Prosus investe em startup brasileira que mira ser um hub de agentes de IA para saúde

Voa Health capta US$ 3 milhões em rodada Seed para evoluir a tecnologia já aplicada de uso de IA generativa para auxiliar médicos, conta o fundador Solano Todeschini à Bloomberg Línea

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24 de Março, 2025 | 08:41 AM

Bloomberg Línea — A Prosus Ventures acaba de liderar um aporte de US$ 3 milhões na Voa Health, startup brasileira de IA (Inteligência Artificial) que faz uso da tecnologia para a documentação clínica de consultas com elevados índices de precisão. O valuation supera a casa de R$ 100 milhões.

O investimento em rodada Seed será destinado para desenvolvimento de produto, ampliação de time e investimento em atendimento a cliente, marketing e distribuição, como a frente de vendas para empresas.

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Fundada há menos de um ano pelos empreendedores Solano Todeschini e Filipe Loures, a Voa Health se propõe a reduzir o tempo dedicado por médicos para organizar dados não estruturados, da conversa com pacientes a exames em PDF e imagens, com uso de inteligência artificial generativa.

O diálogo do médico com o paciente é gravado com o devido consentimento e a transcrição é feita em tempo real e apresentada de forma organizada ao profissional de saúde.

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Conta com mais de 20.000 médicos cadastrados em sua base e tem conseguido economizar perto de 80% do tempo antes dedicado ao preenchimento de prontuários em mais de 80.000 consultas mensais, com atendimento a clientes individuais e corporativos.

Um dos principais contratos é com a Faculdade Unimed, o que possibilita a distribuição do produto para as regionais da Unimed espalhadas pelo país.

A proposta é que, ao realizar tais tarefas de caráter burocrático, manual e repetitivo, médicos possam dedicar mais tempo a outras atividades, como a interação em si com o paciente e a análise clínica dos casos.

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O plano é que o braço de investimento da Prosus possa contribuir para além do aspecto financeiro. A gigante global de tecnologia, principal acionista da chinesa Tencent e controladora do iFood no Brasil, tem redobrado os investimentos em IA sob a liderança desde julho passado do brasileiro Fabricio Bloisi.

Uma das prioridades alinhadas com a nova sócia é “desenvolver o produto para que possa se tornar uma plataforma de agentes de IA, para que empresas da área de saúde possam realizar interações com pacientes sem que seja necessário um humano em todas as etapas”, disse Todeschini à Bloomberg Línea.

Segundo ele, agentes de IA conseguem executar as mesmas tarefas que médicos e secretárias com maior qualidade e desempenho, pois são capazes, por exemplo, buscar o dado clínico com maior agilidade.

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Ao longo deste ano, novas versões de agentes de IA da Voa Health serão testadas e levadas para a base em atendimento ao pré-consulta e ao pós-consulta.

“A Prosus tem uma experiência muito grande em consumer e a Voa tem essa perspectiva também. A nossa visão de longo prazo é se tornar tanto um assistente de IA do médico como um one-stop-shop de IA para todos na saúde, com um lado conversacional on demand”, afirmou o cofundador.

Solano Todeschini (à direita) e Filipe Loures, cofundadores da Voa Health, startup de IA generativa na área de saude (Foto: Divulgação)

Segundo o cofundador, médico formado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e primeiro engenheiro de IA na Anterior, startup de IA para planos de saúde que atraiu investimento da Sequoia em Londres, o objetivo é que a Voa possa se tornar um assistente do médico que possa ajudar a interpretar resultados de exames e também a atender pacientes que estejam com sintomas de diferentes causas.

Loures, por sua vez, foi diretor de Novos Negócios na MedSênior e trabalhou como médico de família com ampla atuação na saúde pública e privada.

Os dois fundadores da Voa trabalharam juntos por dois anos e decidiram empreender, segundo contam, ao se darem conta do potencial transformador da IA na área de saúde.

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A startup atingiu uma receita anualizada de R$ 2,5 milhões por meio de contratos com mais de 600 clientes que pagam a versão premium do produto. A projeção é encerrar o ano de 2025 em R$ 12 milhões e 3.000 clientes pagantes. E, em 18 meses, chegar a R$ 18 milhões, com 8.000 pagantes.

“Temos um pipeline com potenciais novos contratos que levariam a valores muito acima disso.”

Parte do investimento será dedicada ao aperfeiçoamento da tecnologia de geração de voz. “No ano passado, houve muito foco nesse core de Voice AI. Desenvolvemos muita coisa interna em transcrição, que se a empresa consumisse de players do Vale do Silício, seria muito custoso e inviável em unit economics.”

O áudio capturado e processado, sempre com autorização, é utilizado para o treinamento de modelos proprietários com uso de IA, o que amplia de forma crescente a assertividade das transcrições.

Eles, por sua vez, partem de uma base com modelos open source cujo desempenho em alguns casos, como do DeepSeek, já superam os de empresas como OpenAI e Anthropic, segundo ele.

“Nós acreditamos muito no conceito de Small Language Models, que são modelos pequenos, adaptados ao domínio, e que executam uma única tarefa”, explicou Todeschini. “Dependemos muito mais da qualidade do dado, de conhecimento de domínio e de como você cria o seu produto em volta disso.”

O desenvolvimento do produto deve se traduzir também em aumento da acurácia e em redução da latência nas transcrições a partir dos arquivos de áudio.

Segundo o cofundador da Voa Health, a infraestrutura em cima de modelos de voz é o mais difícil de ser desenvolvido e “não existe nada de prateleira que faça sentido em termos de unit economics no Brasil”.

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Para a Prosus, o avanço em novas aplicações com uso de IA representa uma oportunidade “cem vezes maior”, conforme disse o seu CEO global, Fabricio Bloisi, à Bloomberg News no ano passado.

Uma das teses do executivo que alçou o iFood ao patamar de líder do mercado de delivery no Brasil é desenvolver, replicar e integrar modelos e plataformas já existentes e bem-sucedidos em diferentes mercados.

“O que chamou nossa atenção na Voa Health é que a empresa atende uma necessidade crítica, com uma solução nativa capaz de reduzir a carga administrativa e combater o esgotamento dos médicos – dois grandes desafios na área da saúde”, disse Rafael Barbalat, diretor de Investimentos LatAm na Prosus, em comunicado.

“À medida que a IA se torna um fator decisivo no setor, vemos um enorme potencial para a Voa liderar a transformação da eficiência e da qualidade do atendimento no Brasil”, disse o investidor.

Anteriormente, a Voa Health havia levantado cerca de US$ 300 mil com investidores estratégicos, como como Jardel Cardoso, fundador da americana Billor e cofundador da CredPago - adquirida pela Loft -, e Ícaro Vilar, CEO da Amor Saúde, maior rede de clínicas populares do Brasil.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.