Mercado de VC parado? Esta gestora planeja 10 ‘saídas’ de startups em 2025

A KPTL, uma das maiores do país e com foco em negócios early stage, já concluiu três ‘exits’ neste fim de 2024 para retornar capital a investidores, conta o CEO, Renato Ramalho, à Bloomberg Línea

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Por Marcos Bonfim
13 de Dezembro, 2024 | 05:36 AM

Bloomberg Línea — Os últimos meses do ano foram movimentados para a KPTL, tradicional gestora de venture capital que acumulou três exits de investidas entre outubro e novembro. Com um portfólio com 70 startups, o fundo pretende concluir em 2025 dez saídas de investimentos realizados em startups.

O número destoa de um quadro ainda desfavorável para os exits de fundos de VC no mundo. Um recente relatório do Pitch Book com a NVCA (National Venture Capital Association) nos Estados Unidos revelou que o percentual de capital retornado para LPs (Limited Partners), que são investidores institucionais como fundos e family offices, caiu neste ano ao menor patamar desde a crise financeira de 2008.

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Os números refletem um mercado impactado por anos de juros mais altos e pela queda da atividade em IPOs (ofertas públicas iniciais) nos EUA - no Brasil, o quadro é de paralisia de ofertas mesmo.

A KPTL, por sua vez, tem seu próprio modelo de investimento e aporta capital em startups early stage, com a aquisição de não menos do que 20% de participação e com cheques que não ultrapassam a faixa de R$ 10 milhões.

No portfólio, estão govtechs e startups de agronegócio, saúde, finanças, energia, biotecnologia e IoT, além de deeptechs.

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“Nós não somos aquele investidor que tem 1% ou 2% de participação, não fazemos isso. Normalmente, nós somos os primeiros e continuamos sendo um investidor institucional importante na estrutura de capital das companhias”, afirmou Renato Ramalho, CEO da KPTL, em entrevista à Bloomberg Línea.

A gestora tem 18 anos de vida desde a sua chegada ao mercado como A5 Capital Partners. A fusão com a Inseed em 2019 deu origem à KPTL, então descrita como o maior player nacional de venture capital.

Renato Ramalho, CEO da KPTL: 2025 será um ano de desinvestimento muito forte tanto pelo amadurecimento dos ativos quanto dos fundos

Os desinvestimentos mais recentes incluem a Augen, startup gaúcha de tratamento e controle de qualidade da água, adquirida pela scale-up Biosolvit, investida de Laércio Cosentino, fundador e presidente do conselho da Totvs, em transação cujo valor pode chegar a R$ 48 milhões; e a VarejoOnline, comprada pela Totvs em negócio de R$ 49 milhões, que também adicionou earnouts.

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Na lista está ainda a Akmey, empresa de biotecnologia têxtil cuja família fundadora recomprou a participação. O Moic, indicador que mede o múltiplo sobre o capital investido, foi o maior entre as três transações e ficou em 6,3 vezes. A gestora fez uma quarta saída, um write-off, em que abriu mão de um investimento que não andou.

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Essas movimentações têm permitido à KPTL fazer o que muitos dos seus pares desejam e não conseguem em um momento de mercado ainda adverso: retornar o capital aos investidores.

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A gestora considera, porém, que precisa acelerar o passo e o novo número evidencia isso. Dos nove fundos atualmente ativos, cinco em processo de desinvestimento: o Criatec 1, com duas startups; o Criatec 3, com 26; o W7, com quatro; o Fima (fundo de sustentabilidade), com seis, e o Agro, com quatro.

“2025 será um ano de desinvestimento muito forte tanto pelo amadurecimento dos ativos quanto dos fundos”, afirmou Ramalho.

Outras startups no portfólio são a Smartbreeder e a Agrotools, o delivery de orgânicos Raizs, a fintech Celero e a plataforma de tesouraria Laqus.

A gestora fecha o ano com R$ 919 milhões de receita bruta das startups no portfólio, o que representa um crescimento de 10,4% em relação ao ano anterior.

A expectativa de aumento dos exits é alimentada por sinalizações do mercado de M&As, em alta nos últimos meses após “patinar” desde o início de 2023.

De acordo com a consultoria FZF Capital, o país registrou 24 operações de fusões e aquisições em tecnologia em novembro, movimentando R$ 2,7 bilhões no mês. O valor foi impulsionado pela aquisição do controle da Eletromidia pela Globo, em transação estimada em R$ 1,7 bilhão.

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“Nos últimos três meses, o número de transações mostrou uma recuperação clara, com resultados que superaram a média registrada nos primeiros oito meses do ano”, afirmou Kauê Pires, sócio da FZF Capital. “A maior confiança no setor aponta para um cenário mais positivo nos próximos meses.”

Novos investimentos

Se por um lado considera 2025 como o ano dos desinvestimentos, a KPTL também mantém uma agenda ativa de captação. Dentro de casa, soma pouco de R$ 80 milhões disponíveis para novos investimentos. E, ao longo do próximo ano, calcula a entrada de mais de R$ 150 milhões em recursos.

O maior volume deve entrar para o FundoGov, ancorado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A KPTL já tem 50 milhões captados, com parte do dinheiro já investido em quatro startups. Em 2025, o fundo projeta atrair outros R$ 100 milhões, em uma composição que deve ter novamente a Fapesp como principal aportadora dos recursos.

Para os R$ 50 milhões restantes, a gestora trabalha com dois fundos ligados à sustentabilidade.

O primeiro é o Amazonia Regenerate Fund, ancorado pelo BID Lab, braço de inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento e em fase de captação de uma primeira tranche de US$ 11 milhões - a ambição é chegar em US$ 30 milhões em 2026.

O segundo, mais embrionário, é o fundo de “Floresta e Clima”, para o qual o Ramalho evita apontar uma cifra. ”Eu ainda não tenho conforto de estimar nenhum cheque que deve entrar no curto prazo”, afirmou. Em fase de captação, o veículo, lançado com a Vale em 2022, procura levantar R$ 200 milhões.

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Marcos Bonfim

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark