D4Sign, startup que cresceu sem investidor, é comprada por italiana por R$ 180 mi

Companhia italiana Zucchetti, que atua com softwares de gestão, varejo e negócios e faturou 1,9 bilhão de euros em 2023, avança no mercado brasileiro com negócio de assinatura eletrônica e digital

Avenida Paulista em São Paulo, sede da D4Sign: aquisição por empresa italiana (Patricia Monteiro/Bloomberg)
Por Marcos Bonfim
03 de Outubro, 2024 | 10:12 AM

Bloomberg Línea — Nos últimos anos, startups brasileiras entraram na rota de fundos globais de venture capital com aportes milionários para financiar o seu crescimento. Para a D4Sign, uma empresa de assinatura eletrônica e digital do Brasil, o caminho foi diferente.

Criada com investimento proprietário de R$ 20.000 de três sócios-fundadores em 2015, a empresa faturou R$ 35 milhões no ano passado e acaba de ser adquirida pelo valor de R$ 180 milhões.

A compradora é a companhia italiana de capital privado Zucchetti, uma casa de softwares de gestão, varejo e negócios que faturou 1,9 bilhão de euros em 2023.

“Eu já tinha um histórico de empreendedorismo antes da D4Sign. Hoje, nós somos quatro sócios, mas começamos em três e sabíamos como funcionava uma captação, com rodadas de investimento”, afirmou Rafael Figueiredo, CEO e um dos fundadores da startup, à Bloomberg Línea. “Nós preferimos vender nossos serviços, gerar caixa e investir em marketing, sempre com o pé no chão, devagarinho.”

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Antes da D4Sign, o empreendedor havia criado duas startups: FatCar, para venda de carros, e VideoFan, para coleta de depoimentos de clientes para varejistas. A primeira foi vendida e a segunda não vingou.

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Quando se formou em direito e ingressou na Alesp, a assembleia legislativa de São Paulo, como concursado, Figueiredo percebeu um novo mercado a explorar. Rodrigo Figueiredo (diretor comercial) e Nahim Silva (CFO) formaram o trio por trás da startup, que alcançou o breakeven após um ano de operação. O quarto sócio, Bruno Kawakami (CTO), entrou em 2020.

Os números que atraíram a companhia italiana

O negócio tem hoje mais 35.000 clientes ativos, uma base formada por pequenos e médios negócios, em sua maioria. O tíquete médio é de R$ 200. Entre as grandes empresas estão Cyrela, Inter, Stone, Mercado Livre, Volkswagen e Huawei.

A startup oferece como carro-chefe uma ferramenta para a assinatura digital de contratos e documentos, o primeiro produto no portfólio. Há um serviço de automação, com modelos de template e envios de links. A última novidade, com IA (Inteligência Artificial) generativa, é uma ferramenta para gestão e organização de arquivos.

A D4Sign concorre com empresas como a americana DocuSign, listada nas Nasdaq, e a CertiSign.

Rafael Figueiredo, da D4Sign, e Alessio Mainardi, da Zucchetti: o foco é crescer tanto no mercado doméstico quanto internacional

“Entre os nossos diferenciais, primeiro está o preço, e nós temos tecnologia voltada para o mercado brasileiro, como CPF, selfie e Pix, que é local”, disse Figueiredo.

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No plano anual do pacote mais avançado da D4Sign, o valor é de R$ 62,91 por mês, sem limite de usuários. Na DocuSign, para efeito de comparação, o custo é de R$ 170 por mês e por credencial. A comparação não considera a versão enterprise, que é customizável a cada cliente.

O modelo de negócio tem gerado um crescimento anual na faixa de 40%. A exceção foi o período da pandemia. “Em 2020, nós crescemos 400%; em 2021, em torno de 250%; e, depois, naturalmente, o ritmo foi normalizando”, disse o CEO.

Mais importante, a expansão tem sido acompanhada por uma margem Ebitda na casa dos 40%. “Eles estão acima da média”, afirmou Alessio Mainardi, CEO da Zucchetti e o executivo responsável por fechar a transação. “O que nós mais vemos são startups que queimam caixa. E aqui estamos falando de uma operação que, após pagar todas as despesas, ainda tem sobra de 50%.”

A Zuchetti já era cliente da D4Sign, mas a conversa teve início a partir da Europa, quando consultores de M&A levaram à sede da companhia a informação de que a startup estava à venda.

O sonho grande

A transação levou cerca de dez meses para ser concluída e é a maior entre as oito aquisições já feitas pela Zucchetti no Brasil. Segundo os termos do acordo, os sócios vão se mantem no negócio pelos próximos três anos, no mínimo, período necessário para o earn-out.

A empresa italiana chegou ao Brasil em 2011 e tem adotado uma estratégia que combina crescimento orgânico com inorgânico.

No “carrinho de compras” entraram nos últimos anos as empresas Smallsoft e a Gdoor, ambas com ferramentas de gestão para o varejo, além da Compufour, com sistemas de gestão para micro e pequenas empresas.

Em 2024, a projeção é que a multinaciona dobrará de tamanho, ao contabilizar a chegada da D4Sign e o fechamento de uma segunda aquisição, nos trâmites finais e guardada em segredo.

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Os próximos meses serão de definição das estratégias.

A Zucchetti é dona de um portfólio de softwares de gestão, varejo e negócios, comercializados a partir de mais de 3.000 revendedores, uma força de vendas que passará a incorporar as ofertas da D4Sign.

A decisão dos sócios de vender a startup ao grupo familiar italiano está atrelada a um outro desejo visto como um “legado”: uma expansão internacional. O projeto, anunciado no ano passado com início pelo México, não andou como esperado.

“Nós percebemos que não é tão simples. O Alessio traduziu bem, não é simplesmente colocar o idioma no site e pronto. Existem legislações e toda uma questão cultural em outros países”, disse Figueiredo.

Agora, dentro de um grupo presente em 12 países, as perspectivas são outras. Por ora, a D4Sign atende alguns poucos clientes em países como Argentina, Paraguai, Colômbia, Chile e Portugal.

“O fato de a D4Sign fazer parte do grupo Zuchetti vai trazer projetos internacionais. Ponto. Podemos fazer isso a partir de um planejamento estratégico ou de uma oportunidade de negócio, como acontece hoje quando clientes no Brasil levam a empresa a outros países”, disse Mainardi.

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