Braskem paralisa Oxygea e fundo de US$ 150 mi deve ser descontinuado, dizem fontes

Corporate Venture Capital (CVC) foi criado pela petroquímica em 2022 com um cheque de US$ 150 milhões para investir em startups; empresa disse à Bloomberg Línea que ‘reavalia ativos’ sob novo CEO

A Braskem disse que está em fase de reavaliação de seus ativos e programas - sob a liderança do novo CEO (Foto: Luke Sharrett/Bloomberg)
Por Marcos Bonfim
27 de Janeiro, 2025 | 05:15 AM

Bloomberg Línea — Um dos fundos mais ativos de Corporate Venture Capital (CVC) do país, a Oxygea está com a operação paralisada desde o fim de 2024 e deve ser descontinuado pela Braskem, de acordo com fontes ouvidas pela Bloomberg Línea.

O veículo de investimento foi criado pela companhia petroquímica em 2022 com um cheque de US$ 150 milhões para investir em startups com produtos e soluções relacionados a temas como neutralidade de carbono, economia circular, energia renovável, novos materiais e smart factory.

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No curto período de vida, a gestora de VC construiu uma reputação no mercado, a partir de uma postura mais ativa para impulsionar conversas em torno do universo de Corporate Venture Capital no país.

A intenção da companhia petroquímica líder de mercado ao criar o fundo era atrair ideias de produtos e serviços inovadores no Brasil e no mundo em sua área de atuação. E, com isso, abrir novas avenidas de crescimento em produtos renováveis e rumo à transição energética.

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Oficialmente, a Oxygea opera com independência, com um time de cerca de 15 pessoas alocado no Cubo, hub de inovação em São Paulo, responsável pela gestão de portfólio e pelos programas, como o Oxygea Labs, de aceleração com investimentos. As decisões finais de escolha, porém, das startups selecionadas e beneficiadas sempre foram alinhadas com a companhia-mãe.

O momento da Braskem

A paralisação do CVC ocorre em concomitância com a nova fase da petroquímica, que tem o grupo Novonor (ex-Odebrecht) como principal acionista, junto com a Petrobras como acionista relevante.

A companhia enfrenta desafios que vão de um mercado com elevada competição internacional às incertezas dos passivos da crise provocada pelo afundamento de bairros em Maceió, capital de Alagoas.

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No processo de reestruturação, a Braskem anunciou a chegada de Roberto Prisco Paraíso Ramos como CEO no fim de 2024. O executivo deve focar os investimentos no core business da companhia, principalmente no aumento da capacidade produtiva, segundo analistas e fontes do mercado.

A mudança de comando foi recebida no mercado como uma estratégia para acelerar a venda da própria companhia, processo que se arrasta ao longo dos últimos anos. No grupo Novonor, Ramos já presidiu a Ocyan (ex-Odebrecht Óleo & Gás), adquirida por investidores americanos em 2023, além da própria Braskem (BRKM5).

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Anunciado em novembro, o novo CEO assumiu em 1º de dezembro e logo nos primeiros dias comunicou a demissão de oito diretores da companhia. Os cortes vieram acompanhados de novos agrupamentos de áreas, em decisão que diminuiu o quadro executivo e, portanto, representa redução de gastos.

Braskem diz que reavalia seus ativos

Da lista de desligados estavam Marcelo Arantes (VP global de pessoas, marketing, comunicação corporativa e relação com a imprensa), Edison Terra, vice-presidente de olefinas e poliolefinas na América do Sul, e Pedro Freiras, diretor financeiro e de Relações com Investidores. Os três participavam do comitê de aprovação das startups selecionadas pela Oxygea.

De acordo com fontes ouvidas pela Bloomberg Línea, o clima no fundo é de apreensão tanto do time de operações quanto de startups que participaram de programas de casa e esperavam obter investimentos. Fundadores de startups no portfólio da gestora também estão em compasso de espera.

Procurada pela Bloomberg Línea, a Oxygea não se manifestou. A Braskem enviou uma nota em que informou que atualmente realiza um processo de reavaliação de seus ativos e investimentos, tanto operacionais como estratégicos, com foco na melhora da eficiência e na otimização da alocação de capital.

“Os investimentos no projeto Oxygea inserem-se nesse contexto e devem ser avaliados junto ao ecossistema de inovação”, afirmou a Braskem. “Não há, entretanto, até o momento, qualquer decisão final nesse sentido”. Uma decisão deve ocorrer em reunião do conselho de administração prevista para a próxima sexta (31).

Os investimentos da Oxygea

Criada como um Corporate Venture Capital e um Corporate Venture Building (CVB), a Oxygea investiu cerca de US$ 10 milhões dos US$ 150 milhões anunciados inicialmente. Do total, US$ 100 milhões seriam destinados a negócios em estágio mais avançado, no CVC, e US$ 50 milhões ao CVB, para lançar novas startups.

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No Corporate Venture in Brasil Awards, premiação organizada pela Apex, o fundo foi reconhecido como a maior captação de um CVC em 2023, ano em que operação começou de fato.

Os maiores investimentos foram em duas startups americanas, a Circular.co, negócio de reciclagem de plásticos que funciona como um marketplace para conectar fornecedores a grandes fabricantes e varejistas, e a AssetWatch, que usa Inteligência Artificial para oferecer serviços de manutenção preditiva.

Os investimentos em startups brasileiras foram feitos a partir de programas internos. O Oxygea Labs, de aceleração e investimentos, aportou na LogShare (logística), na Growpack (biomateriais para plásticos) e na Embeddo (controle de processos) em sua primeira edição em 2023.

Na última, finalizada em dezembro passado, as startups ainda estão à espera de uma posição do fundo.

As outras três investidas saíram do CVB, com a criação da Zaya.eco, greentech focada em calcular impactos ambientais para empresas, Pacey, de negociação inteligente de fretes, e a BALQ, plataforma SaaS que tem o apelo de gerar ganhos de produtividade de até 40% para a indústria.

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Marcos Bonfim

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark