Bloomberg Línea — O sucesso do Pix entre os brasileiros já é uma história contada de norte a sul do país - e até um case de sucesso em fóruns internacionais. Mas há um novo público que o meio de pagamento instantâneo desenvolvido pelo Banco Central tem cativado: os argentinos.
Fãs das praias brasileiras, do litoral catarinense e gaúcho até o do Nordeste, os turistas argentinos movimentaram mais de US$ 150 milhões (cerca de R$ 870 milhões ao câmbio corrente) via Pix entre janeiro e os primeiros dias de fevereiro por meio da tecnologia da startup argentina Belo.
Esse volume supera os US$ 115 milhões processados ao longo de todo o ano de 2024, quando a fintech começou a disponibilizar o serviço.
Criada em 2021, a Belo faz uso da tecnologia das stablecoins para oferecer seus serviços. A startup nasceu com um modelo de negócios cross-border com foco em latino-americanos que trabalham para empresas no exterior, ganhando em dólar ou euro, competindo com empresas como a Wise.
O Pix entrou na mira da startup quando os fundadores buscaram entender os hábitos de pagamentos mais recentes do fluxo de brasileiros que visitam a Argentina, em destinos como Buenos Aires, Mendoza e Ushuaia.
“Os comércios queriam uma forma de poder aceitar pagamentos com maior conveniência”, afirmou Manuel Beaudroit, co-fundador e CEO da Belo.
Essa oportunidade atraiu também gigantes como o Mercado Pago, a fintech do Mercado Livre, que desenvolveu uma solução para que brasileiros possam pagar com Pix na Argentina por meio de QR Code em maquininhas Point Smart. O serviço entrou em operação neste início de ano.
Com as mudanças econômicas adotadas pelo governo de Javier Milei a partir de dezembro de 2023, que valorizaram o peso, o Brasil ganhou ainda mais apelo entre turistas argentinos, e a Belo desenvolveu e começou a ofertar o produto.
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Por meio de app, os usuários depositam pesos em suas contas e o sistema processa automaticamente os valores para reais a cada transação, seja via QR code ou número de telefone.

“A aceitação da solução foi imediata desde o início”, disse Beaudroit à Bloomberg Línea.
“Cresceu muito rápido, principalmente impulsionado por influenciadores de viagem e de lifestyle, vendo que há uma nova forma de pagar que é a mais conveniente para os argentinos. E, organicamente, as pessoas também foram recomendando o serviço aos seus amigos e familiares”, contou.
De acordo com Beaudroit, a frente de consumo associada ao turismo deve se estabelecer como uma divisão importante para o negócio, acompanhando a expansão do Pix.
Ao mesmo tempo, a startup avança com uma prateleira de produtos que profissionais latino-americanos possam usar para que a plataforma funcione como uma espécie de one-stop-shop para a gestão das suas finanças, ou seja, muito além do recebimento de recursos do exterior.
“O valor que queremos agregar, principalmente na América do Sul, é como um produto bem local, com acesso internacional, que esteja bem feito para que os usuários possam usar sem nenhum tipo de problema, com taxas mais baixas e com um leque de soluções”, disse Beaudroit.
”Nos interessam, por exemplo, recarga de móveis, gift cards e compras e vendas de criptomoedas”.
É com essa estratégia que a startup desembarca no Brasil, com escritório em São Paulo, e prepara a entrada no México. O primeiro profissional na maior economia da região foi contratado em dezembro e a expectativa é que o produto de estreia ao público brasileiro seja lançado ainda no primeiro semestre.
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Segundo o CEO, o serviço ainda não está definido, mas deve girar em torno de ofertas de criptomoedas e pagamentos cross-border.
A startup tem clientes em todos os países da América Latina. É uma base com mais de 4 milhões de usuários, mas que ainda está concentrada na Argentina, país de origem da Belo.
As movimentações estão sendo feitas com caixa próprio - a startup opera com rentabilidade desde outubro de 2023.
“Somos muito eficientes do ponto de vista operacional e temos crescido com margem bruta acima de 70%. Em janeiro, terminamos com a entrada de cerca de US$ 70 milhões anualizados”.
Apesar disso, a startup avalia uma potencial captação para acelerar a estratégia. Desde que chegou ao mercado, a startup captou US$ 4,2 milhões em rodadas pré-Seed e Seed.
Entre os investidores estão fundos como CRV, The Venture City, Newtopia, Latitude, Liquid 2, Infinity Ventures Crypto, Magma Partners e Sur VC.
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