Pix cai nas graças de argentinos e esta startup hoje processa mais de US$ 150 milhões

Fundada por argentinos em 2021 com foco em freelancers latino-americanos, a Belo encontrou na oferta do Pix para turistas de seu país no Brasil um de seus principais negócios

Praia de Ipanema no Rio de Janeiro, um dos destinos preferidos de turistas argentinos no Brasil (Foto: Dado Galdieri/Bloomberg)
Por Marcos Bonfim
14 de Março, 2025 | 09:20 AM

Bloomberg Línea — O sucesso do Pix entre os brasileiros já é uma história contada de norte a sul do país - e até um case de sucesso em fóruns internacionais. Mas há um novo público que o meio de pagamento instantâneo desenvolvido pelo Banco Central tem cativado: os argentinos.

Fãs das praias brasileiras, do litoral catarinense e gaúcho até o do Nordeste, os turistas argentinos movimentaram mais de US$ 150 milhões (cerca de R$ 870 milhões ao câmbio corrente) via Pix entre janeiro e os primeiros dias de fevereiro por meio da tecnologia da startup argentina Belo.

PUBLICIDADE

Esse volume supera os US$ 115 milhões processados ao longo de todo o ano de 2024, quando a fintech começou a disponibilizar o serviço.

Criada em 2021, a Belo faz uso da tecnologia das stablecoins para oferecer seus serviços. A startup nasceu com um modelo de negócios cross-border com foco em latino-americanos que trabalham para empresas no exterior, ganhando em dólar ou euro, competindo com empresas como a Wise.

O Pix entrou na mira da startup quando os fundadores buscaram entender os hábitos de pagamentos mais recentes do fluxo de brasileiros que visitam a Argentina, em destinos como Buenos Aires, Mendoza e Ushuaia.

PUBLICIDADE

“Os comércios queriam uma forma de poder aceitar pagamentos com maior conveniência”, afirmou Manuel Beaudroit, co-fundador e CEO da Belo.

Essa oportunidade atraiu também gigantes como o Mercado Pago, a fintech do Mercado Livre, que desenvolveu uma solução para que brasileiros possam pagar com Pix na Argentina por meio de QR Code em maquininhas Point Smart. O serviço entrou em operação neste início de ano.

Com as mudanças econômicas adotadas pelo governo de Javier Milei a partir de dezembro de 2023, que valorizaram o peso, o Brasil ganhou ainda mais apelo entre turistas argentinos, e a Belo desenvolveu e começou a ofertar o produto.

PUBLICIDADE

Leia mais: Azos capta R$ 170 mi em Série B e atrai um dos investidores iniciais do Facebook

Por meio de app, os usuários depositam pesos em suas contas e o sistema processa automaticamente os valores para reais a cada transação, seja via QR code ou número de telefone.

Manuel Beaudroit, co-fundador e CEO da Belo: "A aceitação da solução do pix foi imediata desde o início. Cresceu muito rápido, principalmente impulsionado por influenciadores de viagem e de lifestyle"

“A aceitação da solução foi imediata desde o início”, disse Beaudroit à Bloomberg Línea.

PUBLICIDADE

“Cresceu muito rápido, principalmente impulsionado por influenciadores de viagem e de lifestyle, vendo que há uma nova forma de pagar que é a mais conveniente para os argentinos. E, organicamente, as pessoas também foram recomendando o serviço aos seus amigos e familiares”, contou.

De acordo com Beaudroit, a frente de consumo associada ao turismo deve se estabelecer como uma divisão importante para o negócio, acompanhando a expansão do Pix.

Ao mesmo tempo, a startup avança com uma prateleira de produtos que profissionais latino-americanos possam usar para que a plataforma funcione como uma espécie de one-stop-shop para a gestão das suas finanças, ou seja, muito além do recebimento de recursos do exterior.

“O valor que queremos agregar, principalmente na América do Sul, é como um produto bem local, com acesso internacional, que esteja bem feito para que os usuários possam usar sem nenhum tipo de problema, com taxas mais baixas e com um leque de soluções”, disse Beaudroit.

”Nos interessam, por exemplo, recarga de móveis, gift cards e compras e vendas de criptomoedas”.

É com essa estratégia que a startup desembarca no Brasil, com escritório em São Paulo, e prepara a entrada no México. O primeiro profissional na maior economia da região foi contratado em dezembro e a expectativa é que o produto de estreia ao público brasileiro seja lançado ainda no primeiro semestre.

Leia mais: Fintech N5 conclui Série A de US$ 20 mi e investe em agentes de IA para bancos

Segundo o CEO, o serviço ainda não está definido, mas deve girar em torno de ofertas de criptomoedas e pagamentos cross-border.

A startup tem clientes em todos os países da América Latina. É uma base com mais de 4 milhões de usuários, mas que ainda está concentrada na Argentina, país de origem da Belo.

As movimentações estão sendo feitas com caixa próprio - a startup opera com rentabilidade desde outubro de 2023.

“Somos muito eficientes do ponto de vista operacional e temos crescido com margem bruta acima de 70%. Em janeiro, terminamos com a entrada de cerca de US$ 70 milhões anualizados”.

Apesar disso, a startup avalia uma potencial captação para acelerar a estratégia. Desde que chegou ao mercado, a startup captou US$ 4,2 milhões em rodadas pré-Seed e Seed.

Entre os investidores estão fundos como CRV, The Venture City, Newtopia, Latitude, Liquid 2, Infinity Ventures Crypto, Magma Partners e Sur VC.

Leia também

Fintech de energia solar, Solfácil levanta R$ 1 bi em FIDC para sustentar expansão

Conheça 10 startups brasileiras para ficar de olho em 2025

Marcos Bonfim

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark