Bloomberg Línea — O aplicativo de mobilidade inDrive começa a investir em uma nova vertical para expandir a atuação no país, uma das suas maiores operações no mundo. A startup de origem russa inicia a oferta de venda de passagens online de ônibus, com a cobertura de mais de 5.000 rotas neste momento.
Já disponível em outros dos 47 países em que o inDrive opera, a entrada da startup no setor ecoa o momento de expansão do modal terrestre no Brasil.
As viagens de ônibus deram um salto nos últimos anos como uma opção mais acessível do que as compras de bilhetes aéreos, cujos preços experimentam elevações acentuadas desde a pandemia.
O serviço entra em operação com a oferta de passagens de mais de 200 operadoras, como Águia Branca, Penha, Gontijo, Itapemirim e Eucatur.
No setor, a inDrive irá competir com players já estabelecidos como a Buser, a ClickBus e a Quero Passagem. Para entrar na disputa, a startup disse que aposta em uma tarifa de serviço de conveniência que promete ficar em até 3%.
“Nós entramos nessa jornada com o objetivo de baratear e transformar essa experiência em algo melhor e que consideramos mais justo, com taxas mais baixas”, disse Stefano Mazzaferro, country manager da inDrive Brasil.
Segundo ele, em geral - mas sem citar nomes -, há players do mercado que operam com taxas mais elevadas, que ele apontou em torno de 15%.
Em operação desde 2013, a inDrive nasceu na cidade Yakutsk, localizada na Sibéria, na Rússia. Em um período de inverno rigoroso, os taxistas aumentaram os preços das tarifas. Os moradores começaram a pedir carona ou negociar preços justos entre si. O nome da startup “inDrive” é uma abreviação para “Independent Driver”.
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O momento da inDrive no país
Com o seu modelo de negociação de tarifas entre motoristas e usuários, a operação do negócio avançou e está em 48 países, distribuída por 888 cidades. No Brasil, a startup desembarcou há seis anos e oferece serviços em 145 cidades.
O aplicativo da inDrive foi baixado por mais de 40 milhões de usuários e soma uma base de 15 milhões de usuários. Além do transporte de pessoas por carros e motos, oferece o serviço de entregas, que representa cerca de 10% da receita.
Para oferecer um modelo mais competitivo nas vendas de passagens rodoviárias, a startup afirma que o modelo enxuto do negócio, com cerca de 250 pessoas no país, e centralizado, com o desenvolvimento tecnológico e de produtos feito no exterior, contribui para entregar um serviço mais em conta.
“Já temos uma grande base de usuários com uma alta parcela interessada em fazer viagens intermunicipais acessíveis, portanto, podemos usar instrumentos internos para promover o novo serviço”, afirmou Mazzaferro.
A ideia inicial da startup é fomentar a utilização do serviço pelos usuários da base antes de avançar em “mar aberto”. Em testes ao longo de dois meses, a compra de passagens no app trouxe números positivos, segundo o CEO.
“Nós conseguimos comprovar que usuários que utilizam mais de uma vertical têm um valor agregado infinitamente maior para nós. Se usa carro e moto constantemente, gasta o dobro do valor. Se ela usa carro, moto, entrega e ônibus, ainda mais.”
“Primeiro, queremos reforçar o nosso próprio ecossistema, aumentando o que chamamos de usuários multicategoria”, explicou o country manager.
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Mazzaferro entrou para a companhia há menos de um ano, após passagens por Ambev, 99 e Kovi, startup de locação de automóveis.
No comando do negócio, tem trabalhado para dar mais visibilidade à startup, que concorre com duas gigantes de mobilidade, a Uber e a 99. O patrocínio ao Flamengo, anunciado em agosto passado, entra como um dos exemplos.
De acordo com o executivo, o inDrive fechou o ano com crescimento de 12% em receita, com expansão da operação em todas as verticais. As corridas de moto tiveram alta de quase 30%.
“As praças mais fortes são o Norte e o Nordeste. Tradicionalmente, são mercados que têm uma receptividade muito grande, são bastante sensíveis a preço e têm essa cultura de transporte por moto. O Rio de Janeiro também é forte.”
A força da startup está nas pequenas e nas médias cidades, segundo o country manager, o que gera uma receita pulverizada para a operação.
“Obviamente, São Paulo é uma das nossas grandes apostas e temos crescido bastante. Vemos um crescimento muito concentrado no centro, na zona leste e um pouco da zona norte”, disse.
“O posicionamento é relativamente simples. A ideia é conseguir aos poucos dominar uma região e expandir essa área.”
A operação brasileira já “para de pé” e é “bastante lucrativa”, de acordo Mazzaferro.
Globalmente, a inDrive fechou o ano de 2024 com Ebitda positivo (métrica de geração de caixa operacional) pela primeira vez desde que recebeu um aporte Série C em 2020 de US$ 70 milhões, com extensão de US$ 150 milhões em 2021, para acelerar o crescimento.
O americano General Catalyst é o principal fundo por trás da operação.
“Esse é um marco importante que estabelece a base para transformar a inDrive em uma geradora de lucro nos próximos um a dois anos”, escreveu o CEO e fundador Arsen TomSky, em postagem recente no LinkedIn.
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