QI Tech conclui compra da Singulare e projeta R$ 680 mi em receita e novos M&As

Fintech prevê acelerar o cross-sell de soluções de tecnologia para gestoras e ampliar a carteira de clientes, contam o CEO, Pedro Mac Dowell, e o CFO, Marcelo Bentivoglio, à Bloomberg Línea

Por

Bloomberg Linea — A QI Tech, plataforma de soluções de tecnologia para a criação de bancos digitais, entra em um novo momento com a autorização do Banco Central para concluir a aquisição da Singulare, em transação anunciada no fim do ano passado. Com o negócio concretizado, a divisão de administração e custódia passa a responder por 30% de todo o faturamento, previsto para R$ 680 milhões neste ano.

A compra havia sido aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em janeiro. A passagem de bastão e a assinatura do cheque dependia, porém, da aprovação final do BC.

Vencida essa etapa, a QI Tech se prepara para incorporar mais de 1.000 fundos que contam com R$ 121 bilhões em ativos administrados.

“Os fundos que hoje estão dentro da Singulare serão migrados aos poucos, saindo do sistema legado antigo, utilizado pelo mercado como um todo, para um novo sistema proprietário, muito mais tecnológico e avançado”, afirmou Pedro Mac Dowell, CEO e fundador da QI Tech, à Bloomberg Línea.

A carteira da Singulare é concentrada em FIDCs (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), com mais 650 fundos e cerca de R$ 82 bilhões em ativos.

Esse volume posicionará a Singulare como a maior administradora e custodiante de FIDCs do país em número de operações, de acordo com o ranking de 2024 da Uqbar, plataforma que acompanha o setor.

Próximos passos

Organicamente, a QI Tech conta com 32 fundos contratados, dos quais 22 ativos e os demais em processo de estruturação. Dos R$ 6 bilhões projetados, R$ 2 bilhões foram “encarteirados”. Os veículos estão na QI DTVM, que é a marca que a startup usará para a administração fiduciária.

Leia mais: Vivo aposta em venture capital para novo ciclo de crescimento, diz diretor da área

A QI Tech atua com a oferta de infraestrutura para empresas que desejam atuar como bancos digitais sem ter que investir em desenvolvimento proprietário. É o modelo conhecido como Banking as a Service (BaaS), que inclui de módulos básicos a estruturas mais “encorpadas”, caso da administração fiduciária.

A proposta de valor é funcionar como uma espécie de one-stop-shop com tecnologias para onboarding dos clientes, biometria, antifraude transacional, emissão de títulos de crédito e até de estruturação de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).

Na lista de pouco mais de 400 clientes estão nomes como a 99, com o 99Pay, e a Vivo Money, braço financeiro da operadora de telecom com produtos de empréstimos e seguros.

As linhas do negócio estão distribuídas por quatro verticais:

  • Compliance as a service (onboarding, antifraude, motor de crédito e biometria), que representa 10% do faturamento;
  • Banking as a service (interface de front-end para a criação das plataforma, com conta, Ted e Pix), que respondem por 25%;
  • Lending as a service (estruturação e emissão de títulos de crédito), com 35% das receitas;
  • Administração e custódia de fundos, com 30%.

Na avaliação de Mac Dowell, o negócio de lending continuará sendo o mais importante do ponto de vista de receitas, tanto no médio quanto no longo prazo. A vertical de administração e custódia, porém, é vista como uma divisão estratégica para as vendas cruzadas, o cross-sell.

Leia mais: Sequoia e Google Ventures investem US$ 50 mi em nova startup de agentes de IA

“Nós teremos como promover as demais infraestruturas para gestores, como a parte de onboarding, de antifraude e de emissão de títulos de dívida. A emissão de CCB (Cédula de Crédito Bancário), por exemplo, é um produto que vamos verticalizar dentro do processo todo de administração e custódia”, disse.

“Quando olhamos para a Singulare, além do modelo de negócio em si, a possibilidade da venda cruzada foi o que mais nos chamou atenção”, explicou o cofundador da QI Tech.

Clientes e aquisições

Segundo os planos, a integração com a Singulare deve contribuir para um crescimento de 50% no próximo ano, na soma dos dois negócios. Neste ano, a QI Tech por si só deve apresentar uma expansão de 105% - e a Singulare, de 35% -, em uma combinação que levará as receitas aos citados R$ 680 milhões.

“Nós iremos para 750 clientes com os 350 da Singulare. E devemos chegar a mil até o fim do ano que vem”, disse Marcelo Bentivoglio, cofundador e CFO da QI Tech, na mesma entrevista.

A aquisição da Singulare ocorreu logo após o anúncio de uma rodada Série B de US$ 200 milhões, liderada pela General Atlantic (GA) no fim de 2023.

No começo deste ano, houve uma extensão de US$ 50 milhões da Série B, com a GA e a Across Capital reforçando a aposta na tese. O capital adicional elevou a QI Tech ao status de unicórnio, ou seja, startup avaliada em pelo menos US$ 1 bilhão.

A Singulare foi a terceira compra da trajetória da QI Tech.

A primeira foi a Zaig, empresa de prevenção à fraude, em 2021, seguida pelo Builders Bank, com uma ferramenta para a criação de aplicativos bancários customizáveis, em 2023.

E é um movimento que não deve parar por aí. Segundo os fundadores, a QI Tech vê o crescimento inorgânico como um caminho para a consolidação de mercado, como no caso da aquisição da Singulare, assim como para reforçar verticais de serviço, a exemplo da Zaig e do Builders Bank.

“Nós estamos muito abertos a novos M&As e olhamos oportunidades de tamanhos diversos. O nosso leque de oportunidades é bem amplo”, afirmou Bentivoglio. Mas, de acordo com ele, a startup não tem nenhum acordo de confidencialidade - NDA, na sigla em inglês - neste momento.

Leia também

Brasileira QI Tech levanta US$ 200 milhões em uma das maiores Série B da história

Rhino, app de mobilidade com carros blindados, capta R$ 18 mi em rodada Seed

Plano de IPO da Klarna aumenta a expectativa de nova onda de ofertas de fintechs