Globalização está sob ataque. E isso reforça o empreendedorismo, diz CEO da Endeavor

Linda Rottenberg diz em evento em São Paulo que passagem para um mundo multipolar será oportunidade de criação de negócios em novos mercados também para startups brasileiras

Linda Rottenberg, da Endeavor: Estamos passando de um mundo unipolar ou bipolar para um mundo multipolar, e o ambiente do empreendedorismo será fundamental para dar voz a outras partes do mundo
Por Marcos Bonfim
23 de Janeiro, 2025 | 07:24 AM

Bloomberg Linea — O mundo que emerge com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, acompanhado de promessas de imposição de tarifas comerciais e restrições a imigrantes, tem o potencial de colocar em xeque a ideia-guia de um dos maiores poderosos ecossistemas de inovação do mundo, a Endeavor.

Criada no fim dos anos 1990, a plataforma conta com 45 escritórios espalhados pelo mundo, que carregam uma história de aceleração de startups e aumento do número de empreendedores em mercados emergentes.

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Por trás do ecossistema está a americana Linda Rottenberg, chamada de “chica loca” nos primórdios da Endeavor, ao contar sobre a tese de espalhar a palavra ‘empreendedorismo’ por lugares em que o termo sequer constava no dicionário, caso do Brasil.

A operação no país completa 25 anos, tendo recebido o terceiro escritório da organização, em 2004. Participam da Endeavor nomes como Paulo Veras (ex-99), Guilherme Benchimol, da XP, e Sergio Furio, da Creditas, também presidente do conselho administrativo da entidade no país.

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Os mercados mudaram, startups surgem em todos os cantos para além do Vale do Silício, e os “unicórnios” somam mais de mil no mundo, dos quais o Brasil tem pouco mais de 20, de acordo com a consultoria CB Insights.

A expressão, cunhada em 2013 pela venture capitalist Aileen Lee 2013, serve para representar negócios de base tecnológica com valor de mercado igual ou acima de US$ 1 bilhão.

Mas, segundo a fundadora e CEO global da plataforma, é preciso fazer mais.

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“A globalização está sendo atacada, certo? E o capitalismo, em alguns lugares, também está sob ataque. Tudo aquilo que a Endeavor representa, de certa forma, está sendo desafiado”, afirmou Rottenberg.

“Acredito que ter uma rede de confiança feita por, para e com os principais empreendedores — os mais destacados do mundo — é algo que a Endeavor tem uma capacidade única de oferecer”, disse ela em evento nesta quarta-feira (22) em São Paulo, em passagem justamente por ocasião dos 25 anos.

Os planos que a plataforma global tem executado no momento, em um novo ciclo com vistas a 2035, foram pensados levando em conta esse novo cenário.

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“Também acredito que, como alguém que vem dos EUA, estamos prestes a entrar em um período de caos. Sabe de uma coisa? O caos é amigo dos empreendedores. As coisas têm sido estáveis demais nos EUA”, brincou a executiva.

De acordo com a fundadora, empreendedores ao redor do mundo com quem tem conversado estão mais receptivos do que receosos com o governo recém-empossado em seu país.

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Eles acreditam em uma administração pró-geração de negócio, o que poderia funcionar como um contrapeso às promessas de aumento de tarifas nos Estados Unidos a produtos e serviços oriundos de outros mercados.

Em parte, Rottenberg credita essa mudança também às relações mais amplas que os negócios passam a ter e uma menor dependência dos Estados Unidos.

“Há empresas brasileiras que estão olhando não apenas para México, Colômbia e Argentina mas também para Indonésia, Nigéria e Dubai como mercados onde podem vender, competir e adaptar seus modelos de negócios. Isso é algo que me empolga muito”, afirmou.

“Estamos passando de um mundo unipolar ou bipolar para um mundo multipolar, e o ambiente do empreendedorismo será fundamental para dar voz a outras partes do mundo.”

Novas métricas para o sucesso

Levar o empreendedorismo para uma nova e mais abrangente etapa passa, no novo planejamento do ecossistema, por chegar a novos escritórios.

Dos atuais 45 países, a plataforma pretende saltar para cem no intervalo de dez anos. A iniciativa será acompanhada por hubs de inovação em cidades-chave, fomentando negócios que saem para explorar outros mercados. Até 2026, a Endeavor pretende estabelecer seis, distribuídos por Singapura, Dubai, Londres, Miami, Nova York e São Francisco.

“Sempre dizemos aos nossos empreendedores: ‘sonhem mais alto’. Então, estamos aplicando o que pregamos”, disse a CEO.

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Entre as ambições da Endeavor estão objetivos quantitativos como ampliar o número de unicórnios na rede - 80 atualmente, sendo 60 investidos a partir da Catalyst. O braço de venture capital tem sob gestão US$ 540 milhões, valor distribuído em 4 fundos, com investimentos em mais de 330 startups. Somadas, essas companhias são avaliadas em R$ 60 bilhões.

E ainda buscar na plataforma uma diversidade de “decacórnios”, empresas de tecnologia com mais de US$ 10 bilhões em valuation. “Atualmente, existem cerca de 50 decacórnios no mundo, mas acreditamos que, até 2035, haverá 50 apenas entre os empreendedores da Endeavor.”

Com todas as mudanças de cenários e as novas perspectivas que emergem no dia a dia, o que será definidor para o futuro do modelo da Endeavor é o quanto o ecossistema poderá gerar para além de big numbers, afirmou a americana.

“Muitas pessoas estão obcecadas com o valor de mercado e a criação de bilionários. Achamos que é hora de criar uma nova linguagem para o sucesso, baseada no impacto multiplicador. Deveria se tratar de quanto você gera de retorno, quanto você investe em outros, e quantos dos seus colaboradores ou parceiros também prosperaram.”

Segundo Rottenberg, a disputa deveria ser por quem tem a maior “máfia”, termo que representa a quantidade de ex-funcionários de uma startup que saíram para empreender em negócios próprios. “Minha bolha é maior que a sua. Sou um multiplicador maior”, exemplificou sobre as conversas que gostaria de ouvir mais.

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Marcos Bonfim

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark