Bloomberg — Os investimentos bilionários em startups de inteligência artificial tornaram-se quase comuns no Vale do Silício e o montante arrecadado no terceiro trimestre por empresas de IA cresceu mais do que o total de financiamento em todas as outras categorias de tecnologia, atingindo US$ 17,9 bilhões.
De acordo com dados compliados pelo PitchBook para a Bloomberg, o investimento em empresas de IA cresceu 27% globalmente no terceiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Ao mesmo tempo, o aporte global geral para startups caiu 31% na mesma base de comparação, somando US$ 73 bilhões em todo o mundo.
As tendências opostas destacam uma divisão entre as startups de IA e o restante do setor. O aumento das taxas de juros e a queda dos negócios pós-pandemia prejudicaram o financiamento de capital de risco, tornando a IA um dos únicos pontos fortes do mercado do capital de risco.
Em particular, a chamada tecnologia de IA generativa deslumbrou usuários e investidores com sua capacidade de gerar imagens realistas e textos que soam humanos a partir de algumas palavras, e trouxe bilhões em financiamento para as maiores empresas do segmento.
Alguns investidores de capital de risco compararam o boom da IA ao advento da Internet para o consumidor. “Este é o momento da web, o momento do HTML, para a IA generativa”, disse Praveen Akkiraju, da Insight Partners.
Assim como a internet existia há anos antes que as interfaces amigáveis a levassem ao uso generalizado, a IA está crescendo porque programas fáceis de usar, como o ChatGPT da OpenAI, estão ganhando força, explicou.
O entusiasmo ofuscou uma queda maior nos investimentos em tecnologia. Embora empresas como a OpenAI dominem as manchetes, a maioria das categorias, incluindo hardware de tecnologia da informação, serviços de saúde e bens de consumo, caiu em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, de acordo com a PitchBook.
Mesmo a IA não está totalmente imune às pressões sobre as startups. A arrecadação total de fundos para o setor ainda é menor do que era há dois anos, durante o auge do boom tecnológico na pandemia. O sucesso foi impulsionado sobretudo por grandes negócios para algumas empresas de destaque, incluindo a Anthropic e a OpenAI.
A dimensão desse entusiasmo com a IA levou o restante do setor a uma abordagem de observação e espera. Por exemplo, o software empresarial, uma categoria de destaque há apenas alguns anos.
Durante esse período de expansão, os investidores em capital de risco estavam entusiasmados com o software empresarial, em parte devido às ofertas públicas iniciais de grande sucesso de empresas como a UiPath e a Snowflake.
Crescer com IA
Uma startup que se beneficiou do burburinho em 2021 foi a Kong, uma empresa que ajuda a gerenciar as formas como os aplicativos de software se comunicam entre si.
Ela levantou US$ 100 milhões, com uma avaliação de US$ 1,4 bilhão, em um acordo liderado pela Tiger Global Management, com a participação de outras empresas como Goldman Sachs, Index Ventures e CRV.
A Kong está indo bem, com mais dinheiro entrando na empresa do que saindo nos últimos meses, disse o fundador Augusto Marietti. Seu negócio está crescendo com o boom da IA, porque mais IA significa mais infraestrutura de dados, o que impulsiona a demanda por seu produto.
Ainda assim, não há como escapar do fato de que os holofotes se voltaram para as empresas de IA pura.
Na última temporada de lucros, Marietti se cansou de ouvir empresas mencionarem a IA a cada oportunidade. Ele se consolou com a divulgação de resultados da Apple, que se destacou por não mencioná-la - e as ações da Apple dispararam mesmo assim.
A Kong está integrando recursos de IA, disse Marietti, mas isso não a torna uma empresa de IA. Isso também não significa que ela não possa continuar crescendo e se tornar muito lucrativa.
“Não precisamos ter uma crise de identidade”, disse ele. “É só prosseguir.”
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