André Penha, do QuintoAndar, tem nova missão: liderar uma startup de energia sem fio

Em entrevista à Bloomberg Línea, cofundador e agora ex-CTO da startup para o mercado imobiliário conta os planos de nova fase como CEO da IBBX, que quer levar a eletricidade wireless para milhões de casas

André Penha, co-fundador e ex-CTO do QuintoAndar, agora no conselho da startup e sócio e CEO da IBBX
19 de Setembro, 2024 | 06:20 AM

Bloomberg Línea — Nos últimos anos, André Penha morou em destinos tão distantes entre si como Lisboa e Cidade do México. No primeiro caso, montou e liderou um centro de tecnologia que buscou atrair talentos globais; no segundo, comandou a operação na segunda maior economia da América Latina. Em ambos, esteve pelo QuintoAndar, uma das startups mais valiosas e de maior impacto da região, no papel também de cofundador e CTO (Chief Technology Officer).

Penha tem agora um novo destino e uma nova missão. E uma nova casa.

O engenheiro da computação natural de Uberlândia, um dos empreendedores mais bem-sucedidos do país, passou a morar em São Paulo para comandar a partir de 1° de outubro, como CEO, a IBBX, uma startup que desenvolveu uma tecnologia de transmissão de energia sem fio para sensores a distâncias maiores, com patentes registradas no Brasil, nos Estados Unidos e na União Europeia.

“Estou muito animado. Foi um convite irrecusável quando já havia decidido sair do dia-a-dia do QuintoAndar, depois de uma sucessão muito bem planejada [veja mais abaixo], para comandar o que tenho convicção que é a principal empresa de eletricidade sem fio do mundo”, disse Penha em entrevista à Bloomberg Línea.

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A IBBX, cofundada e comandada por Luis Fernando Destro, hoje fornece a tecnologia citada para grandes clientes industriais de atuação global como Embraer, Unilever e Saint-Gobain e conta com uma carteira de pedidos (backlog) de mais de R$ 200 milhões para os próximos meses e anos.

A empresa vende sensores para automação e manutenção preditiva de máquinas com uso de IoT (Internet das Coisas) e IA (Inteligência Artificial) que são capazes de operar com a energia elétrica transmitida sem fio.

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“A IBBX desenvolveu uma maneira de extrair com eficiência maior a energia de ondas eletromagnéticas - o que em si não é novidade no mercado. Os carregadores sem fio de celulares são um exemplo. Mas há muita ineficiência e o funcionamento só acontece em distâncias muito curtas”, explicou.

Atualmente com um único produto no segmento B2B, que proporciona ganhos de eficiência na operação de máquinas, a IBBX planeja desenvolver a tecnologia para que possa ser aplicada também em produtos eletrônicos para o consumidor final, segundo ele, com potencial de impactar milhões de pessoas.

“A tecnologia pode ir muito além de sensores para a indústria. Ela pode permitir que uma pessoa, assim que entrar em um carro, consiga carregar o seu celular com ele no bolso da calça. Ou assim que estiver em uma sala, desde que todas as pontas estejam habilitadas com essa tecnologia”, disse.

“O que me entusiasma no negócio é o poder de transformação na vida das pessoas, eliminando todos os fios que elas têm de seus aparelhos ou a dependência de tomadas. E reduzindo o tamanho de baterias, o que acaba tendo também um impacto ambiental.”

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Segundo ele, parte da energia elétrica transmitida sem fio já está no ar, com semelhança, por exemplo, com ondas usadas para a transmissão de rádio e TV. No caso da IBBX, elétrons que se movimentam em antenas que ela desenvolveu são usados para gerar eletricidade em uma potência suficiente para carregar um celular, acender lâmpadas ou fazer funcionar câmeras de segurança, entre outros exemplos.

Um dos desafios é ampliar a capacidade de geração de energia para alguns watts de potência.

“Minha inspiração é a Qualcomm, que tem a patente do 3G, do 4G, do 5G... a empresa desenvolveu um processador que conversa, por exemplo, com o 5G de todas as fabricantes. E que está presente em todos os devices. Queremos que o produto com a nossa tecnologia converse com qualquer eletrônico em países com diferentes regulações”, afirmou o futuro CEO da IBBX.

O sonho grande de Penha é que a eletricidade sem fio - com eficiência - possa servir de base para o desenvolvimento de outras soluções em um universo mais amplo, a exemplo do advento do telégrafo sem fio há mais de um século, que foi a base para o nascimento do rádio e da televisão.

Com seus clientes puramente industriais, a companhia já está em fase de crescimento acelerado: o volume de receitas em agosto foi equivalente a 14 vezes ao do mesmo mês em 2023 - os valores não são divulgados. E tecnologia é altamente escalável - a empresa hoje conta com cerca de 70 profissionais.

A IBBX realizou uma rodada Série A em meados de 2022 e atraiu fundos como a Indicator Capital. Segundo o próximo CEO, ainda tem dinheiro em caixa e só não atingiu o breakeven porque os recursos têm sido direcionados para o desenvolvimento de tecnologia, o que faz mais sentido no estágio atual. A margem de contribuição é “considerável”, o que indica a viabilidade comercial do produto.

“A margem do produto é suficiente para que a empresa consiga evoluir a engenharia. Mais para frente, vamos discutir se faz sentido uma Série B para acelerar esse desenvolvimento”, afirmou.

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Penha foi o primeiro investidor anjo da IBBX em 2019, quando foi apresentado à startup por meio de amigos, ainda na fase de protótipo, meses após a sua fundação. Ao receber o convite de Destro para assumir como CEO, ele negociou também o aumento de sua participação na companhia.

Sucessão no QuintoAndar

A nova fase da carreira de Penha acontece depois de um capítulo de 12 anos à frente dos negócios do QuintoAndar, ao lado do também cofundador e ainda CEO Gabriel Braga.

“30 de junho foi o meu último dia no C-Level do QuintoAndar, depois de uma sucessão carinhosamente planejada por anos por mim e pelo Gabriel. A empresa está bem encaminhada e com boas notícias que virão em breve e eu também pude me dedicar mais à minha família”, contou Penha, que segue como sócio e membro do conselho de administração.

As áreas que ele liderou por muitos anos - a de produto e a de tecnologia - são agora comandadas respectivamente por Larissa Fontaine, ex-VP do Google que esteve à frente de desenvolvimento e estratégia para o YouTube, e Paulo Golgher, ex-diretor sênior de engenharia para Android e Google Play.

Na verdade, ambos na prática já comandavam as áreas desde 2022, o que permitiu a Penha, por exemplo, ter se mudado para executar in loco a importante estratégia de expansão no México no início de 2023.

Uma das startups mais valiosas da América Latina, com valuation de US$ 5,1 bilhões em sua última rodada divulgada em agosto de 2021, o QuintoAndar transformou o mercado de aluguel na década passada com uma solução financeira que dispensa a necessidade de fiador, um dos principais entraves até então.

Hoje a startup conta mais de R$ 150 bilhões em ativos sob gestão de proprietários de imóveis e conta com mais de 3.500 colaboradores, segundo dados em seu site.

Penha, por sua vez, está no momento em período sabático de três meses, que acaba justamente no próximo dia 30. “Eu tentei tirar um sabático mais longo, mas a cabeça não dá conta de parar. Esse período afastado de qualquer atividade poderia durar três meses ou no máximo um ano. Vai durar três meses.”

“Eu até gosto da ideia [de sabático], mas eu sinto tanto prazer em pensar em coisas novas e em gerenciar equipes para tentar mudar a forma como as coisas funcionam... é o que vamos tentar fazer agora na IBBX”, resumiu.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.