Mais demanda do que capital disponível: o cenário provável para startups em 2024

Captação de fundos de VC em 2023 foi o mais baixo desde 2015, segundo dados do PitchBook; NXTP fecha novo fundo de US$ 98 milhões e conta os planos à Bloomberg Línea

Um funcionário trabalha no escritório da Revolut, localizado no edifício de coworking Wework Lafayette, em Paris, França, na quinta-feira, 24 de fevereiro de 2023. Foto: Cyril Marcilhacy/Bloomberg
07 de Janeiro, 2024 | 03:17 PM

Bloomberg Línea — 2023 foi, para muitos fundadores e investidores, um ano de “arrumar a casa”. E isso se refletiu em rodadas de investimento que ficaram ainda muito abaixo dos valores recordes de 2021, momento em que as taxas de juros ainda estavam em patamares mais baixos, e também de 2022. A América Latina encerrou o último ano com US$ 4 bilhões investidos em 864 transações, segundo dados do PitchBook divulgados em primeira mão pela Bloomberg Línea.

Isso representa queda de 58% em relação a 2022. Em relação a 2021, foi 77% menor. Ficou acima, na comparação com anos anteriores, apenas de 2018 - foi 38% maior.

Os dados de atividade de investimento em capital de risco (VC) na América Latina até 2023 revelam um cenário ainda abaixo de outras regiões globais.

2023 também foi o ano com menor número de saídas (vendas ou IPOs) para os investidores na América Latina: 55 no total. Só 2019 teve número de transações, com 41 transações desse tipo. No entanto, em volume, as saídas de 2023 foram iguais as de 2022: geraram US$ 1,4 bilhão.

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Por outro lado, foram US$ 2 bilhões captados pelos fundos de venture capital para a América Latina. Volume maior do que em 2022 (US$ 1,4 bilhão), mas pouco abaixo de 2021 (US$ 2,3 bilhões).

Globalmente, 2023 foi o ano mais fraco em arrecadação global de fundos de capital de risco desde 2015.

Por essa razão, 2024 será um ano em que haverá mais demanda do que oferta de capital para startups, segundo Paulo Passoni, líder de Growth Investing no Valor Capital Group.

Em um comentário no LinkedIn, Passoni disse que aproximadamente 250 empresas de estágio Série A na América Latina receberam rodadas de investimento nos últimos dois anos.

O ex-managing investment partner do SoftBank Latin America Fund observou que a taxa de evolução de Seed para Série A é em torno de 20%, indicando que, nos próximos dois anos, o número de empresas na Série A pode chegar a 400. E alertou para o desafio financeiro, dizendo que o mercado latino-americano atualmente não dispõe de capital suficiente para atender à demanda projetada.

Ele salientou que levantar fundos de growth de US$ 300 milhões a 500 milhões para estágios mais avançados, como Série B, é consideravelmente mais difícil do que para Seed ou Pre-Seed, e aconselhou os fundadores a considerar essa realidade ao buscar financiamento na Série A.

Para os estágios mais iniciais, os fundos estão capitalizados, segundo avaliações no mercado.

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Novo fundo da NXTP

A NXTP, fundo de capital de risco orientado para B2B, recentemente fechou seu terceiro e maior fundo, o NXTP III, com US$ 98 milhões.

O tamanho do fundo, mais que o dobro do anterior, atraiu investidores institucionais líderes nos Estados Unidos e globalmente, family offices, indivíduos de alto patrimônio e fundadores de empresas tech na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa.

A NXTP, que atua desde 2011, planeja construir um portfólio de 25 a 30 empresas com esse novo fundo.

Alexander Busse, sócio-gerente da NXTP, enfatizou em entrevista à Bloomberg Línea o que classificou como comprometimento do fundo com empreendedores B2B na América Latina e destacou a natureza institucional crescente dos Limited Partners (LPs).

Ele também disse que o fundo terá capacidade de realizar investimentos “substanciais, liderar negociações e oferecer suporte a empreendedores por períodos mais longos.

Busse destacou que cerca de dois terços do fundo provêm de capital institucional e internacional.

“Se olharmos para a composição de nossos Limited Partners ao longo dos anos, ela está se tornando cada vez mais de natureza institucional. Isso é algo que nos distingue de outros fundos iniciais e fundos de risco em estágio inicial na América Latina, em que há uma participação muito elevada de pessoas físicas de alto patrimônio e family offices”, disse.

Como apontado por João Ventura, fundador da plataforma de dados Sling Hub, o momento para o ecossistema de startups no Brasil mudou em relação a anos passados.

Em uma análise de rodadas acima de US$ 100 milhões (mega-rodadas) nos últimos cinco anos no país, seis delas envolvendo somente equity (participação acionária) aconteceram em 2019, das quais o SoftBank participou de cinco.

Em 2020, foram sete investimentos acima de US$ 100 milhões. Em 2021, o número saltou para 21 mega-rodadas; e caiu para seis em 2022.

Em 2023, foram três mega-rodadas, em que apenas uma foi de equity e nenhuma com participação do SoftBank.

O que a NXTP observa

Busse também abordou a mudança de foco no ambiente de investimentos, destacando a transição de uma mentalidade de crescimento a qualquer custo para um foco na sustentabilidade do negócio. “Não há fogos de artifício, notícias malucas saindo da maneira como vimos em 2021, porque há muito trabalho interno acontecendo e muita estratégia cuidadosa nas empresas hoje”, disse.

Ele apontou quatro verticais que considera promissoras: nuvem e SaaS, e-commerce e tech enablers, fintech e infraestrutura de fintech, e marketplaces B2B.

A NXTP já investiu em unicórnios como Auth0, TiendaNube (Nuvemshop), Mural, Frete.com (ex-CargoX) e Betterfly. A gestora, que tem escritórios em Buenos Aires, São Paulo e Cidade do México, investe em startups em estágios pre-Seed, Seed e Série A, com valores de US$ 500 mil a US$ 5 milhões.

A gestora já investiu em mais de 130 empresas, das quais 32 já foram vendidas. Ele ressaltou a paciência do capital institucional e a estratégia de longo prazo.

Busse disse que geralmente busca deter mais de 10% nas empresas investidas, preferindo liderar ou co-liderar acordos.

A NXTP vai investir tanto em empresas com abordagem regional quanto em mercados únicos.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups