Esta startup quebrou. O seu fundador conta o que deu errado

Nico Barawid, CEO e co-fundador da Casai, startup que atuava com locações de curta duração, diz que deveria ter pedido apoio mais cedo e gastado menos

Nico Barawid, CEO e co-fundador da empresa Casai: 'gostaria de ter investido mais nas pessoas da nossa equipe'
Por Bloomberg Línea
02 de Agosto, 2023 | 08:32 PM

Bloomberg Línea — A startup mexicana Casai, que teve operação no Brasil, oficialmente finalizou suas atividades depois de quatro anos de existência.

A empresa de aluguel de imóveis de curta duração - short stay - vendeu os ativos remanescentes do portfólio que ainda existiam no México. Os apartamentos que pertenciam à Casai estão sob gestão de Blueground, Charlie, Wynwood House, Capitalia e Oasis Collections.

Para a startup resultante da fusão da mexicana Casai com a brasileira Nomah, duas das maiores do segmento, nem o dinheiro de celebridades como Daddy Yankee nem o capital da Andreessen Horowitz (a16z), gigante de venture capital do Vale do Silício, salvaram as operações. No Brasil, a startup encerrou as atividades do fim de janeiro.

Para Nico Barawid, CEO e co-fundador da empresa, quando a empresa começou a operar, o modelo de aluguel de curto prazo na América Latina “não existia”. “Agora o ecossistema está prosperando, e estou orgulhoso do legado que nossa equipe deixou”, disse em publicação no LinkedIn.

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Houve também espaço para autocrítica e para reflexão do que ele considera que poderia ter feito de diferente para que, eventualmente, a Casai tivesse um desfecho diferente.

“Eu gostaria de ter agido como se (1) tivéssemos levantado US$ 10 milhões a menos e (2) nunca mais estivéssemos recebendo outro centavo de capital do investidor. Se eu realmente acreditasse que nunca mais aumentaríamos [o capital], a torneira de contratação teria fechado muito antes e vários negócios teriam sido feitos”, escreveu no LinkedIn.

Segundo Barawid, no auge da empresa, havia reservas equivalentes a quase US$ 30 milhões em receita anualizada. “Nossa equipe projetou e operou cerca de 50 edifícios com 1.600 unidades e contratos assinados com mais de 2.000 pessoas espalhadas pelo México e pelo Brasil.”

De acordo com o empreendedor, no nível operacional, a empresa tinha cerca de 25% de margens e estava no caminho para que toda a empresa fosse lucrativa em janeiro ou fevereiro deste ano.

Segundo Barawid, a empresa operava sob a suposição de que precisaria apenas de uma última rodada de financiamento que levaria à lucratividade e quer isso não seria impossível porque “todos os sinais financeiros estavam apontando nessa direção”. Mas essas expectativas nunca se concretizaram.

Mas a redução da liquidez no mercado de venture capital (VC) em razão de juros mais altos no mundo, em especial nos Estados Unidos, fez com que o modelo de negócio da Casai não fosse o mais favorecido por investidores de capital de risco para produzir retornos, de acordo com o executivo.

Essa perda de dinamismo já estava evidente, de certa forma, um ano atrás.

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Em agosto de 2022, a Casai anunciou a fusão com a Nomah, empresa do mesmo setor que pertencia ao unicórnio brasileiro Loft. Recebeu capital da Andreessen Horowitz, da Monashees (que seguiu para manter a participação na Casai) e da Loft como consequência da transferência de ações.

A Bloomberg Línea antecipou as conversas dessa transação em julho de 2022, quando a Casai demitiu funcionários no México e no Brasil.

Casai e Nomah não foram as únicas proptechs - nome dado às startups que atuam no mercado imobiliário - que se uniram no período de juros mais altos do mercado. Em dezembro, a gestora condominial Lello e a plataforma para moradia Housi selaram uma parceria para compartilhar seus serviços.

Veja abaixo os aprendizados de Barawid compartilhados no LinkedIn:

  • Aprendizado 1: “Eu gostaria de ter investido em uma melhor infraestrutura financeira e em ferramentas desde o início [...] O nosso negócio era complexo pela nossa forte componente operacional, com as frequentes e pequenas dívidas que isso implica. E nossos recebíveis foram distribuídos em vários canais com seus próprios cronogramas de pagamento idiossincráticos. Durante alguns anos, tentamos construir módulos de ERP internos e contratamos consultores para fazer isso por nós. Mas quem já tentou implementar ERPs sabe que a adoção é fundamental. Como levamos muito tempo para criar soluções, nossa equipe já tinha seus próprios fluxos de trabalho de despesas. Foi um desafio de Sísifo consolidar dados e mudar comportamentos.”
  • Aprendizado 2: “Eu gostaria de ter investido mais nas pessoas da nossa equipe. Comecei a Casai me importando muito com cultura e feedback, mas meu calcanhar de Aquiles era que eu via a função de RH como uma chatice corporativa desnecessária. Então, acabamos tendo que recuperar o atraso nos principais motivadores de nossa equipe: clareza e nivelamento de carreira, estruturas de bônus, benefícios, insights de análise de pessoas, marca do empregador etc. com poucos recursos. E acontece que “apenas improvise, tenha um bom desempenho e eu cuidarei de você” não é realmente uma maneira produtiva de gerenciar uma organização.”
  • Aprendizado 3: “Ao longo de 2021, as sirenes do capital abundante e do crescimento gratuito cantaram melodiosamente; como Odisseu, gostaria de ter tapado nossos ouvidos com cera de abelha. Eu gostaria de ter agido como se (1) tivéssemos levantado US$ 10 milhões a menos e (2) nunca mais estivéssemos recebendo outro centavo do capital do investidor. Se eu realmente acreditasse que nunca mais aumentaríamos, a torneira de contratação teria fechado muito antes e vários negócios teriam sido feitos. Brinksmanship [ir até o limite do risco] na terra das startups é uma estratégia que só prejudica os funcionários a longo prazo. Como fundador com product-market fit, foi fácil para mim justificar investimentos que faziam sentido assumindo que a Casai existiria em dois anos. Um empreendedor bootstrapped [com poucos recursos] não tem esse luxo e toma decisões diferentes. Bem, a Casai não existe e esses investimentos não importam.”
  • Aprendizado 4: Gostaria de ter pedido ajuda antes. A falácia do CEO (e honestamente arrogância) é a crença inabalável de que “ninguém mais pode entender / ter empatia”. Claro que minha equipe poderia. Fui pior gestor, estrategista, arrecadador, conselheiro, marido e :cão_guia: pai porque, na verdade, achava que precisava fazer tudo sozinho. Quando comecei a me abrir mais com o “meu” co-fundador, “minha” equipe, “meu” conselho e “meu” Gerry, fiquei surpreso com o quanto todos se sentiam responsáveis pelos “nossos” desafios [...] A Casai poderia ter tido um resultado diferente se eu tivesse pedido apoio (para problemas da empresa e para minha saúde mental) cada vez mais cedo.”

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