Plano de IPO da Klarna aumenta a expectativa de nova onda de ofertas de fintechs

Pedido de abertura de capital da startup de pagamentos europeia pode estimular novas operações no setor, segundo banqueiros, investidores e analistas ouvidos pela Bloomberg News

Klarna
Por Anna Irrera - Pablo Mayo Cerqueiro
21 de Novembro, 2024 | 05:26 PM

Bloomberg — O pedido de uma oferta pública inicial da startup Klarna tem alimentado as esperanças de que uma longa seca de listagens de fintechs possa estar chegando ao fim, impulsionando o que pode ser uma nova onda de estreias na bolsa para empresas do setor nos próximos dois anos.

A gigante sueca que atua no modelo buy-now, pay-later (que possibilita compras parceladas nos EUA e na Europa) planeja abrir capital em Nova York durante o primeiro semestre do ano que vem, informou a Bloomberg.

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Uma listagem bem-sucedida - juntamente com o aumento dos preços das ações e a perspectiva de uma regulamentação mais favorável durante uma segunda presidência de Donald Trump - poderia finalmente levar outras fintechs a fazer o mesmo, de acordo com banqueiros, investidores de venture capital e analistas ouvidos pela Bloomberg News.

Leia também: Como a fintech Klarna se tornou uma das candidatas a IPO mais aguardadas do mercado

Outras fintechs estão prontas para avançar com seus planos de IPO. A Zilch Technology e a Chime Financial avaliam a venda de ações pela primeira vez em 2025, e os executivos da Plaid e dos bancos digitais Revolut e Zopa Bank sinalizaram que consideram uma listagem. O proprietário do Trustly Group avalia opções para a fintech, incluindo uma venda ou IPO, informou a Bloomberg News.

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A Brex, dos fundadores brasileiros Pedro Franceschi e Henrique Dubugras, e a Ramp Business também consideram eventuais IPOs.

A rapidez com que essas empresas chegam ao mercado e o local onde escolhem se listar podem ser influenciados pelo desempenho da Klarna.

“O tão esperado registro da Klarna pode levar a um aumento nas ofertas públicas de fintechs após um período relativamente lento”, disse Mark Palmer, analista sênior de pesquisa de fintech e ativos digitais da Benchmark Company. “O recente aumento dos preços e das avaliações das fintechs é um bom presságio para novas ofertas públicas no setor, assim como as expectativas dos investidores de um regime regulatório mais favorável às fintechs durante o novo governo Trump.”

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Klarna, Zilch, Trustly, Nordic Capital, proprietária majoritária da Trustly, Revolut, Plaid, Brex e Chime não quiseram comentar ou não responderam aos pedidos de comentários para esta matéria.

Um porta-voz do Zopa Bank disse que “um IPO não é uma prioridade imediata”, mas que continua trabalhando para isso, de preferência no Reino Unido, quando for o momento certo. Um porta-voz da Ramp disse que “temos a ambição de ser uma empresa de capital aberto, mas não estamos planejando ativamente isso no momento”.

A Klarna entrou com um pedido confidencial de IPO junto à SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos), segundo um comunicado na semana passada.

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Embora a empresa não tenha fornecido detalhes financeiros, no mês passado os analistas avaliaram o valuation implícito da Klarna em cerca de US$ 14,6 bilhões, depois que o acionista Chrysalis Investments aumentou o valor de sua participação.

Isso representaria uma melhoria em relação ao valuation de US$ 6,7 bilhões que a empresa obteve em sua última rodada de investimentos em 2022, mas ainda é muito menor do que o valuation de US$ 45,6 bilhões que Klarna ostentava em 2021.

Finanças ou tecnologia?

Os valuations de fintechs entraram em colapso durante uma queda do setor de tecnologia em 2022, desencadeada pelo aumento das taxas de juros e pela instabilidade geopolítica.

O preço das ações da Klarna oferecerá pistas para outros candidatos a IPOs sobre o que podem esperar: serão atribuídas a eles valuations altos semelhantes aos de ações de tecnologia ou preços mais realistas de empresas do setor financeiro?

“O setor precisa de liquidez, e os valuations precisam voltar à realidade”, disse Sydney Thomas, general partner e fundadora da Symphonic Capital. Ela classificou o declínio da avaliação privada da Klarna como “razoável” e sua avaliação atual estimada como “ainda excepcional”, considerando o que o setor tem passado.

“Espero que a IPO da Klarna dê a outros fundadores a coragem de buscar um exit, mesmo que isso signifique fazer isso com um valuation menor”, disse Thomas.

Os fundos de venture capital que apoiam as fintechs estão otimistas quanto ao fato de que há novamente um espaço no mercado de ações para empresas de rápido crescimento, especialmente aquelas que são lucrativas ou que estão no caminho certo para isso.

“As fintechs - de capital aberto ou fechado - que estão resolvendo problemas reais e têm uma economia unitária fundamental sólida continuarão a ter um bom desempenho”, disse Nigel Morris, general partner da QED Investors.

Duas das empresas lucrativas do portfólio da QED são a SoFi Technologies, sediada em São Francisco, e o Nubank. As ações da SoFi subiram cerca de 47% até agora este ano, enquanto as do NuBank subiram 62%.

Mas a realidade do investimento em IPOs mudou desde que essas empresas abriram o capital em 2021, durante uma onda de listagens de empresas com foco no crescimento impulsionadas na pandemia de covid-19.

Muitas dessas ações foram prejudicadas quando a era dos empréstimos baratos chegou a um fim abrupto, deixando os investidores em estado de choque. Os problemas também se espalharam pelos mercados privados, nos quais empresas como a Klarna tiveram dificuldades para manter seus altos valuations enquanto lutavam para levantar mais investimentos.

Com exceção das empresas de inteligência artificial, os investidores ultimamente têm preferido negócios mais previsíveis e lucrativos a promessas de crescimento futuro. Eles também exigiram descontos acentuados na avaliação para compensar o risco de apostar em ações não testadas.

Há sinais de que a maré pode estar começando a mudar. Por exemplo, as ações da insurtech americana Lemonade subiram quase 189% este ano e voltaram a ficar acima do preço de seu IPO, embora tenham caído muito em relação ao pico do início de 2021.

Outras ações de fintechs também estão em alta. O BofA Broad Fintech Index, do Bank of America, subiu cerca de 36% este ano, enquanto o Ark Fintech Innovation ETF subiu cerca de 38%. Ambos superam o desempenho do S&P 500.

Divergência de avaliação

Os investidores também estão menos inclinados a pintar todo o setor de fintech com um rótulo amplo, preferindo determinados subsetores a outros. Os modelos de empréstimos digitais caíram em desgraça, enquanto as empresas de pagamento ganharam força, de acordo com alguns VCs.

Várias empresas de empréstimo, incluindo a LendingClub, fizeram parte da primeira geração de fintechs que abriram capital há cerca de uma década. Mas algumas tiveram dificuldades para competir, pois seu custo de capital aumentou, enquanto os bancos conseguiram manter custos de financiamento mais baixos, inclusive por meio de depósitos.

As avaliações das empresas de empréstimo “caíram por terra” devido a essa dinâmica competitiva, disse Tom Glocer, um investidor-anjo e presidente executivo da startup Capitolis. Por outro lado, “todos gostam de empresas de pagamentos porque querem obter o múltiplo da Adyen”.

As ações da fintech holandesa subiram 406% desde seu IPO na Euronext Amsterdam em 2018, mesmo depois de ter sofrido uma queda no ano passado devido a lucros abaixo do esperado. As ações são negociadas a 34 vezes seus lucros esperados para 2025 e cerca de 12 vezes sua receita esperada, incluindo dívidas, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

A Klarna, que concede crédito de curto prazo a compradores de todo o mundo, terá de convencer os investidores de que não é uma empresa tradicional de empréstimos para obter sua avaliação ambiciosa. A empresa tem se expandido para áreas além de seu principal produto buy-now, pay-later, incluindo mais ofertas de banco de varejo e aproveitando a inteligência artificial para melhorar seus serviços.

Mercados domésticos

Mesmo com o bom desempenho da Adyen, muitas fintechs europeias são tentadas pela promessa de obter avaliações mais altas e maior liquidez nos EUA. Isso aumenta a pressão sobre seus países de origem para que mantenham essas listagens.

A Revolut, a maior fintech da Grã-Bretanha, será observada de perto enquanto decide quando, onde e se deve ser listada. Permanecer em Londres seria uma grande vitória para o setor de tecnologia do Reino Unido e sua bolsa de valores, que tem sofrido com a escassez de IPOs desde 2021. No entanto, as vantagens de mercado dos EUA, juntamente com os possíveis benefícios regulatórios sob Trump, podem ser difíceis de resistir.

Algumas empresas podem simplesmente continuar com capital fechado enquanto buscam rodadas de financiamento adicionais e vendas de participações. Isso lhes daria tempo para melhorar as avaliações e, ao mesmo tempo, ofereceria liquidez aos primeiros investidores e funcionários.

“Para certas empresas, há muito diálogo contínuo e o desejo de reconfigurar sua estrutura de capital atual para que estejam mais prontas para a abertura de capital”, disse Brennin Kroog, diretor administrativo da Lazard, em uma entrevista à Bloomberg News.

A Revolut concluiu uma venda de ações de US$ 500 milhões para os acionistas em agosto, que avaliou a empresa em US$ 45 bilhões. Logo depois, sua concorrente britânica Monzo Bank também anunciou uma venda de ações para funcionários que lhe rendeu uma avaliação de US$ 5,9 bilhões.

O pedido de registro da Klarna não significa necessariamente que todos os outros seguirão o mesmo caminho, disse Rob Moffat, sócio da Balderton Capital, investidora da Revolut.

“É uma ótima notícia, mas não devemos contar com as galinhas até que o IPO seja concluído com sucesso”, disse ele. “A Klarna sempre seria uma das primeiras, pois foi fundada em 2005.”

-- Com a colaboração de Aisha S Gani, Emily Nicolle e Emily Mason.

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