Bloomberg Línea — A empresa mineira Onfly acaba de acertar uma captação de R$ 240 milhões, em rodada Série B. Fundada em 2019, a startup combina um software de gestão de viagens corporativas com um marketplace para a compra de passagens, a reserva de hotéis e a locação de veículos.
O investimento foi liderado pela Tidemark, em movimento que marca o primeiro aporte do fundo em uma startup da América Latina. A gestora tem como sócio e fundador Dave Yuan, investidor que participou de aportes em empresas como Facebook, Nubank, LinkedIn e ByteDance no período de 15 anos em que integrou a Technology Crossover Ventures (TCV) como general partner.
Com a movimentação, a Tidemark indicou o seu venture partner Drew Patterson, ex-VP de marketing do Kayak e co-fundador da Jetsetter (comprada pela TripAdvisor), para ocupar uma posição no conselho da Onfly.
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A rodada contou também com a Endeavor Catalyst, fundo da Endeavor, e a Left Lane Capital, que co-liderou a série A em 2023 com a gestora brasileira Cloud9 Capital.
O software e o marketplace
A Onfly atende cerca de 2.000 empresas, que usam a sua plataforma para a gestão de viagens e despesas corporativas.
O perfil é variado, entre pequenas e médias empresas, que têm gastos de R$ 10.000 por mês, e maiores, com R$ 1,5 milhão por mês em viagens. A carteira inclui nomes como Vivara, PicPay, Hotmart e Vtex.
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A partir do aplicativo, os funcionários das companhias fazem as reservas sozinhos - sem a ajuda de agências ou terceiros -, seguindo com regras e valores previamente estabelecidos.
“Nós nos posicionamos como um one-stop-shop em viagens. Eu tenho um inventário aéreo e de hotel, carro e ônibus. A pessoa não precisa sair da plataforma para resolver a viagem dela”, afirmou Marcelo Linhares, co-fundador e CEO da startup. “Tentamos fazer o máximo de self-service para o cliente.”

Linhares e o sócio Elvis Soares decidiram lançar a startup após anos enfrentando problemas com planilhas e pedidos de reembolso em uma varejista em que trabalhavam, como diretores de e-commerce e de expansão.
“O que deixou claro que havia um problema é que tinha uma secretária que roubou a empresa por um ano e meio. Ela alugou um carro e colocou na fatura da agência para a empresa pagar”, contou. A descoberta do caso os levou a começar a olhar para esse mercado e para potenciais oportunidades de negócios.
O negócio foi colocado “em pé” antes em 2019, sobreviveu ao baque da pandemia, e tem encontrado caminhos para apresentar um ritmo de expansão contínua.
A startup encerrou o último ano com R$ 87 milhões em receita, uma alta de 100% em relação aos números de 2023. A expectativa é avançar outros 90% ao longo de 2025. Em GMV (volume bruto transacionado), projeta R$ 1,5 bilhão, após ter alcançado R$ 820 milhões no ano passado.
Uma das fortalezas, segundo o CEO, é o modelo que combina o software de gestão com o marketplace, carro-chefe da operação e origem de 90% da receita. Os 10% restantes provêm da plataforma SaaS (Software as a Service) e do cartão corporativo, produto que movimentou R$ 200 milhões em TPV (volume total de pagamentos).
Novas contas e expansão internacional
“O lado financeiro é mais uma funcionalidade, não o nosso foco hoje. Nós acabamos de lançar uma funcionalidade, por exemplo, que é a expenditure control, em que eu consigo travar um cartão: se é para passar alimentação, combustível, o horário de uso e os valores. Conseguimos entrar nesse nível de customização”, afirmou.
A Onfly tem como concorrentes nesse segmento startups como a PayTrack, que recebeu R$ 240 milhões em aporte no início do ano das mãos da Riverwood, além de outras empresas como Conta Simples e Espresso, adquirida pela mineira Sankhya, mais focadas na divisão de despesas.
As planilhas de excel continuam a ocupar o posto majoritário de solução adotada por empresas.
Com a entrada dos novos recursos, a startup mineira quer acelerar o crescimento e a conquista de novos clientes. O objetivo é fechar dezembro com mais de 2.400 contas corporativas.
Para chegar lá, a Onfly deve investir cerca de R$ 25 milhões em estratégia de marketing e vendas, em ações com influenciadores, participação em eventos e campanhas em TV.
“Nós entendemos que estamos em um momento de capturar market share, de construção, e não naquela fase de gerar caixa e distribuir dividendos”, disse Linhares.
O dinheiro também será utilizado para fortalecer a expansão da startup, que entrou no México em dezembro passado. Se bem-sucedido, o processo já tem as novas fases definidas: o desembarque no Chile, na Colômbia e na Argentina ao longo de 2026. Segundo o CEO, aquisições podem ser feitas para ajudar a posicionar a startup nesses países.
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