apenas mais uma etapa nesse processo”, afirmou.
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