Fintech de energia solar, Solfácil levanta R$ 1 bi em FIDC para sustentar expansão

Recursos serão utilizados para financiar a instalação de kits solares, após um ano em que a originação dobrou, contou o CFO e cofundador Guillaume Tiret à Bloomberg Línea

Guillaume Tiret, CFO, e Fabio Carrara, CEO da Solfácil: "nós ainda temos décadas de investimentos só no Brasil e só isso já tornaria a Solfácil uma empresa gigantesca e super valiosa"
Por Marcos Bonfim
19 de Fevereiro, 2025 | 08:00 AM

Bloomberg Línea — A plataforma de energia solar Solfácil captou R$ 1 bilhão, em sua maior emissão de FIDC (Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios) já realizada. Os recursos serão utilizados para financiar as instalações de kits solares de clientes.

A startup funciona como uma fintech para o mercado de energia solar e financia as vendas dos mais de 8.000 integradores ativos na plataforma.

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Desde 2021, a Solfácil também vende os itens necessários para os projetos solares, como placas, inversores e cabos. Cada divisão representa 50% do negócio, que faturou mais de R$ 1 bilhão no ano passado.

“No ano passado, dobramos a nossa originação e chegamos a R$ 1,5 bilhão em financiamentos. Dobramos também a venda de kits”, afirmou o francês Guillaume Tiret, CFO e cofundador da Solfácil. “Neste ano, nós não devemos dobrar, mas teremos ainda uma taxa de crescimento alta”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.

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Com a nova captação, a startup soma R$ 5 bilhões levantados no mercado de capitais, entre FIDCs e CRIs (Certificado de Recebíveis Imobiliários).

O “braço” de fintech está estruturado em um modelo B2B2C, em que a Solfácil libera crédito para os integradores - ou vendedores - e os valores são usados para financiar os projetos de energia solar aos consumidores finais.

Cerca de 90% dos projetos são instalados em imóveis residenciais, e o restante, em pequenos negócios, como padarias e mercearias. O custo médio de cada instalação está em torno R$ 22.000, uma queda de cerca de 27% ante o valor que girava na casa de R$ 30.000 um ano atrás.

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O ritmo de produção de equipamentos chineses, o principal exportador global no setor, tem contribuído para a diminuição dos preços dos projetos de energia solar no mundo inteiro.

“A queda do preço do equipamento mais que compensou o aumento da Selic. Mesmo com a taxa de juros altíssima, ainda faz todo o sentido as pessoas financiarem a compra de um ativo solar para as suas casas”, disse Tiret.

“O payback ainda é muito bom, na faixa de quatro a cinco anos. No Norte e no Nordeste, fica entre três e quatro anos.”

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A Solfácil acumula mais de R$ 4 bilhões em crédito concedido, distribuído por mais de 145 mil sistemas solares. Os parcelamentos podem ser feitos em até dez anos.

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De acordo com o CFO, o objetivo inicial da Solfácil era captar R$ 500 milhões. Com a alta demanda de bancos brasileiros, os executivos reviram a decisão e dobraram o valor.

A startup opera no mercado de geração distribuída de energia, mercado que cresce ano a ano. Segundo os dados mais recentes da Aneel, agência reguladora do setor no país, o Brasil conta com 3,28 milhões de sistemas conectados à rede de distribuição de energia, com potência instalada próxima de 36,90 gigawatts (GW). Os projetos da Solfácil têm uma potência instalada de 1,2 GW.

A estrutura do negócio

No mercado desde 2018, a Solfácil atua apenas no Brasil e não tem planos de expandir para outros países. “O mercado brasileiro é, ao mesmo tempo, muito grande e apresenta baixíssima capilaridade. Nós ainda temos décadas de investimentos no Brasil e só isso já tornaria a Solfácil uma empresa gigantesca e muito valiosa”, afirmou o executivo.

Além de Tiret, francês que chegou ao Brasil após passagens em empresas como Akuo Energy e a área de energia do IFC, braço de investimentos do Banco Mundial, a startup tem como fundadores os brasileiros Fabio Carrara, CEO, e Guilherme Borgo, VP de E-commerce e de IoT.

O quarto sócio é Brainer Martins, COO, que entrou para a operação depois que a Solfácil comprou a Solar Inova em 2023 - ele foi o fundador da empresa.

Ao longo dos anos, a Solfácil recebeu mais de R$ 800 milhões em investimento de fundos como SoftBank, VEF e Valor Capital, além do Banco Mundial por meio do IFC.

A última captação foi uma rodada Série C de US$ 100 milhões em maio de 2022, o equivalente a R$ 500 milhões à época, que contou com uma extensão de US$ 30 milhões em setembro do mesmo ano.

De acordo com o empreendedor, a operação chegou ao breakeven no ano passado e não pensa em levantar novas rodadas via equity.

“Se quisermos acelerar uma frente, por exemplo, com aquisição ou investimento em nova tecnologia, podemos tentar acessar via equity. Mas é mais uma opção hoje do que uma necessidade.”

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Marcos Bonfim

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark